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O corpo de Charlys do Nascimento, 25 anos, foi retirado do carro na madrugada de ontem | Paulo Fonseca/EFE
O corpo de Charlys do Nascimento, 25 anos, foi retirado do carro na madrugada de ontem| Foto: Paulo Fonseca/EFE

Fiscalização

Gestão municipal procura por erros nas vistorias da obra

Folhapress

A obra do viaduto dos Guararapes estava na fase de retirada de escoras havia alguns dias, segundo o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, José Lauro Terror. Ele não eximiu a prefeitura da responsabilidade por eventuais erros que levaram à queda da estrutura, localizada na zona norte da cidade, mas afirmou que todos os itens de fiscalização a cargo do poder municipal foram cumpridos e anotados.

"Estamos em etapa de identificação da causa do problema. A responsabilidade é solidária de várias entidades e empresas que participaram do processo", completou o secretário. Conforme a polícia, o laudo pericial deve ser concluído em 30 dias.

Sobre a retirada das escoras, José Lauro disse que era uma etapa técnica prevista em cronograma e que os serviços de fiscalização da Sudecap, empresa municipal vinculada à Secretaria de Obras e Infraestrutura, são bastante "complexos" e exigem preenchimentos de diários de obras, nos quais tudo é anotado e registrado.

  • Enterro de Hanna, 24 anos, foi ontem. Família a chama de

O presidente do Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias de Engenharia de Minas (Ibape), Frederico Correa, disse ontem que o afundamento do pilar principal após a retirada das escoras da obra é uma das possíveis causas para o desabamento de parte do viaduto Guararapes que matou duas pessoas e feriu outras 23 na quinta-feira.

O especialista participou das primeiras vistorias feitas pela entidade no local da tragédia. Segundo Correa, o plano de retirada das escoras é um item obrigatório no projeto da obra. Porém, o momento e como isso deve ocorrer dependem de algumas variáveis, como tempo de cura do concreto e a distribuição de cargas na edificação. "Quando a estrutura é retirada, o peso antes distribuído entre os pilares e as escoras é direcionado para o pilar principal. Nesse momento, acreditamos ter havido o afundamento", disse.

Representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-Minas), da Defesa Civil, das polícia Civil e Federal estiveram no local do desabamento para buscar respostas.

Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais, Clemenceau Chiabi, a queda do viaduto também pode estar ligada à fundação da obra.

Engenheiro civil, Chiabi explica que as estruturas superiores do viaduto, as únicas visíveis até o momento, não indicam ter apresentado algum problema que levasse ao desabamento da obra. "O que leva a inferir que o problema vem das fundações. Aí vem as origens possíveis, que seriam causas naturais, uma falha de projeto, uma falha de execução ou uma falha dos materiais que foram utilizados na construção. Essa análise está sendo feita no momento."

Segundo Chiabi, existem dois tipos de sustentação para um viaduto: o de carga de fundo e o de atrito lateral. No primeiro caso, "a estaca se apoia em alguma rocha ou em terreno muito duro, e suporta pelo fundo. Se ela se apoiar em cima de uma rocha muito firme, basta o apoio dela na rocha, não precisa considerar o atrito".

Quando se usa o atrito lateral, caso do viaduto de Belo Horizonte, a estaca é "mais profunda e mais larga. Por atrito do próprio concreto com o terreno, calcula-se qual o comprimento dessa estaca é necessário para dar o atrito necessário que vai suportar aquele peso". "O terreno determina o tipo de estaca", afirma Chiabi.

Acidente

O viaduto desabou por volta das 15 horas de quinta-feira e atingiu quatro veículos que passavam pela Avenida Pedro 1.º. Além da condutora de um ônibus, o motorista de um carro que passava pelo local também morreu no acidente. Charlys Frederico Moreira do Nascimento, 25, estava sozinho no veículo.

A obra da prefeitura integrava uma das linhas do BRT (via rápida de ônibus) criadas para a Copa, e foi financiada pelo governo federal, por meio do PAC da Copa.

Motorista do ônibus tentou salvar a filha

Folhapress

A família de Hanna Cristina Santos, 24 anos, motorista do micro-ônibus, que morreu na queda do viaduto Guararapes afirmou que a jovem foi uma heroína e tentou salvar a filha durante o desabamento. Para os familiares, ela evitou que mais pessoas morressem no acidente.

A filha da motorista, Ana Clara, de cinco anos, estava no micro-ônibus, perto da mãe. Segundo Tereza Cristina Santos, também irmã de Hanna, no dia do acidente foi a sobrinha quem pediu para acompanhar a mãe no ônibus. "Ela é muito grudada com a Hanna", disse.

Ana Clara também se feriu, na testa, mas passou por exames e teve alta ontem, pela manhã.

"Ela viu o viaduto caindo e freou o ônibus, jogando para o lado dela. Coisa de mãe, para salvar a filha. Se não fosse o reflexo dela, muita gente teria morrido", disse Tiago Carlos Santos, irmão de Hanna, durante o velório dela. A mulher dele, Débora Nunes, trabalha como cobradora no ônibus da família e também estava no veículo no momento do acidente.

"Minha mulher disse que deve a vida à Hanna", afirmou Tiago, que chamou a irmã de heroína. Débora foi ao velório em uma cadeira de rodas. Ela teve um corte profundo na cabeça e sofreu uma lesão grave no maxilar – e precisará ser operada. Muito abalada, não falou com a imprensa.

O pai de Hanna, José Antonio Santos, não consegue acreditar que a filha está morta. "Alguns minutos antes, ela me ligou e pediu a bênção. A minha filha era muito doce, uma menina alegre. Ela amava a profissão e foi uma heroína".

José Antonio diz que considera a neta como uma filha e que a criança deve ficar com os avós.

A mãe de Hanna, Analina Santos, estava revoltada. "Estão dizendo nos jornais que a construtora está prestando toda a assistência. Não está nada, é mentira! Não tem ninguém dessa construtora aqui, ninguém nos procurou", contou ela.

Em que medida o poder público (governo federal e prefeitura), que licitou e pagou pela obra, é responsável pela queda do viaduto? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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