Para dois curitibanos, passatempos como palavras-cruzadas, jogo dos sete erros e ligue os pontos são muito mais do que descontração e diversão para as horas vagas. Eles têm um compromisso com esses desafios. Os amigos Daniel Martin e Guilherme Marques dos Santos Silva, ambos com 33 anos, fazem parte da equipe que representou o Brasil no Campeonato Mundial de Passatempos por dois anos consecutivos (2005 e 2006) – único grupo da América Latina nas duas últimas competições.

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A dupla nega que esteja se profissionalizando na resolução de passatempos e explica estar se especializando no assunto. "Estamos treinando para competir. Passamos de interessados para entusiastas e divulgadores de puzzles (como os desafios são chamados, em inglês)", afirma Guilherme. "Cada um de nós tem a sua profissão e tínhamos isso como uma forma de diversão nos tempos livres", acrescenta. Daniel é ortodontista e professor de Matemática, além de trabalhar no desenvolvimento de softwares e confecção de materiais didáticos. Já Guilherme é engenheiro civil, matemático e professor.

No ano passado, os dois foram procurados por responsáveis pela revista de passatempos Coquetel para participar do campeonato. "Eles nos encontraram por saberem que somos membros da Mensa (uma sociedade que reúne pessoas com QI altíssimo que passam por um teste para se tornar associados)", contam os competidores. Completam a equipe brasileira o administrador de empresas Ricardo Daniel Kossatz, de Ponta Grossa, e o engenheiro eletrônico Carlos Eduardo Rodrigues Alves, de São Paulo.

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As diferentes nacionalidades dos participantes determinam os tipos dos desafios propostos na competição internacional. Os passatempos são, na maioria, numéricos e com regras bem definidas. Palavras-cruzadas não fazem parte das provas. "Os puzzles são isentos da influência de linguagem e de cultura", afirma Guilherme. Os competidores não se beneficiam por terem conhecimento de um determinado idioma ou de uma certa cultura. Os jogos requerem aguçado raciocínio lógico. Neste caso, as palavras-cruzadas perdem o primeiro lugar no ranking para o jogo conhecido como "sudoku" – número único, em japonês (conheça as regras e faça um teste nesta página).

Para isso, a alternativa dos "atletas" é exercitar. "Chegamos a treinar de duas a três horas por dia antes do campeonato", lembra Guilherme. "Para o jogo dos erros desenvolvemos uma técnica bem estranha. Cada olho fica em uma figura e, quando sobrepomos o que enxergamos, as diferenças parecem piscar", revela Daniel. "Não é nada fácil quando se começa do zero. É um nível muito alto", conta Guilherme.

Um dos principais desafios para os brasileiros é a tradição que alguns dos países têm no desenvolvimento dos desafios de lógica. "É uma coisa impressionante a velocidade com que equipes de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão resolvem os passatempos", descreve a dupla. "O nosso objetivo deste ano era não ficar em último lugar, como no ano passado. Ficamos em penúltimo", comemora Guilherme. Agora, o Brasil se prepara para sediar o campeonato de 2007, no Rio de Janeiro.

Benefícios

Os professores contam que têm usado alguns desses desafios em sala de aula e percebem o desenvolvimento dos alunos. Além de serem uma forma saudável de diversão, esses passatempos exercitam a memória e a inteligência lógica. "Temos notado bons resultados. É legal ver que a capacidade de argumentação dos alunos também melhora", afirmam. De acordo com o médico neurologista Pedro André Kowacs, do Instituto de Neurologia de Curitiba, esse tipo de atividade mental estimula o desenvolvimento de novos contatos nas células do cérebro e retarda o surgimento e a evolução de doenças que afetam a memória. "Ganhamos um preparo mental melhor depois que começamos a treinar para o campeonato", conta Guilherme.

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