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Durante as férias, hospitais universitários como o HC reduzem os postos de atendimento por causa da falta de médicos residentes | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Durante as férias, hospitais universitários como o HC reduzem os postos de atendimento por causa da falta de médicos residentes| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A longa espera de Marisa

Ao se deparar com a fila para consultas com médico especialista, a empregada doméstica Marisa Cosmo do Nascimento, 32 anos, chega à conclusão de que é difícil encontrar alguém que já não tenha passado por isso ao buscar a rede pública de saúde. E ela tem alguns casos domésticos para exemplificar. Marisa e as duas filhas já precisaram de consultas e tiveram de esperar até dois anos na fila. Quando estava grávida, precisou fazer uma ecografia, que demorou dois meses para sair. Quando chegou sua vez, a filha já tinha nascido.

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Quem precisa de exame ou consulta com algum médico especialista da rede municipal de saúde em Curitiba deve ser preparar para uma espera que varia de uma semana a três anos, conforme a especialidade ou urgência. Enquanto a fila para uma cirurgia pediátrica geral não excede uma semana, o tempo dos casos sem urgência chega a 40 meses. Para a prefeitura, pelo menos 30% dos pacientes não precisariam estar na fila e cada espera tem uma causa, que nem sempre depende do poder público. Os hospitais universitários, caso do Hospital de Clínicas, também enfrentam problemas com filas no período de férias (leia mais na página 6).

Melhorar o atendimento está entre os desafios. O secretário municipal de Saúde, Luciano Ducci, anunciou no fim do ano que diminuir o tempo de espera era prioridade para 2009. "As prioridades são baixar o tempo de espera nas unidades de saúde e a fila para consulta com especialista, que em alguns casos chega a até seis meses, como neurologia e ortopedia. Pretendemos fazer isso com a ajuda de mutirões, aumentando a oferta de serviços e melhorando a gestão de encaminhamento", afirmou.

Porém, o problema de filas continua. Uma das maiores esperas, conforme dados de janeiro, é pelo exame de laringoscopia direta (observação visual da laringe), procurado por professores com problemas nas cordas vocais. A média de espera pelo atendimento é de 40 meses. Segundo a diretora do Centro de Assistência à Saúde da prefeitura, Ana Luiza Schneider, a demora acontece porque o Sistema Único de Saúde (SUS) remunera mal o profissional que faz o exame. Com a implantação da laringoscopia feita por vídeo, Ana Luiza garante que a fila diminuirá.

Já quem reclama de dor nas costas esperará nove meses, em média, para uma consulta de ortopedia da coluna. "É uma doença comum e aumenta nossa fila", diz a diretora. Segundo ela, muitos pacientes que estão na fila poderiam ser tratados na unidade de saúde. Ela alega que não se trata de caso urgente e aponta motivo semelhante para a espera por uma cirurgia plástica reparadora, que está em oito meses: "A maioria é questão estética. O paciente queimado do Hospital Evangélico, por exemplo, é a própria instituição que encaminha para a cirurgia".

Soluções

Para uma consulta na área de endocrinologia geral, a espera média é de quatro meses. A gestora aponta que a fila é composta por mulheres obesas que já se consultaram, mas não mudaram o comportamento alimentar. Já na neurologia geral, em que a espera é de quatro meses, o motivo seria a existência de pacientes com uma reclamação simples de dor de cabeça. "Já a fila da neurocirurgia, para quem tem gravidade, é de 14 dias", aponta Ana Luiza. Ela explica que toda vez que o paciente está doente, procura um especialista. "Fizemos mutirão na neurologia e um monte de gente não precisou fazer nada."

Uma área que está se tornando problemática é a cardiologia, para a qual aumentou a procura e a espera está em quatro meses. A diretora não vê aumento da gravidade de casos, mas, novamente, muitos pacientes indo para a fila sem sintomas graves. Ao apontar que as filas são formadas por casos em que os pacientes insistem pelo exame, a gestora diz que há pressão do paciente em cima do profissional da unidade de saúde, que acaba cedendo. "Quando o médico se sente pressionado, acaba liberando", afirma. "Vejo que o médico, para não ter atrito, justifica o encaminhamento como pedido do paciente."

Segundo Ana Luiza, as deficiências serão supridas com três medidas: 1) a capacitação dos médicos da rede básica; 2) a possibilidade de a prefeitura enviar o prontuário do paciente a um hospital enquanto ele aguarda o resultado da análise na unidade básica; 3) com o investimento em ações preventivas. Além disso, continuarão os mutirões para agilizar o atendimento, para diminuir a espera, incomum em outras especialidades.

Quem busca por uma cirurgia pediátrica geral fica na fila sete dias, assim como o paciente de uma cirurgia pediátrica do aparelho digestivo, em que o tempo médio de espera não ultrapassa dez dias.

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Interatividade

Se as pessoas que não precisam de exame e consulta saíssem da fila, o problema estaria resolvido?

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