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manifestações de 7 de setembro
Manifestantes pró-governo participam de ato na Esplanada dos Ministérios.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

As manifestações de 7 de setembro têm sido chamadas pela esquerda brasileira de “atos antidemocráticos”. Seus participantes, por sua vez, foram classificados como “fascistoides” por figuras esquerdistas. “Não foi o povo que foi às ruas – foram os fanáticos”, disse o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) ao jornal britânico The Guardian.

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Mas a narrativa propagada por personalidades da esquerda e alguns meios de comunicação foi, ao menos em parte, contrariada por relatos, fotos e vídeos de quem esteve nos protestos. A alta adesão popular e o caráter pacífico das manifestações ficaram evidentes ao longo do dia.

“Paulista lotada com as cores da bandeira, nenhum tumulto ou agressividade! O que há de antidemocrático? Esses brasileiros não merecem ser ouvidos? Atos pacíficos ocorrendo em todo o Brasil! Por mais que se esforcem, não vão colar a pecha de antidemocráticas nessas pessoas”, comentou a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), de São Paulo.

Para o especialista em oratória Fabio Blanco, o uso de palavras-chave e adjetivos da moda para deslegitimar a direita é um recurso estratégico a que a esquerda têm recorrido com particular frequência nos últimos tempos. “Eles têm usado uma tática de criar adjetivos, como ‘antidemocrático’. Você usa um adjetivo e já parte de uma conclusão sobre essas pessoas”, afirma.

Segundo Blanco, a excessiva adjetivação é especialmente grave no caso de meios jornalísticos. “Deixa de ser notícia. Eles não estão noticiando os fatos. Estão usando os fatos para emitir conclusões e juízos de valor”, diz.

A contradição entre aquilo que se diz e o que se vê, para ele, é sintomática do desespero de um grupo que “se acostumou a ter o monopólio da narrativa”. “A narração dos fatos é exatamente contrária àquilo que estamos vendo, como dizer que o público é pouco quando estamos vendo a rua lotada”, afirma Blanco.

Nas redes sociais, um grande número de pessoas criticou o título de “atos antidemocráticos” para as manifestações de 7 de setembro. Blanco observa que é cada vez mais difícil na internet emplacar narrativas pouco fiéis à realidade, já que, pouco a pouco, cresce uma atitude de alerta em relação às informações que circulam. “As pessoas, conforme vão se acostumando com a linguagem imediata da internet, com suas verdades e mentiras, são cada vez mais capazes de filtrá-la”, diz.

Postura antidemocrática não define manifestações de 7 de setembro, diz sociólogo

Para o sociólogo Lucas Azambuja, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Belo Horizonte, a palavra “democrático” virou uma espécie de “selo de sinalização de virtude” na sociedade, e o seu oposto serve para "demonizar" adversários políticos.

Ele observa que a postura antidemocrática não define as manifestações de 7 de setembro, que reuniram múltiplas causas – inclusive a bandeira da liberdade de expressão, que é um pilar do regime democrático.

“É óbvio que, em um movimento tão complexo e tão grande como foi o do 7 de setembro, você vai ter pessoas de todo tipo. Vai ter pessoas que defendem, de fato, intervenção militar e coisa do tipo, e outras que estão simplesmente expressando seu apoio ao presidente ou, também, contra a tentativa que está ocorrendo de criminalizar a posição conservadora no Brasil”, afirma.

Para ele, nem sequer a defesa do presidente Bolsonaro pode ser vista como a causa dominante das manifestações. “Vejo o Bolsonaro muito mais como consequência do que causa de algo. Qual é a causa? A causa é que, desde 2013, começou um processo de formação, digamos assim, de uma mentalidade conservadora por parte de um segmento bastante significativo da população brasileira, que não se identifica mais com os discursos políticos hegemônicos no Brasil desde 1988”, avalia.

Para Azambuja, os presentes nos protestos de 7 de setembro fazem parte justamente desse grupo que começou a emergir em 2013 no Brasil, de pessoas que “defendem pautas familiares, cristãs, antiaborto, pró-armamento civil, do combate duro à corrupção, da preocupação de o Brasil virar uma Venezuela”.

O desdém com que parte da elite intelectual trata essas pessoas, segundo o sociólogo, pode aumentar a tensão social no Brasil, criando uma estigmatização desse grupo e “um tensionamento que invada as relações pessoais, cotidianas”.

“Há uma série de desinformações e mentiras em torno desse grupo que saiu no dia 7. A maior delas é que se tratam de fascistas, pessoas radicais, nazistas…”, diz. “Você pode criar um clima de desumanização do grupo, e isso pode abrir espaço para a violência e a repressão organizada contra essas pessoas”, ressalta.

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