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Marcão vibra após marcar diante do Ceará | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Marcão vibra após marcar diante do Ceará| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Em dezembro de 1883, o fotógrafo alemão Adolfo Volk – instalado em Curitiba desde 1881 – gravou uma vista da cidade feita do descampado do Alto da Glória em direção ao sul. A urbe de então não passava de largas propriedades às margens do Rio Belém. Entretanto, distante na paisagem, destacava-se a imagem de uma construção baixa e longa, cuja brancura sobressaía ao longe. Era o prédio da Estação da Estrada de Ferro de Curitiba, que seria inaugurada dois anos depois.

Com o início do funcionamento dos trens entre Paranaguá e Curitiba, a capital foi se modificando; surgiram novas ruas e prédios. O movimento de passageiros perpetrou o surgimento das linhas de bondes de mulas; além de hotéis e pensões na redondeza, inclusive os indefectíveis bordéis. O curitibano já podia se deliciar com os peixes, camarões e caranguejos que subiam a Serra desde o Litoral para enriquecer os cardápios do planalto.

Hoje a velha estação não passa de uma fachada morta, onde começa, ou termina, a Barão do Rio Branco, antiga Rua da Lyberdade. A plataforma onde estacionavam os comboios hoje é uma passarela por onde circulam a clientela das lanchonetes e os curiosos em ver as vitrines das boutiques. A azáfama dos passageiros em adentrar os vagões, o aviso de partida do sino, o apito da Maria-Fumaça resfolegando em sua arrancada, nada mais disso é visto ou ouvido e também pouco lembrado.

Dali, em maio de 1894, partiu para o fuzilamento o Barão do Serro Azul e seus companheiros. Em 1912 embarcou João Gualberto comandando a tropa da Polícia para combater os fanáticos do Contestado. Embarcou vivo e audaz... Desembarcou, abaixo de prantos, na urna funerária. Em 1930 Getúlio Vargas faz ali a sua parada, junto aos demais revolucionários, com destino ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em 1944 embarcaram os Expedicionários para combater na Itália; a partida foi sob lamúrias. A volta deles (nem todos) em 1945 aconteceu abaixo de grande celebração do povo curitibano.

Durante os 90 anos de sua história, enquanto esteve ativa, a velha Estação deu vida ao seu entorno: partidas e chegadas, cargas e descargas, tudo por ali passou. Montanhistas com destino ao Maciço do Marumbi, fiéis indo pagar suas promessas no Rocio, pescadores com destino ao Rio Iguaçu, nas estações de Guajuvira e General Lúcio. Era dali que todos partiam, quer para leste, oeste, sul ou norte; através dos trilhos da Estrada de Ferro.

Hoje a vetusta Estação de Curitiba mais parece um mausoléu que prende em seu interior centúrias de fantasmas clamando para serem extirpados daquele limbo, bradando para que suas memórias não desapareçam da já tão desleixada história da cidade. Que se exponham as imagens de maquinistas, guarda-freios e outros ferroviários. Que se preserve uma verdadeira e veterana Maria-Fumaça. Que se preserve, pelo menos, um sonoro apito de partida do que um dia foi, nos áureos tempos, a porta de Curitiba para o mundo.

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