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Cadeirinhas devem ser mantidas

O risco de assalto, como o do casal de médicos relatado, não é motivo para que as crianças deixem de usar a cadeira de retenção acopladas no banco de trás dos veículos. Conforme explica a coordenadora no Paraná da organização não-governamental (ONG) Criança Segura, Alessandra Françóia, apesar da realidade da violência urbana, as cadeiras são fundamentais para evitar ferimentos graves e mesmo a morte de crianças em acidentes de trânsito. Como argumento, Alessandra cita o índice de 500 mortes de crianças ocupantes de veículos por ano no país. "Esse índice pode ser até cinco vezes maior, pois ele é subnotificado, já que o registro de óbito é feito no local onde há a morte, que muitas vezes é o hospital", ressalta. Ela ainda cita estudos que comprovam que, em um choque a 50 quilômetros por hora, crianças acomodadas adequadamente em cadeirinhas de retenção tem 71% menos chance de morrer do que as que não utilizam o equipamento.

A orientação de Alessandra é para que os pais fiquem atentos à qualidade do equipamento antes de comprá-lo. "A alça da cadeira não pode ser tão fácil de abrir, a ponto da criança se desvincilhar sozinha, e nem tão difícil, a ponto de levar muito tempo em um caso de pânico, como um assalto", ressalta. A orientação é de que crianças de até 4 anos ou de até 18 quilos utilizem a cadeira, e de 4 a 10 anos ou de 18 a 36 quilos utilizem um assento de elevação.

Por volta das 21 horas do último dia 19, um casal de médicos (que prefere não ser identificado) parou no estacionamento de uma farmácia no bairro Alto da XV, em Curitiba, para comprar um colírio. Como a compra seria rápida, o médico optou por ficar no carro com os filhos enquanto a esposa adquiria o medicamento. Poucos minutos após a médica descer, dois assaltantes (um armado) abordaram o marido e, por pouco, não se repete a história do menino João Hélio Fernandes, 6 anos – morto ao ser arrastado pelas ruas do Rio de Janeiro ao ficar preso no cinto de segurança em um assalto em fevereiro.

O médico teve de usar da persuasão para convencer os criminosos a tirar os meninos das cadeirinhas especiais no banco traseiro antes de entregar a chave. "Eles estavam muito nervosos, exigiam a chave do carro e eu dizia que já ia entregar, só queria tirar meus filhos antes", relata. Se não tivesse mantido a calma, além do prejuízo de R$ 30 mil do veículo, a história poderia ter sido diferente. "De agora em diante, esteja onde estiver, não fico no carro quando estiver parado de jeito nenhum e, à noite, só vou comprar remédio pela internet", conforma-se o médico.

O caso ilustra bem um erro de atitude em relação à segurança que acontece tanto por parte do cliente, como do comércio, segundo o coronel da Polícia Militar Roberson Bondaruk, autor do livro A Prevenção do Crime Através do Desenho Urbano, lançado em setembro. Na pesquisa, o oficial aponta como cuidados na execução e reforma de imóveis, além de medidas simples por parte da população, podem evitar crimes. "Segurança pública não se faz apenas com ações policiais, mas com toda a sociedade colaborando", ressalta.

Em relação ao estabelecimento, dois erros graves. Segundo relato do médico, o interior da farmácia, inaugurada recentemente, é bem iluminado. Entretanto, o estacionamento é escuro. "Antes de agir, o criminoso estuda o local. E a iluminação é o principal fator que os afugenta", explica Bondaruk.

Além disso, o estacionamento contava com duas entradas, o que, segundo o coronel, facilita a ação do ladrão, que entra por um lado e sai por outro – exatamente como no assalto ao casal. "O ideal é que haja apenas um local por onde os carros saiam e entrem. Assim o criminoso terá dificuldades para sair e, quando a polícia for chamada, terá mais facilidade para bloquear a saída", argumenta Bondaruk. O coronel afirma que, na execução do projeto, o ideal é que seja previsto o estacionamento nos fundos do estabelecimento, visível ao público que está na loja.

Falsa segurança

Bondaruk aponta que o fato de os clientes utilizarem o estacionamento do comércio cria uma falsa sensação de segurança. Exatamente como ocorreu com o médico. "Como estava no estacionamento da farmácia e minha mulher compraria o remédio em poucos minutos, não me preocupei em sair do carro com as crianças", admite o médico. Uma atitude errada, segundo Bondaruk.

O oficial da PM explica que a pessoa pode até ter a intenção de ser rápida no estabelecimento. Entretanto muitas vezes acaba se lembrando de que tem de comprar outras coisas e ainda enfrenta fila no caixa. "Esse tempo é suficiente para o criminoso agir."

A recomendação, enfatiza Bondaruk, é de que, sempre que possível, todas as pessoas desçam do carro e entrem na loja durante a compra. "Dentro do estabelecimento há iluminação e mais pessoas, o que afugenta o assaltante", explica. Outra dica é tentar procurar estacionar o carro o mais próximo possível da porta do comércio, onde há fluxo de pessoas.

Com relação às crianças, Bondaruk explica que, se houver abordagem, o motorista só deve entregar a chave após retirá-las do veículo, como fez o médico. Entretanto, ao invés de sair do carro para retirar as crianças, como fez a vítima, o ideal é que o motorista ou o passageiro já saia do veículo com as crianças pela porta da frente e que não vá na direção do criminoso, pois, se a polícia chegar, ele pode empurrar a vítima novamente para o carro e partir. "O fato de abrir a porta traseira do veículo já dá tempo do assaltante assumir o volante e partir, podendo levar a criança", argumenta.

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