• Carregando...
Quando o preso consegue fugir, dificilmente será recapturado | Mauricio Borges/Gazeta do Povo
Quando o preso consegue fugir, dificilmente será recapturado| Foto: Mauricio Borges/Gazeta do Povo

"Sociedade está indo para um beco sem saída"

O modelo de encarceramento adotado no Brasil pode explicar parte do problema de o Estado não dar conta de capturar seus fugitivos, de acordo com o sociólogo Pedro Bodê, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "As pessoas consideram que a única forma de combater a criminalidade é encarcerar. Por isso, foi feita a opção pelo encarceramento em massa", explica. "Não há cadeia que dê jeito. Será construída uma atrás da outra e vai faltar dinheiro para escola. A sociedade está indo para um beco sem saída", afirma.

Segundo ele, é necessário que haja uma diferenciação entre os crimes. "A cadeia deveria ser usada só em casos mais perigosos", opina. "Se todos os mandados fossem cumpridos não teria o que fazer com essas pessoas", analisa. Para Bodê, é evidente que a polícia trabalha com uma estrutura precária, tanto para investigar crimes, como para recapturar foragidos.

O sociólogo defende o bom senso. "Temos dois casos dramáticos com envolvimento de foragidos, mas não dá para achar que a concessão de benefícios é errada ou o endurecimento das penas resolva o problema. Não dá para transformar o clamor popular em mais um momento de caça às bruxas e de endurecimento penal", diz.

Para o presidente do sindicato dos agente penitenciários do Paraná, Clayton Agostinho Auwerter, as fugas da Colônia Penal Agrícola poderiam diminuir consideravelmente se os presos recebessem tratamento adequado, enquanto estão no sistema fechado. "Não há reeducação desses presos", diz. Segundo ele, a CPA tem problemas estruturais. "Não acredito que haja conivência de agentes penintenciários nas fugas. É uma área muito grande para patrulhar, um número grande de presos e uma equipe reduzida", diz.

Números oficiais dão conta que a CPA tem cerca de 1,3 mil presos, mas, segundo Auwerter, em 2006, as vagas passaram de 800 para 1,6 mil. O efetivo de agentes penitenciários da unidade foi redividido, passando de três equipes para quatro. "Não houve aumento do efetivo. É um ou outro novato que tem lá", diz. (TC)

80 mil deveriam estar fora da cadeia

Entre os 450 mil presidiários no Brasil, cerca de 80 mil deveriam estar cumprindo penas alternativas, fora das penitenciárias. A avaliação é do secretário executivo do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Ronaldo Teixeira, que participou ontem do workshop Segurança com Cidadania na Execução de Penas e Medidas Alternativas. As informações são da Agência Brasil.

Leia a matéria completa

Os casos de violência contra crianças ocorridos nas últimas semanas em Curitiba revelam um problema preocupante: a falta de um trabalho efetivo do Estado em busca de foragidos e fugitivos. Primeiro foi o caso de Jorge Luiz Pedroso Cunha, 52 anos. Ex-suspeito de estuprar e matar Raquel Genofre, 9 anos, Cunha era foragido da justiça e só foi preso devido à repercussão do caso. Agora, é o caso da Lavínia Rabeche da Rosa, de 9 anos. Assassinada na noite de sábado, há indícios de que ela tenha sofrido violência sexual. O acusado, Mariano Torres Ramos Martins, 45 anos, era foragido do 11º Distrito Policial e da Colônia Penal Agrícola (CPA), mas vivia tranqüilamente em Curitiba.

Há cerca de três meses, no dia 13 de setembro, uma reportagem da Gazeta do Povo já revelava o problema de fugas e evasões da CPA. Em 2007, 1.187 dos 11.209 presos do Paraná ganharam as ruas antes de terminar de cumprir a pena. Desses, 1.095 eram da CPA, o equivalente a 92% dos fugitivos e evadidos do sistema penitenciário paranaense. A falta de estrutura física, o aumento do número de vagas, contingente insuficiente de agentes penitenciários e o próprio sistema de regime semi-aberto podem explicar o problema.

Na CPA, nem as chamadas realizadas a cada duas horas, feitas juntamente com um questionário de perguntas pessoais, têm sido eficazes para impedir as fugas da unidade. Já nas outras unidades do sistema penitenciário paranaense as fugas são menos comuns. Mas, caso o preso consiga ganhar as ruas, dificilmente será apanhado. Os casos recentes de violência contra crianças têm ilustrado a ineficiência do Estado em recapturar seus fugitivos.

Fontes oficiais ligadas ao governo relatam que, na CPA, caso seja constatada a ausência do preso nas chamadas orais ou um atraso maior que 24 horas na volta de uma saída autorizada pelo juiz, a Vara de Execuções Penais (VEP) e a Delegacia de Vigilância e Captura (DVC) são notificadas. No caso das fugas ocorridas em unidades de regime fechado, a VEP e a DVC são avisadas assim que se constata a ausência do preso.

A Polícia Militar é responsável por fazer uma ronda ostensiva nas proximidades das unidades penais. Caso o foragido consiga ultrapassar essa barreira, a chance de que seja capturado diminui. A explicação é uma equação simples. A DVC tem três equipes para trabalhar e 90 mil mandados de prisão para cumprir, 40 mil apenas do Paraná. "É humanamente impossível", diz o delegado titular, Roberto Fernandes. "Mesmo porque temos, por dia, de 100 a 150 mandados e contra-mandados só para cadastrar no sistema", diz.

Segundo Fernandes, em caso de fuga, as equipes da delegacia se dirigem até o endereço do foragido para tentar capturá-lo. "Dificilmente encontramos", admite. "Ou o endereço é falso, ou o cara não vai para lá, ou a família acoberta", explica. As equipes da delegacia também tentam fazer a captura quando recebem denúncias ou em casos de crimes de repercussão, de acordo com Fernandes.

Embora pouco eficaz, esse tipo de método é comum em todo o país, de acordo com o delegado. O mais provável, segundo ele, é que os foragidos "caiam" em uma ação policial eventual, como blitz, barreira policial, revista, entre outros. Fora desses casos, o foragido pode viver tranqüilamente, como era o caso de Martins, que fugiu da CPA em 2001, foi recapturado e levado para o 11º DP, mas ganhou as ruas prematuramente em 2003, novamente. Entre os crimes pelos quais já tinha sido condenado estava o de atentado violento ao pudor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]