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O estilista Wilson Machado começou a mostrar sinais de cansaço da vida em meio ao mundo da moda em 1982, quando percebeu que era vã sua empreitada pelo glamour. Largou a butique que mantinha para viver numa ilha sem energia elétrica e sem conhecidos. "Quando eu vim, era para ficar apenas três meses. Eu tinha em mente que voltaria a trabalhar como estilista", explica Machado. Mas, 23 anos depois de trocar Curitiba pela Ilha do Mel, a vida dele mudou completamente. Ao invés de buscar sua clientela na alta sociedade, agora trabalha em benefício de crianças pobres. E trocou o luxo do mundo das passarelas pelo lixo reciclável.

Machado, hoje com 50 anos, comanda na Ilha do Mel o Projeto Resgate, uma iniciativa destinada a ensinar, para os filhos dos ilhéus, a transformação do lixo reciclável em artesanato – uma possível fonte de renda extra para a família dessas crianças. "Antes eu produzia mulheres. Agora produzo latas", diz Machado. "Encontrei aqui uma liberdade e simplicidade que eu não conhecia. Vivo na ilha e é um paraíso. Mil vezes trabalhar com pobre do que com a elite. Falo isso sem rancor, com orgulho".

Duas tardes por semana, cerca de 15 crianças se reúnem com Machado na Associação dos Moradores da Ilha do Mel para aprender técnicas de colagem e fabricação de artesanato com material reciclável. Latas de tinta, de óleo e de molho de tomate viram porta-trecos e caxepôs (enfeite para vasos). "Eu poderia cobrir as peças com guardanapo francês, mas essa não é a proposta. Usamos materiais reciclados e da natureza da ilha", explica ele. A idéia de usar material reciclável já vem desde a época de estilista. Em suas confecções, Machado usava principalmente retalhos.

Para o próximo ano, o estilista pretende fazer um convênio com as escolas da ilha e da região para o ensino do artesanato. "Também será uma forma dessas crianças ganharem uma pequena renda e valorizarem o trabalho", afirma Machado.

Enquanto o ano que vem não chega, porém, o estilista encerra 2005 comemorando os sucessos do Projeto Resgate. No último sábado, em um coquetel na sede da Associação de Moradores da Ilha, Wilson mostrou os resultados do projeto a alguns empresários. "Este ano tivemos apoio do governo, mas estou buscando parcerias com a iniciativa privada", diz. "O dinheiro do governo é uma ilusão e dá muitos problemas". Para evitá-los, Machado pretende sensibilizar empresas ligadas ao meio ambiente e às artes a apoiar seu projeto social.

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