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Estudantes mantêm a ocupação nesta quarta-feira (11) do prédio da escola estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, em protesto à reorganização feita pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) nas escolas da rede.

Do lado de fora, cerca de 50 pessoas ligadas a movimentos sociais, como o MPL (Movimento Passe Livre) e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) chegaram por volta de 20 horas de terça (10) para uma vigília. No local, foram colocadas faixas com frases: “A escola é nossa”, “Não a desestruturação”.

Parte do grupo dormia em barracas e colchões colocados na rua ou deitados no chão. Enquanto outros, tentavam se manter acordados por volta das 3h cantando músicas ou jogando futebol.

Durante a madrugada, carros da Polícia Militar fizeram ronda em frente à escola, mas não houve confronto com os manifestantes.

Ocupação

Cem adolescentes chegaram à escola por volta das 7 horas de terça (10). Entraram e trancaram os portões com correntes e cadeados. Eles levaram comida e água e diziam ter autorização dos pais para ficar no colégio “bastante tempo”, até o governo mandar um representante que os ouvisse.

No entanto, por volta da meia-noite um pai se agarrou ao portão da escola e começou a chamar a filha aos gritos.

“Atrevida. Você vem comigo!”, vociferou o motorista Francisco Gonçalves à filha do 3º ano do Ensino Médio, uma das cerca de cem estudantes que ocupavam o colégio desde o início da manhã de terça (10).

O diálogo se deu no portão - ela do lado de dentro, ele do lado de fora, cercado por policiais militares. Manifestantes assistiam curiosos à discussão.

A menina resistiu por 15 minutos. Depois, cedeu à súplica dos pais e, sob aplausos, deixou a escola. “Meus pais são muito conservadores”, explicou a irmã de Fabíola, que os acompanhava.

A todo, 94 unidades deixarão de funcionar para dar lugar a atividades como creche e ensino técnico; 754 passarão a atender apenas um dos três ciclos de ensino (fundamental 1 e 2 e médio).

A Fernão Dias Paes terá só o nível médio a partir de 2016. Segundo a secretaria de Educação, 213 alunos do fundamental serão transferidos para a escola Godofredo Furtado, a cerca de 1,5 km.

Polícia e confusão

Primeiro chegou a Polícia Militar, em oito carros. A escola foi cercada. Ninguém conseguia entrar. Outros alunos, pais, professores e membros de sindicatos ficaram de fora.

A diretora, que fez boletim de ocorrência por dano ao patrimônio, já havia sido retirada pelos jovens logo cedo, segundo Rosangela Valim, dirigente de ensino da região.

“Somos a favor de todas as manifestações e as consideramos legítimas. [Mas] Esse grupo não quer diálogo e está prejudicando os alunos”, disse.

Às 16h, a PM tentou levar duas garotas à delegacia para que elas participassem do registro do boletim de ocorrência. Estudantes e pais pediram que elas fossem liberadas -o que acabou ocorrendo-, e houve tumulto. A polícia usou cassetetes.

Para cansar os alunos, a água do colégio então foi cortada. Mesmo assim, em assembleia, eles decidiram passar a noite lá. Minutos depois, a água voltou.

Por volta das 20h, cerca de cem estudantes continuavam dentro do colégio. Mãe de um deles, Rosália Jesus dos Santos tentou entregar comida ao filho. Levou um saco com pão, requeijão, iogurte, escova de dente e pasta, mas os policiais impediram que ela jogasse os mantimentos para o outro lado do portão.

Rosália disse que não sabia do protesto até o filho, de 17 anos, ligar avisando. “Na cabeça deles, o protesto resolve, mas eu não sei se resolve, não...”, lamentou.

Sem detalhar, a polícia informou que havia cinco adultos junto com os adolescentes na escola, inclusive gente que não trabalha ali.

Outro lado

A secretaria estadual afirmou que a escola estadual Fernão Dias vai atender apenas alunos do ensino médio a partir de 2016. Hoje, há cerca de 213 alunos do ensino fundamental que serão migrados para a escola Goldofredo Furtado, a cerca de 1,5 km da escola atual. A pasta não confirma a mudança de alunos do ensino fundamental do período da tarde.

A dirigente regional do centro-oeste, Rosangela Aparecida de Almeida Valim, afirmou que uma parte dos alunos com camisetas da escola invadiram o local e retiraram a diretora e sua equipe por volta das 7h. Ela disse ainda que há alunos de outros colégios, inclusive de ensino particulares, e outras pessoas que nem sequer são estudantes participando do protesto.

Sobre a reclamação dos alunos de que não foram ouvidos pela dirigente, ela afirmou que houve um encontro na última quinta (5) no qual foi explicado como seria o processo de reorganização dos ciclos e para onde os alunos seriam transferidos.

Valim confirmou que a diretora da escola registrou um boletim de ocorrência contra danificação do patrimônio público. “Somos a favor de todas as manifestações e as consideramos legítimas. Só que vivemos em um estado democrático de direito e que precisa ser respeitado. Esse grupo que ocupa o local não quer diálogo conosco e estão prejudicando os alunos”, disse a dirigente.

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