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Dendê teria vantagens sobre soja

O estudo de David Lapola também toca no debate so­­bre qual planta será a melhor para produzir biodiesel. Segundo o trabalho, quase toda a pressão que a soja produziria sobre a mata seria eliminada caso o combustível fosse trocado pelo de dendê.

"Para atender a mesma demanda de biodiesel, o dendê requer área menor, porque produz mais", explica Lapola. "E ajudaria a promover a agricultura familiar e de pequena escala, sobretudo no Nordeste." No governo, porém, essa ideia encontra resistência. "A única oleaginosa que tem escala agora no Brasil para poder baixar o preço do biodiesel é a soja", diz Suzana Kahn Ribeiro.

São Paulo - Ao aumentar a produção de biocombustíveis para substituir o petróleo, o Brasil pode dar grande contribuição para o mundo reduzir as emissões de gases-estufa, mas essa política pode acabar sendo um tiro pela culatra, indica um novo estudo. Se a tendência atual de mudanças no uso da terra continuar, plantações de cana-de-açúcar e soja tomarão o lugar de pastagens, e estas serão empurradas para áreas de floresta, desmatando e emitindo carbono.

Isso é o que indica uma projeção feita pelo ecólogo paulista David Lapola, da Universidade de Kassel (Alemanha), autor principal de um estudo publicado ontem na revista PNAS. Segundo ele e seus co­­autores, se o Brasil cumprir seu objetivo para 2020 – aumentar em 35 bilhões de litros a produção de álcool e em 4 bilhões de litros a de biodiesel de soja –, essas duas culturas empurrariam as pastagens para cerca de 60 mil km2 de floresta, desmatando uma área maior do que a Paraíba.

Segundo os cientistas, a troca de petróleo por biocombustível levaria 250 anos para compensar as emissões desse desmate. As conclusões de Lapola e de seus colegas saíram da projeção de uma tendência que já se verifica. "Iden­­tificamos quais seriam as mudanças diretas de uso da terra, e a maioria era biocombustível tomando lugar de pasto", explica Lapola. "As mudanças indiretas eram o gado que estava naquele espaço sendo realocado em outras regiões, sobretudo Amazônia e cerrado."

Especialistas afirmam que o es­­tudo do ecólogo é consistente, mas sua conclusão é polêmica. Para o físico Rogério Cezar de Cerque­ira Leite, especialista em política energética, o artigo tenta "assegurar que na distribuição internacional do trabalho [agricultura] o Brasil se mantenha como produtor de alimento barato". "Se esse alerta pretende criar desconfiança em relação a nossos produtos, acho ruim, principalmente agora que os EUA acabam de reconhecer o etanol brasileiro como um combustível avançado", acrescenta Suzana Kahn Ribeiro, secretária nacional de Mudança Climática.

Lapola explica que seu trabalho não deve ser visto como uma profecia incontornável, mas como um dado a partir do qual planejar ações. Segundo ele, se a produtividade do gado tiver um pequeno au­­mento – de 0,09 cabeças por hectare para 0,13 –, o problema po­­deria ser contornado. A recuperação de pastos degradados e abandonados também ajudaria. Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, essas mudanças já es­­tão acontecendo. "Nos últimos 20 anos a área de pastagem diminuiu, e a produção de carne aumentou."

Lapola, porém, defende que o governo atue para fomentar a produção intensiva. "Muitos subsídios hoje vão para aquisição de animais, manutenção da infraestrutura e várias outras coisas, mas pouco vai para incentivar o au­­mento da intensidade da criação ou a recuperação das pastagens."

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