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Veja como foram feitas as medições do sol, com mais exatidão |
Veja como foram feitas as medições do sol, com mais exatidão| Foto:
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De Ponta Grossa para o Havaí

Desde 2004, o pesquisador brasileiro Marcelo Emílio (foto) passa temporadas de três meses no Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, nos EUA. Neste ano, a estadia é maior porque ele cursa um pós-doutorado na instituição. Graduado em Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ele conta que entrou numa das primeiras turmas do curso, que não tinha uma estrutura adequada. As constantes visitas à Universidade de São Paulo (USP) o motivaram a ampliar seus estudos na área da Astronomia. Fez mestrado, doutorado e pós-doutorado na instituição paulista. A oportunidade de ir para o Havaí surgiu de um convênio entre a UEPG, onde ele já era professor, e a instituição americana.

65 km

É a margem de erro do estudo feito pelo Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí que calculou o diâmetro solar com base em informações coletadas pelo satélite Soho a partir da passagem do planeta Mercúrio entre a Terra e o Sol.

O Sol é ligeiramente maior do que se pensava. A descoberta é resultado de uma pesquisa desenvolvida por três cientistas norte-americanos e um brasileiro – o astrônomo Marcelo Emílio, diretor do Observatório Astronômico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), nos Campos Gerais. O grupo calculou o diâmetro do Sol com base em estudos feitos no Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí (Ifa-UH), nos Estados Unidos. Emílio e os pesquisadores Jeff Kuhn e Isabelle Scholl, ambos do Ifa-UH, e Rock Bush, da Universidade de Stanford, analisaram o tempo de passagem (ou trânsito, no jargão da astronomia) do planeta Mercúrio em frente do Sol por meio da poderosa lente do telescópio do satélite artificial Soho (Observatório Solar e Heliosférico).

Eles chegaram a um diâmetro solar de 1.392.684 quilômetros, a medição mais precisa feita até hoje. A margem de erro é de apenas 65 quilômetros. O Soho está localizado fora da atmosfera terrestre, a cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra – assim, as imagens geradas não contêm névoas que possam interferir na visualização. Medições anteriores, feitas com telescópios terrestres, atribuíam, em média, valores um pouco menores do que esse ao diâmetro do Sol.

O resultado foi obtido através de cálculos feitos em dois momentos: 7 de maio de 2003 e 8 de novembro de 2006. Nessas duas datas, Mercúrio esteve entre a Terra e o Sol. Como ele é bem menor que o nosso planeta, mesmo com instrumentos ópticos, só é possível ver um pequeno ponto passando em frente do Sol. "Ele não tem a capacidade de encobrir o Sol, então não podemos dizer que se trata de um eclipse, como a Lua consegue fazer. Por isso chamamos de trânsito", explica Emílio. Os trânsitos de Mercúrio acontecem entre 13 e 14 vezes por século, sempre nos meses de maio e novembro.

Em 2003, o planeta levou 5 horas e 24 minutos para passar pelo Sol, enquanto que o trânsito de 2006 levou pouco menos de 5 horas. "Basicamente, o tempo que Mercúrio leva para cruzar o Sol nos dá o valor do diâmetro do astro", afirma o pesquisador. Segundo ele, nos dois eventos, o tempo que o planeta levou para passar pelo Sol diante da Terra foi maior do que os constatados pelas medições anteriores, feitas com telescópios da superfície terrestre.

Mas estaria o Sol aumentando de tamanho? Para Emílio, não há motivo para preocupação. "Isso não significa que o Sol esteja se expandindo. Ele tende a concentrar toda a matéria que está em volta dele, mas existe um equilíbrio entre as forças internas e externas. A gente procura pequenos desvios nesse equilíbrio. Se houvesse variações significativas não existiriam formas complexas de vida na Terra", tranquiliza.

Superfície

Satélite também monitora alterações no brilho da estrela

Além de facilitar o cálculo do tamanho, o satélite Soho oferece uma boa visualização das mudanças na superfície solar. A cada 11 anos, o Sol passa por um ciclo onde se alternam períodos de baixa e alta atividade eletromagnética. Essas variações também alteram a quantidade de manchas na superfície. No pico de um ciclo, o Sol sofre uma variação de 1% no seu briho, aproximadamente.

"Há mudanças no brilho, mais bruscas, cuja radiação pode afetar os celulares, a televisão e até mesmo as hidrelétricas", afirma o astrônomo Marcelo Emílio. Ele lembra que, entre agosto e setembro de 1859, um intenso pico solar provocou uma tempestade que destruiu diversas linhas telegráficas nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Uma explosão solar, de menor intensidade, também afetou as comunicações e motivou desvios nas rotas de alguns voos no início do mês passado. "Não é possível prever uma grande variação ou um explosão, mas, uma vez identificada, pode-se informar a ocorrência aos órgãos competentes de imediato, para que tomem providências", explica.

A radiação provocada por uma explosão solar leva entre uma e duas horas para chegar à Terra. Já as partículas podem levar alguns dias e, quando se aproximam do nosso planeta, provocam tempestades eletromagnéticas de intensidade variável.

Planeta

Nova pesquisa usará o trânsito de Vênus como referência

O Soho é resultado de um projeto conjunto da Nasa e da Agência Espacial Europeia (Esa). O satélite foi lançado ao espaço em dezembro de 1995 com o objetivo de estudar a superfície e a estrutura do Sol. Segundo o astrônomo Marcelo Emílio, os resultados da pesquisa serão publicados na edição de maio deste ano da revista Astrophisical Journal.

Ele afirma que, numa próxima etapa, o estudo do diâmetro solar será feito a partir do trânsito de Vênus pelo satélite SDO (Observatório Solar Dinâmico), da Nasa, lançado em fevereiro de 2010. "Esperamos chegar a um resultado ainda mais preciso, já que o SDO tem capacidade de gerar imagens maiores, mais definidas, uma a cada quatro segundos, enquanto o Soho gera uma por minuto", diz. O satélite SDO está localizado a 35.680 quilômetros da Terra.

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