Desrespeito
Em depoimento, jovens acusam a polícia de agir com agressividade
"Eles [policiais] não respeitam os adolescentes, principalmente os meninos. A gente vê, eles chegam batendo nos adolescentes e jovens", conta uma estudante que participou da pesquisa realizada pelo Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha).
A violência policial é um dos comportamentos mais graves apontados pelos jovens que moram em áreas de risco. "Os piá [s] estão andando de boa na rua daí eles [policiais] pegam [e] já enquadram os piá [s]", diz uma jovem. A afirmação exemplifica uma atitude bastante comum entre alguns setores da polícia de Curitiba e região metropolitana.
Abusos
Há outros cem depoimentos semelhantes, que agora serão encaminhados para o Ministério Público para que o órgão abra uma investigação sobre os fatos relatados. Um rapaz conta que uma vez apanhou na frente da mãe e foi pisoteado por policiais.
O levantamento mostra que os jovens são vítimas não apenas de violências físicas, mas também psicológicas.
"Uma vez eu tava andando de boa com um amigo meu [...] era onze horas da noite e daí nois ganhamo enquadro [foram abordados pela] da Rotam. Eles pegaram e fizeram a namorada [do amigo] tirar a roupa inteirinha lá no campo", afirma um jovem. Outros estudantes contam sobre homicídios decorrentes de supostos autos de resistência: "A polícia não atua bem. A polícia mata uma pessoa e fala que trocou tiro".
Envolvimento com drogas, violência policial, falta de espaços de lazer, escolas precárias e violência doméstica. Esse é o cenário que emerge de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha) com cem jovens que moram em áreas da periferia de Curitiba e de seis municípios da região metropolitana. As histórias foram agrupadas no livro Juventude, violência, cidadania e políticas públicas em Curitiba e região metropolitana, e o resultado do levantamento será apresentado hoje na Câmara Municipal de Curitiba.
"É a primeira vez que um estudo deste tipo é realizado e o cenário que emerge é aterrorizante", afirma o presidente do Iddeha, Paulo Pedron. Durante um ano, um grupo de professores e pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) entrevistou cem estudantes, entre 16 e 24 anos de idade, de 11 escolas estaduais em Curitiba, Almirante Tamandaré, Araucária, Colombo, Pinhais, Piraquara e São José dos Pinhais.
"A percepção que eles têm diariamente é de que o tráfico de drogas não é combatido pelo estado e que a polícia costuma agir de forma violenta e fora da lei. Não é por acaso que entre os cem entrevistados não haja um jovem que faça um elogio à polícia", diz.
Nos depoimentos, os estudantes contam a realidade com a qual convivem diariamente: falta de espaços de lazer, escolas em condições precárias, envolvimento em brigas, abuso de álcool em família e atos de bullying contra negros e homossexuais. Quase todos os jovens tiveram parentes próximos vítimas de homicídio, ou ao menos sabem de um conhecido que foi assassinado.
Segundo Cézar Bueno de Lima, um dos professores que acompanhou a pesquisa, essas questões jamais serão resolvidas se não forem discutidas pela sociedade. "Está na hora de a política entender o que os jovens pensam e querem, e fornecer as respostas necessárias."
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