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Brasília – A reforma política e as denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fizeram ecoar na semana passada algumas vozes que pregam algo raro no mar de corporativismo do Congresso Nacional: a independência. Conhecidos como a "bancada ética", esses poucos parlamentares – de número desconhecido, mas que não chegariam a 50 – nadam contra a defesa dos colegas, do próprio partido ou mandato. Os "chatos", como também são chamados, são aqueles que brigam, em resumo, pela transparência dos poderes públicos.

A diferença entre os "chatos" e os "amigos", os que não se constrangem em defender a confraria parlamentar, nunca ficou tão evidente quanto nos últimos dias do caso Renan. O alagoano está sendo julgado no Conselho de Ética do Senado pela acusação de ter despesas pessoais pagas pelo lobista de uma empreiteira. Os gastos de R$ 16,5 mil mensais bancavam a pensão de uma filha do político com a jornalista Mônica Veloso, com quem manteve uma relação fora do casamento.

Na segunda-feira, o pelotão de defesa de Renan no Conselho transformou em inquisição um dos depoimentos mais importantes da investigação, o do advogado Pedro Calmon Mendes, que defende Mônica. Os senadores Almeida Lima (PMDB-SE) e Válter Pereira (PMDB-MS) chegaram a bater-boca com o depoente, tentando desqualificá-lo, sem buscar informações relevantes para o processo. Lima apresentou um dossiê contra a jornalista e, por várias vezes, disse que Calmon Mendes era mentiroso.

Um dia depois, outro peemedebista, o senador gaúcho Pedro Simon, andou em direção contrária. Ele não faz parte do Conselho, mas foi ao plenário do Senado criticar a postura de Renan. "Talvez se ele (Renan), lá atrás, tivesse se licenciado e tivesse uma discussão em chão vazio seria diferente. Mas, agora, ele comprometeu a presidência do Senado, as piadas estão num grosseiro tremendo e não tem nada pior contra a gente do que o deboche. Por isso faço um apelo dramático para que ele aceite o afastamento", discursou.

Entre os 81 senadores, apenas Simon e Jefferson Peres (PDT-AM) quebraram a lógica do corporativismo e pediram a saída de Renan da presidência do Senado desde o princípio das investigações. De cara, ganharam o apelido momentâneo de Sancho Pança e Dom Quixote, pelo idealismo na luta contra os "moinhos de vento" do Congresso.

O cientista político da Universidade de Brasília, Ricardo Caldas, explica que os dois são raridades. Segundo ele, essa escassez ocorre porque o sistema político brasileiro inibe a existência de independentes. "Há três caminhos para ser independente: ter dinheiro, prestígio ou ser conhecido. Quem está no primeiro mandato não consegue seguir qualquer um deles, só quem já está há algum tempo na política. Ser corporativo no início da carreira pode ser uma forma de auto-preservação", explica.

Caldas comprova a teoria citando a idade e a carreira dos dois senadores. Peres tem 75 anos, está no segundo mandato e ano passado foi vice na chapa de Cristóvam Buarque (PDT-DF) à presidência. Simon é dois anos mais velho e está no quarto mandato.

"Eles também falam o que pensam porque não estão assim tão preocupados com uma possível reeleição", diz Caldas. Peres, por exemplo, é um dos mais ferozes críticos da corrupção no governo Lula, mas já anunciou que deixa a vida pública ao término deste mandato, em 2011.

O cientista político é comedido ao falar de uma "bancada ética" ou "independente". "São uns quatro ou cinco realmente preocupados com isso", afirma. Entre eles, cita apenas o deputado federal Fernando Gabeira (PT-RJ).

E, nas contas do próprio Gabeira, esse número não passaria de 20 na Câmara e quatro no Senado. "Com o tempo, você vai aprendendo a vencer batalhas com inferioridade numérica", diz. Entre os colegas "independentes" mencionados por ele estariam filiados do PSol, como o conterrâneo Chico Alencar, e o paranaense Gustavo Fruet (PSDB).

Graças também ao apoio de Gabeira, Fruet conseguiu concorrer à presidência da Câmara, em fevereiro. Na época, foi apresentado como o candidato da "terceira via", contrário aos jogo de poder que envolvia os dois rivais, Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Antes, porém, firmou-se como independente ao comprar briga com o próprio partido e se opor a um acordo com o PFL para livrar da cassação o deputado Roberto Brant (PFL-MG), envolvido no escândalo do mensalão.

Fruet foge do termo "bancada ética". "É arrogante dizer isso", conta. Para ele, os independentes pagam um alto preço interno ao questionar o modelo. "Não adianta só jogar para a opinião pública, é preciso fazer as coisas funcionarem aqui dentro."

O paranaense ressalta que este é um momento de consolidação da "terceira via". O principal problema nesse processo, segundo ele, é que os deputados ficam muito mais ligados ao jogo interno do Congresso do que com a realidade da sociedade. "Todo fim de semana tenho visitado escolas de Curitiba para sentir o que as pessoas estão pensando. Não dá para perder esse contato. Estar aqui para pôr em prática os que eles pensam é o que me motiva."

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