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O Esquema

Segundo o IAP, os funcionários do órgão estariam recebendo propina para liberar licenças de desmatamento e os madeireiros pagavam pela autorização do corte de árvores. Muitas denúncias que chegavam à sede do IAP em Ponta Grossa não eram investigadas. A suspeita é de que os fiscais cobravam para não irem atrás dos crimes ambientais.

De acordo com a Secertaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), a polícia descobriu em 19 fazendas da região o corte ilegal de mais de 36 mil araucárias (27.664 m³). A devastação cometida pela quadrilha teria rendido mais de R$ 8 milhões.

Segundo a polícia, se houver a comprovação dos fatos, os fiscais e os madeireiros podem responder por formação de quadrilha, corrupção ativa e falsidade ideológica.

A ex-diretora do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Ponta Grossa (região dos Campos Gerais), Elma Nery de Lima Romano, de 50 anos, prestou depoimento por pouco mais de 30 minutos nesta quarta-feira (24). Elma é apontada pela polícia como chefe de uma quadrilha que fazia compra e venda de autorizações irregulares para corte e venda de araucárias. Além dela, oito pessoas foram detidas pela polícia na terça-feira durante a "Operação Floresta Negra".

Elma está internada, sob escolta policial, no Hospital Angelina Caron em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, onde faz tratamento contra depressão. A ex-diretora foi ouvida por um escrivão do COPE (Centro de Operações Policiais Especiais) e, segundo o advogado Dálio Zippin Filho, ela ratificou o que tinha dito num depoimento anterior. "Ela reafirmou que as denúncias que originaram esta investigação partiram dela, num comunicado direto ao governador Roberto Requião", disse.

Zippin contou que em março de 2007 Requião leu o e-mail enviado por Elma na "Escola de Governo" que relatava as denúncias. "Ela tem a gravação que mostra o governador citando as denúncias que ela fez", completou. "A minha cliente é completamente inocente. É uma situação inusitada: quem faz a denúncia é preso acusado de envolvimento. Se ela participasse da quadrilha porque faria denúncia ao governador?", questionou.

Por meio da assessoria de imprensa da secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp), a Polícia Civil do Paraná informou que "todas as prisões foram embasadas em investigação e no trabalho de inteligência da polícia". "Questionar o trabalho da polícia é também questionar o trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário que avalizaram as prisões", finalizou a assessoria. Questionada sobre as provas que incriminam a ex-diretora, a Polícia Civil respondeu que não vai dar publicidade às provas para não atrapalhar os desdobramentos da operação.

O advogado da ex-diretora diz que quando ela chegou em Ponta Grossa identificou diversas irregularidades, entre elas, corte ilegal de árvores e casos em que a houve falsificação de sua assinatura. "A minha cliente fez a denúncia dessas irregularidades no Ministério Público de Ponta Grossa, Polícia Federal da cidade, ouvidoria-geral do Estado do Paraná e, em dois e-mails, ao governador Requião", citou o advogado.

"Ela acredita que parte da documentação que a incrimina tem a assinatura falsa dela", disse. "O nome da Elma não é citado em nenhum momento da interceptação telefônica feita pela polícia", completou Zippin, que teve acesso somente a parte dos autos. Além disso, seguiu o advogado, no mês de junho deste ano Elma enviou uma carta ao presidente do IAP, Vitor Hugo Burko, em que denuncia o esquema e pede demissão do cargo.

Sobre um possível pedido de habeas-corpus em favor de Elma, o advogado adiantou que vai esperar até domingo, dia em que termina o prazo da prisão temporária, para saber se haverá necessidade. "Se a justiça prorrogar o prazo da prisão, estarei entrando com o HC (habeas-corpus) na semana que vem", contou.

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