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Helder Massucato Rezende, de 45 anos, atirou nas cabeças da mãe, da mulher e dos três filhos, nesta sexta-feira (24), antes de se suicidar. A tragédia ocorreu na casa dos pais de Helder, no centro de Franca, interior de São Paulo. Sua mãe, Lourdes Massucato Rezende, de 74 anos, morreu. Sua mulher e os três filhos, com perda de massa encefálica, estão em estado gravíssimo na Santa Casa local, respirando com a ajuda de aparelhos. O único que sobreviveu é Augustinho Rezende de Araújo, de 78 anos, pai do autor dos disparos. Segundo um parente que pediu anonimato, ele tinha ido a um açougue.

Helder e a família moravam na casa de Augustinho havia 15 dias. O motivo era o estado depressivo de Helder, que jamais trabalhou. Na adolescência, estudou Teologia e Filosofia. Ex-seminarista, teria até realizado casamentos, embora não tivesse sido ordenado padre. Depois, namorou a cabeleireira Valéria Gomes Freitas, hoje com 37 anos, com quem teve as gêmeas Letícia e Júlia, de 11 anos, e Alexandre, de 7. Mas ele teve problemas com alcoolismo pelo menos até um ano atrás, e parentes de Valéria (que sustentavam a família, com ajuda de Augustinho) disseram à polícia que ele também usava cocaína.

A tragédia ocorreu por volta de 9h15. Parentes e vizinhos ouviram tiros. O comerciante José de Souza Andrade, de 53 anos, cunhado de Helder, mora ao lado e mantém seu estúdio fotográfico em frente. Ao lado do estúdio mora José Augusto, o terceiro filho de Augustinho, que sustenta boa parte da família com a renda de cerca de 30 casas alugadas. "Não foi crime financeiro ou passional, foi um momento de loucura. É um psicopata que estava com muita depressão", disse Andrade. José Augusto, abalado, não quis falar.

Andrade foi o primeiro a chegar. Ele viu Valéria caída na sala, que tinha sido revirada. Acreditando que Helder estivesse armado, chamou o resgate, que encontrou as gêmeas num dos quartos, o menino no outro e Lourdes e Helder no corredor, mortos. A PM cercou a redondeza, acreditando que o autor dos tiros pudesse estar vivo e em fuga. Helder usou um revólver calibre 32, gravado com o nome do pai (que teria porte).

"Ele tinha dupla personalidade (bipolaridade) e não aceitava ser medicado. E mesmo quando estava bom, era agressivo", disse Andrade. "Ele era inteligente, mas perigoso", emendou o cunhado. Outro parente conta que "ele era bacana, esclarecido, com boa cultura, mas nunca trabalhou. Ele só falava de Deus e dizia que, quando o pai morresse, a sua herança ele daria para creches, ajudaria os pobres. Mas ele mesmo sempre foi ajudado". Para ele, Helder era "esquisitão", difícil de manter um diálogo prolongado e consistente. Mas via Helder sempre levando e buscando as filhas na escola.

Na opinião desse parente, que ficou sabendo da tragédia pelo rádio, o desfecho pode ter tido relação com o fato de Helder não ter se tornado padre. A família até evita falar disso "Vi fotos dele fazendo dois casamentos", assegurou. O vizinho Ramon Capel Berdu afirmou que presenciou Helder celebrando um casamento há mais de 20 anos.

Ao voltar, Augustinho viu uma multidão em frente à sua casa. Em choque, foi levado à Santa Casa, onde foi sedado; depois, foi para a casa de Andrade. "Ele falou que se a mulher tivesse morrido, também morreria", disse o parente. "Ele está lúcido, mas com extremo ódio do filho e sentindo a perda da mulher, que cuidava deles e de seus medicamentos para hipertensão e diabete", explicou Andrade.

Os corpos de Helder e Lourdes serão sepultados amanhã (25). O parente crê que Augustinho nem iria ao velório. O delegado do Setor de Homicídios da Delegacia de Investigações Gerais, Márcio Murari, disse que ouvirá parentes e vizinhos. Uma vizinha disse a ele que ouviu o menino Alexandre gritar: "Pára, pai, pára!" Parentes de Valéria informaram a Murari que Helder tomava medicamento controlado para depressão. Murari não crê em crime premeditado.

O neurocirurgião Sinésio Grace Duarte operou Valéria, Júlia e Alexandre - pela extensão de seu quadro clínico, Letícia não foi operada. Segundo Duarte, as crianças estão em coma profundo. "As cirurgias foram apenas para uma limpeza no local e parada do sangramento." Valéria teve períodos de consciência na chegada ao hospital e, apesar da penetração do projétil no crânio, seu estado é "relativamente bom" - mas ainda há risco de morte.

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