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Um dia depois do reforço do policiamento no Complexo do Alemão, a situação é de aparente tranquilidade na região na manhã desta quinta-feira. De acordo com o relações públicas das tropas de pacificação, major Marcos Vinícius Bouças, foram montados quatro pontos fixos de patrulhamento dentro das comunidades que integram o complexo. Os pontos, chamados de "fortes" pelo major, permitem que os soldados fiquem em bases avançadas dentro da favela, ao contrário do patrulhamento móvel que era feito anteriormente. De acordo com o major, ao todo são 1.700 militares espalhados pelos complexos do Alemão e Vila Cruzeiro.

Nesta quinta-feira, as equipes poderão fazer novas operações nos acessos às favelas, utilizando veículos blindados do tipo Urutu. O major explicou ainda que houve uma inquietação no início da semana por causa da tentativa de ataque do tráfico, mas afirmou que a situação já está voltando ao normal. O militar acrescentou que as forças vão continuar recebendo denúncias de moradores pela ouvidoria, pelo telefone e por e-mail.

Em entrevista à rádio CBN, o deputado estadual Marcelo Freixo ressaltou que o tráfico ainda é uma ameaça para a comunidade, mas afirmou que não recebeu de nenhum morador denúncias sobre supostas chantagens de criminosos para que a população fosse hostil com militares. - Há uma tensão muito forte dentro daquela comunidade. E a própria falta de tato de alguns militares pode ocasionar conflitos. Não recebi nenhuma denúncia de pessoas dizendo que receberam pressão do tráfico para causar problemas às forças de pacificação. Os moradores querem sim é a presença da polícia, mas há queixas sobre o tratamento - reforçou Freixo.

Na quarta-feira, o Comandante Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, admitiu que traficantes ainda vendem drogas em bocas de fumo "itinerantes" no Morro do Alemão e acrescentou que a comunidade ficará ocupada pelo Exército até junho, quando o complexo ganhará Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). São mais 120 militares de reforço, ocupando por tempo indeterminado os morros do Adeus e da Baiana, vizinhos ao complexo. O efetivo de militares no local foi aumentado para 1.800. Outros 200 homens já estão à disposição e devem ser integrados à Força de Pacificação nos próximos dias.

Ao admitir que traficantes ainda vendem drogas na região, o general afirmou que voltarão a revistar suspeitos de tráfico de drogas na comunidade. - Vamos voltar a fazer revistas em pessoas que possam estar fazendo algo errado. Naquela semana, havia sido divulgado que o Exército permaneceria no local. As ações dos bandidos foram uma reação à permanência do Exército lá - disse o general, em entrevista no Comando Militar do Leste (CML), acrescentando que o traficante Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, foragido da Vila Cruzeiro, está por trás do ataque.

O general Adriano Pereira Júnior disse ainda que quatro militares envolvidos na confusão de domingo foram afastados. Um inquérito foi aberto para apurar as responsabilidades.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que também participou da entrevista, disse que não se pode vender ilusões à população em relação à luta contra o tráfico de drogas: - Eu tenho sido bastante enfático ao dizer que, após 30, 40 anos de abandono de algumas áreas e total domínio do tráfico, ninguém vai resolver isso a curto prazo. Nós abrimos uma janela para que os serviços públicos e a própria sociedade cumpram o seu papel nessas comunidades.

Nove meses após a chegada da Força de Pacificação ao Alemão, o clima de medo e tensão retornou ao maior complexo de favelas do Rio. A lei do silêncio voltou como um fantasma para a população que já vivia dias de paz. Na Rua Joaquim de Queiroz, um dos acessos à Favela da Grota, uma barreira com ralos de ferro arrancados do chão, para evitar a entrada de carros, era um sinal da volta do tráfico à comunidade. Quando carros blindados se posicionaram no principal acesso à Grota, criminosos soltaram fogos para alertar seus cúmplices.

Quatro veículos blindados do tipo Urutu foram usados para patrulhar as entradas dos morros. Todos os veículos e moradores que entravam eram revistados. Cinco artefatos explosivos de fabricação artesanal foram encontrados na Rua Nova.

As estações do teleférico se transformaram praticamente em bases do Exército: nesses pontos, militares de binóculos vigiam a movimentação no complexo. Um morador do Alemão contou que alguns traficantes sequer saíram da comunidade e outros já estão no local há tempos. Segundo ele, o tráfico quer provocar uma reação dos militares, para forçar a saída do Exército: - É claro que o tráfico quer voltar.

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