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Cascavel – A maior aldeia indígena do estado, a Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, Centro-Oeste do Paraná, enfrenta uma velha ameaça: a exploração sexual de crianças e adolescentes. O perigo vem da movimentada BR-277, que cruza a área indígena. Nesse perímetro é comum a circulação de índios, principalmente os que têm menos de 18 anos, vendendo artesanato.

Um relatório divulgado pela Funai (Fundação Nacional do Índio), em 2002, já denunciava a situação vivida pelas crianças e adolescentes indígenas. De acordo com o estudo, elaborado pelo departamento de Educação da Funai, os principais problemas apontados pelas aldeias brasileiras são consumo de drogas lícitas ou ilícitas, alcoolismo, gravidez na adolescência e a exploração sexual. Para a Funai, esses problemas são decorrentes da miséria que os povos indígenas enfrentam.

Na época em que o estudo foi divulgado, o Conselho Nacional da Criança e do Adolescente aprovou um documento de orientação a ser enviado aos conselhos municipais e tutelares, com indicações para que os municípios promovessem ações e políticas públicas, considerando a diversidade das populações indígenas. Na prática, isso não aconteceu. "Pelo menos o Conselho Tutelar de Nova Laranjeiras jamais recebeu orientação nesse sentido", diz Delir Janete Beliski, presidente do órgão local.

Delir diz ter conhecimento de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes na aldeia Rio das Cobras, mas nenhum deles foi acompanhado pelas conselheiras locais. "Temos dificuldades em fiscalizar toda a área do município devido a sua grande extensão territorial. Somos cinco conselheiros e apenas um carro", esclarece.

O único registro oficial de prostituição foi feito pela Polícia Rodoviária Federal de Cascavel, em 21 de março passado. Na ocasião, os policiais rodoviários resgataram três adolescentes, sendo duas de 15 anos e outra de 16. Elas estavam se prostituindo em Cascavel. As adolescentes seguiram para o Conselho Tutelar, que as enviou de volta à aldeia Rio das Cobras.

A Polícia Rodoviária Federal vem tentando combater esse tipo de crime na BR-277, onde foram mapeadas áreas de risco à exploração sexual de crianças e adolescentes. Uma dessas áreas está justamente no perímetro do núcleo indígena de Nova Laranjeiras. Os motoristas que trafegam pela rodovia seriam os principais responsáveis pela prática de prostituição, seduzindo as menores que vendem artesanato ao longo da rodovia.

O presidente do Conselho Indígena da Regional de Guarapuava e cacique de Rio das Cobras, Sílvio Fernandes, reconhece que o problema existe, mas em menor grau. A preocupação é que a exploração sexual envolva cada vez mais os adolescentes, colocando em risco a saúde da população local. O maior medo das lideranças é a contaminação por DSTs/Aids.

Até agora, não houve registro de casos de aids na aldeia, mas o risco existe. O pedagogo e chefe do posto da Funai em Nova Laranjeiras, Florêncio Rekayg Fernandes, diz que a questão sexual é um tema muito difícil de ser tratado com os índios porque há costumes diferentes da civilização branca. Ele admite que a população jovem é um alvo fácil dos motoristas que trafegam pelas rodovias que cruzam a aldeia – além da BR-277 há a PRT-146, que liga a 277 até a região de Quedas do Iguaçu. "As meninas são atraídas por causa da situação econômica que vivem ou pela vontade de conhecer lugares diferentes. Acabam sendo seduzidas pelos homens brancos em troca da viagem ou alguns reais", conta Rekayg Fernandes.

Desde que o problema surgiu, Florêncio e as lideranças locais instruíram as famílias indígenas que moram vizinhas à BR 277 para informar sobre qualquer movimento suspeito de motoristas. "Já houve casos em que os próprios índios foram resgatar as meninas", lembra o cacique Sílvio.

Na aldeia Rio das Cobras vivem 560 famílias, ou seja, aproximadamente três mil pessoas, entre caingangues, guaranis e xetás. Os primeiros são a maioria da população local. Os xetás são a minoria, apenas dois índios puros. A preservação de etnias puras é uma das características do maior núcleo indígena do Paraná, mas a influência da civilização branca é uma ameaça à cultura desses povos, os primeiros habitantes da região. A aldeia vive uma fase de reestruturação, depois de longos anos sem a assistência governamental.

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