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O festejado sistema de transporte urbano da capital paranaense não anda passando muito bem. Urbanistas e técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) andam em tranças com projetos capazes de aliviar o fardo da cidade que ficou conhecida por ter resistido aos encantos do transporte sobre trilhos – o metrô –, esconjurado viadutos e dito não a avenidas largas. Mas os tempos mudaram. "Nessa cidade nascem mais carros do que crianças", faz trocadilho o presidente do órgão, Luís Henrique Fragomeni, referindo-se ao vilão de quatro rodas que ameaça uma tradição que projetou mundialmente a cidade.

Caso queira manter a fama de "ecologicamente viável", a capital vai ter de resolver uma equação difícil como o quê: convencer uma porcentagem maior da população a andar de ônibus, diminuir a frota de veículos nas ruas – antes do recorde de um milhão de carros – e, por tabela, reduzir o índice de gases poluentes no meio ambiente.

Para tanto, não há como sustentar a média suicida de um automóvel para cada duas pessoas. "Já se passaram 40 anos desde as primeiras inovações urbanísticas. Muita coisa ‘venceu’. O desafio é firmar o transporte coletivo, torná-lo mais atraente", sentencia Fragomeni. Não é mais segredo que aumentar de 40% para 60% a adesão ao transporte público virou uma obsessão municipal para continuar na pole position das inovações urbanas.

Em dezembro do ano passado, durante o evento "Curitiba nos Trilhos", promovido pelo prefeitura municipal e pelo Ministério das Cidades, parte da resposta ao impasse foi dada: "metrô", para surpresa geral da parcela que se acostumou a ver no sistema de superfície implantado há mais de três décadas um antídoto ao veneno dos túneis profundos e seus trens velozes. Já para a turma do "busão" a notícia foi merecedora de um bailão.

Levantamento feito em dezembro passado pela Gazeta do Povo/Paraná Pesquisas com 700 pessoas confirma a simpatia popular: 64% dos entrevistados aprovaram a idéia do trem. Mas o assunto não se dá por resolvido. Entre os formadores de opinião a idéia causa mal-estar. Há quem duvide da capacidade do metrô de deixar a cidade mais bem servida do que já está.

Sei não

Doze quilômetros de metrô, canaletas viradas em jardim e restrição de automóveis na avenida mais movimentada da Zona Sul da capital. A proposta não empolga o arquiteto e urbanista Fábio Duarte, 36 anos, professor de Gestão Urbana na PUCPR. "Estou convencido de que o metrô não é a solução para a cidade. E esses jardins, serviriam para quê? Temos tantos parques. Quanto à restrição de carros, existem hoje muitos recursos para controlar a poluição", defende.

A primeira impressão de Duarte sobre o projeto é que se distancia das propostas urbanísticas que um dia tornaram Curitiba conhecida internacionalmente. Para ele, o "espírito dos anos 60", quando tudo começou, não era pensar um único meio de transporte, mas no conjunto de possibilidades que uma cidade pode oferecer. É o caso da caminhada, da bicicleta ou do veículo de passeio.

"Queria poder enxergar um plano de mobilidade urbana. Substituição de um meio de transporte por outro só faz sentido se estiver integrada a um grande projeto. As pessoas precisam saber qual a vantagem da troca, senão vão continuar achando mais barato sair de casa de carro. Além disso, a depender do grau de restrição de veículos, uma rua pode morrer", observa.

A arquiteta Maria Luiza Marques Dias, vice-coordenadora do curso de Arquitetura da UFPR, considera que o debate sobre o transporte está num ponto crítico, em especial depois das conclusões das Nações Unidas sobre a responsabilidade da ação humana no agravamento do esfeito estufa. Mas não é o bastante para se render aos encantos do metrô.

"Chegamos a quase dois milhões de habitantes com esse sistema. Não seria melhor seguir adiante com a proposta?", pergunta, sobre a decisão histórica da cidade em driblar escavações e demais manobras exigidas pelo transporte sobre trilhos.

Em caso de aplicação dos metrôs, Maria Luiza sugere que os esforços se concentrem do Cabral à Praça do Japão, como forma de evitar o trânsito de superfície no Centro. E no que diz respeito à diminuição no número de veículos, não vê outra saída senão controle e rigor para conter a cruzada dos automóveis. "A expressão ‘medidas coercitivas’ é muito forte. Mas criar mecanismos para diminuir a entrada de automóveis pode ser uma saída para o problema."

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