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Jacarezinho – A ação indiscriminada de cerâmicas às margens do Rio Paranapanema, na divisa Nordeste entre Paraná e São Paulo, está deixando graves seqüelas ao meio ambiente. A agressão ao ecossistema ocorre do lado paranaense, entre as cidades de Jacarezinho e Ribeirão Claro, e é protagonizada por três empresas com sede em São Paulo – as cerâmicas Santa Bárbara, Brasil e Carnevali. Ou seja, enquanto paulistas contabilizam tributos e postos de trabalho, o Paraná arca com o ônus da destruição ambiental e o esgotamento de suas reservas naturais.

A mata ciliar desapareceu e onde deveria haver o rico solo das margens do Paranapanema ficaram apenas buracos extensos e cavas cheias de água, com profundidade que varia de um a dois metros. Para retirar areia e argila, as cerâmicas usam máquinas para abrir crateras próximas ao leito do rio. Feita a extração, elas deveriam fechar as cavas, como determina o plano de uso e recuperação ambiental. Mas não é o que ocorre. As empresas abrem canais para que a água do Paranapanema alague o local e, com isso, fiquem desobrigadas de recompor o que estão destruindo.

Pescadores e ribeirinhos confirmam que as indústrias destruíram toda a área verde numa extensão de dezenas de quilômetros, numa faixa que chega a 500 metros a partir do leito do rio. O morador Voncir Santana Pereira, 56 anos, conta que para encontrar peixes é preciso subir o rio até onde a extração ainda não chegou. Segundo ele, há décadas as empresas estão destruindo as duas margens do rio.

Como se não bastasse, no Rio Anhumas, um dos afluentes do Paranapanema, uma draga retira diariamente areia provocando o desmoronamento das margens, engolindo a pequena faixa de mata ciliar. A areia que cai do barranco pára no fundo do rio, sendo lavada e automaticamente retirada, mas com um valor comercial maior, aumentando os lucros das empresas.

Para o empresário Benedito Francisquini, que protocolou documento no Ministério Público Federal esta semana, denunciando a ação danosa das cerâmicas, o que está acontecendo no local é um crime sem precedentes. "Empresas paulistas que não geram empregos no Paraná e não recolhem impostos vêm até aqui, destroem o solo e a mata e nos deixam com o passivo ambiental. Depois que tudo acaba, elas simplesmente vão embora", acusa. Para Francisquini, o que está faltando é fiscalização. "É impressionante que todos enxerguem a destruição e apenas o IAP [Instituto Ambiental do Paraná] não encontre irregularidades", completa.

O ambientalista Rui Martins Lisboa, engenheiro civil com especialização em planejamento geo-ambiental, concorda que esteja faltando mais atenção das autoridades competentes. Ele acredita que a falta ou o não- cumprimento de um plano de manejo e recuperação é o grande vilão da história. "Não se trata de impedir a retirada, mas de autorizar a retirada inteligente", explica. "Quando se determina o tempo de extração também tem de ficar especificado o que será feito do local após o uso". Ele sugere, por exemplo, a criação de uma grande área de lazer na região, como medida compensatória, já que o impacto ambiental é enorme. Algo como ocorreu nas cavas do Rio Iguaçu, em Curitiba. Após anos de atividade extravista de areia, o local se tornou um parque na divisa com a cidade de São José dos Pinhais. Procurados pela reportagem, os proprietários das cerâmicas Santa Bárbara, Brasil e Carnevali não quiseram se pronunciar.

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