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Um dos carros-chefes da política de segurança pública do Paraná nos últimos três anos ainda não uniu a teoria à prática. É indiscutível o avanço que o sistema integrado entre o geoprocessamento (mapa do crime) e o boletim de ocorrência (BO) unificado promete trazer no combate à criminalidade no estado. Porém, algumas falhas na execução do projeto têm atrapalhado e até retardado investigações de crimes. Em alguns casos, as informações apuradas por policiais militares nas ruas levam cerca de dez dias para chegar nas delegacias. "Complica tudo, porque quanto mais demorar (o acesso às informações do boletim), pior é a investigação", afirma o delegado Rubens Recalcatti, titular da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) de Curitiba.

O delegado também ressalta as virtudes do sistema (entenda como funciona no quadro ao lado). "Com o boletim unificado, aumentou extraordinariamente o número de atendimento de ocorrências na DFR", conta. Ele acredita que o total de casos que chegam à sua delegacia tenha triplicado com o programa. "Com isso, a nossa estrutura ficou defasada. Não conseguimos acompanhar todos os casos", contrapõe Recalcatti. "O boletim unificado é um ótimo instrumento de trabalho pela comodidade ao cidadão, que pode ir em qualquer delegacia para fazer o BO", elogia o superintendente do 1.º Distrito Policial de Curitiba, Adolfo Rosevics Filho.

Lentidão

Entretanto, nem sempre as vítimas encontram toda essa comodidade. Na última quarta-feira, por volta do meio-dia, Ricardo (nome fictício) foi abordado por dois homens armados na garagem de seu prédio, no bairro Tarumã, em Curitiba. Cheques que seriam usados no pagamento de um apartamento foram roubados. O valor não foi revelado. Logo após a ação dos bandidos, Ricardo foi atendido por policiais militares. Como de costume, a vítima recebeu um protocolo para retirar o boletim de ocorrência em alguma delegacia, mas as informações ainda não tinham entrado no sistema. "Nós precisávamos do boletim de imediato para sustar os cheques", conta.

A orientação dada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) aos delegados é de que esperem os dados da PM serem inseridos na central das polícias antes de iniciar o inquérito. Esse processo deveria durar no máximo dois dias. "Falta ter a informação no sistema. Não podemos fazer outro boletim, senão gera duplicidade", justifica Recalcatti. "Isso acaba prejudicando a vítima", critica Ricardo. Nas delegacias, ao invés de serem informados pelo sistema, os investigadores acabam tomando conhecimento de algum crime através da rádio-patrulha, da imprensa ou da própria vítima. "Só fiquei sabendo porque a vítima veio até mim", afirma Recalcatti.

Por estar em contato direto com várias delegacias, o advogado criminalista Dálio Zippin Filho ouve muitas reclamações dos policiais. "O preenchimento do boletim pela PM contém uma série de erros que fica difícil a instauração de um inquérito policial. Os boletins são incompletos e os dados muito vagos", conta.

Falta investimento

As reclamações também partem de dentro dos quartéis da PM. "A filosofia do sistema é considerada boa, mas a sistemática dos dados é morosa. As informações chegam atrasadas. Precisa ter investimento tecnológico e humano em cima disso", comenta um oficial, que preferiu não ser identificado. Ele explica que os boletins preenchidos nas ruas entram em uma fila e digitadores precisam reescrever tudo novamente. A PM atende cerca de mil ocorrências diariamente. "Não está assim tão on-line como eles dizem", complementa.

O oficial vai além. Ele fala da necessidade de se ter uma atualização constante do geoprocessamento pelo fato de se traçar estratégias de policiamento diariamente. "O mapa está sendo atualizado periodicamente. Antes nós tínhamos (esses dados) internamente. Hoje, tem de ligar (para a Sesp) solicitando o que você mesmo alimentou", conta o policial. Os relatórios levam cerca de 15 dias para ficar prontos. "O que era para ser um sistema centralizado e on-line, ficou compartimentado e burocrático", conclui.

Outro lado

Através de sua assessoria, a Sesp informa que os sistemas do BO unificado e do geoprocessamento "estão em processo de avaliação contínua para que possam sempre atender melhor a demanda da população e da polícia". De acordo com a Sesp, uma das próximas etapas do projeto é equipar os carros policiais com computadores portáteis para que os boletins sejam registrados imediatamente no sistema e permitam informações mais ágeis para o combate à criminalidade.

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