• Carregando...

Falta de organização e de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) em cidades-pólo estão congestionando o serviço de urgência e emergência no Paraná. Nos fins de semana, pacientes chegam a esperar até cinco horas nas filas de prontos-socorros.

Segundo o Ministério da Saúde, o Paraná tem 31.440 leitos. Desses, 23.547 são credenciados pelo SUS. O ministério recomenda de 2,5 a 3 leitos do SUS para cada mil habitantes. No Paraná, a média é de 2,3 leitos para cada mil habitantes. Por isso o serviço em parte dos 762 estabelecimentos que atendem urgências e emergências no estado é prejudicado, especialmente nas grandes cidades.

O gargalo se sobressai em Londrina, Curitiba, Cascavel e Maringá, onde há hospitais-referência, com equipamentos para exames complexos e médicos de várias especialidades – o que atrai pacientes de outras cidades.

A superlotação do pronto-socorro do Hospital Municipal de Maringá (HUM) no primeiro dia útil de janeiro – quando havia 79 pacientes distribuídos em macas e cadeiras de rodas pelos corredores e salas de consultas – forçou a 15.ª Regional da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) a armar um plano de transferência dos pacientes. Para isso, o teto dos pagamentos de procedimentos do SUS ao Hospital Metropolitano, na cidade vizinha de Sarandi, para onde os pacientes foram transferidos, foi aumentado. Mas o quadro não melhorou. Na tarde de ontem, eram 75 pacientes no pronto-socorro do HUM.

O caso do pedreiro Valdeir Oliveira Ribeiro, 40 anos, é emblemático. Ribeiro chegou ao HUM dia 10 com suspeita de trauma na cabeça, mas foi liberado. Ele estava desaparecido e a família o encontrou após fazer buscas pelos hospitais. Ao voltar para casa, Ribeiro não reconhecia mais os familiares e foi levado de volta ao hospital. A esposa Adriana Moraes não sabe o que causou o mal no marido e cobra posicionamento do HUM, que não apresentou o diagnóstico, já que o tomógrafo está quebrado. Segundo a 15.ª Regional de Saúde, a cidade tem déficit de 200 leitos do SUS.

Em Cascavel, o Hospital Nossa Senhora da Salete, que possui pronto-socorro, pediu descredenciamento do SUS. Em 2006, 42 leitos do SUS deixaram de existir em hospitais privados, gerando déficit de 50 leitos no município. Com tal quadro, o Hospital Universitário (HU), cujo pronto-socorro atende 3,4 mil pacientes por mês, sendo 19% deles de cidades vizinhas, fica ainda mais sobrecarregado

A falta de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no HU fez com que a sala de urgência e de emergência do pronto-socorro desse lugar a leitos. "O maior problema é remanejamento dos pacientes para outras unidades do SUS, principalmente em UTIs", afirma Gilberto Periollo, diretor-geral em exercício do HU.

Em Ponta Grossa as vagas também são insuficientes. "Um paciente chega com apendicite e recebe o primeiro atendimento. Mas não temos centro cirúrgico ou médico especialista para resolver o caso e a pessoa fica esperando 12, 24, 48 horas pela transferência", diz o diretor clínico Antônio Sobreiro, do Pronto-Socorro Municipal (PSM). A reforma do PSM, prevista para esse semestre, deve dobrar os leitos. Outro problema é a desinformação. Cerca de 70% das pessoas que vão ao PSM não precisam de atendimento de emergência.

Retaguarda

O presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES) e superintendente do Hospital Universitário (HU) de Londrina, Francisco Eugênio Alves de Sousa, diz que boa parte dos prontos-socorros paranaenses tem acúmulo de pacientes porque a retaguarda dos hospitais está lotada. "Não há leitos de enfermaria para internação imediata. O paciente chega e não há uma seqüência no atendimento, por isso acaba ficando", diz.

O médico traumatologisa Luiz Carlos Sobania, do Hospital de Clínicas, em Curitiba, considera serem necessárias medidas preventivas nos prontos-socorros. Uma delas é investir na segurança das cidades, porque são os acidentes de trânsito e a violência que levam às pessoas aos prontos-socorros. Outra saída é disciplinar os atendimentos, de forma a descentralizar as emergências e direcionar o fluxo de pacientes às unidades conforme a necessidade. "Há muitos pacientes que não se enquadram em situações de emergência e deveriam ser atendidos em postos de saúde", diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]