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Segundo a deputada Bel Mesquita, 300 mil crianças e adolescentes ainda estão desaparecidos no país | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Segundo a deputada Bel Mesquita, 300 mil crianças e adolescentes ainda estão desaparecidos no país| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

História: Unidade foi criada há 15 anos

O Sicride foi criado em 1995 em um clima de comoção pública, após uma série de desaparecimentos no estado que apontavam para a venda de crianças por pais ou raptores a estrangeiros. Até então, os casos eram investigados pela Delegacia de Vigilância e Captura. O trabalho começou com um grupo pequeno, não mais de dez pessoas, que perceberam que não haveria avanços sem informações confiáveis.

"Nossa primeira ação foi computar todos os casos de desaparecimento que estavam em aberto. Eram 12. Infelizmente não encontramos nenhum deles", lembra o delegado Harry Carlos Herbert, um dos fundadores da unidade.

Mas o levantamento não foi feito em vão. A partir de então, toda ocorrência era encaminhada e averiguada no local pelos policiais do Sicride.

Dois anos depois, a colaboração com a Interpol, entidade dedicada à colaboração entre as polícias de vários países, permitiu a localização de algumas crianças vendidas pelos pais arrependidos. "A gente foi buscar as crianças na Europa seguidas vezes. Os casos de venda de criança reduziram drasticamente. Hoje ouso dizer que este tipo de ocorrência foi erradicada", acredita.

CPI resultou em rede com dados incompletos

O trabalho da CPI ajudou na mobilização de parlamentares para a aprovação da lei que cria o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. O Ministério da Justiça já mantém a Rede Nacional de Identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (Redesap), mas os dados são incompletos. A lei estabelece a formação de convênios entre o Ministério e as secretarias estaduais de Segurança Pública para a alimentação de um banco de dados preciso.

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A Comissão Parlamentar de In­­quérito (CPI) da Câmara dos De­­putados que investiga o desaparecimento de crianças e adolescentes tem verificado que o país não tem condições para lidar adequadamente com esse tipo de ocorrência. De acordo com estimativas da CPI, atualmente existem 300 mil crianças e adolescentes desaparecidos no país. Dos casos que chegam ao conhecimento da polícia, 20% permanecem sem solução. Mas os números podem ser maiores, pois não há um cadastro nacional e os dados fornecidos pelos estados são precários.

"Não existe um sistema de proteção à criança e ao adolescente que inclua o problema do desaparecimento", lamenta a presidente da CPI, a deputada Bel Mesquita (PMDB-PA). Para enfrentar esse problema, os deputados defendem a criação de delegacias especializadas. O Paraná é o único estado que tem uma unidade da Polícia Civil como essa, o Serviço de Inves­tigação de Crianças Desaparecidas (Sicride). Uma comitiva da CPI visitou ontem a sede do Sicride. Para os integrantes da comitiva, a unidade pode servir como modelo para o restante do país.

Na maioria dos estados, os casos de desaparecimento de crianças e adolescentes são investigados pelas delegacias de Homicídios ou de Vigilância e Capturas, cuja função deveria ser capturar fugitivos da Justiça, ou por delegacias não especializadas, no caso de municípios do interior. Em São Paulo, esse trabalho é feito pela Delegacia de Pessoas Desaparecidas, que não faz distinção entre crianças, adolescentes e adultos. "É preciso esclarecer a quem compete essa questão, caso contrário não haverá avanço", considera Bel Mesquita.

A descentralização faz com que os dados policiais sejam imprecisos. Isso, na avaliação dos membros da comissão, é a maior causa para uma taxa tão alta de desaparecimentos não resolvidos. "A falta de informações confiáveis prejudica uma maior articulação do trabalho de investigação policial, mas também a elaboração de políticas públicas que enfoquem essa questão", lamenta a deputada.

Sicride

A constatação da presidente da CPI se baseia nos resultados do Sicride. Enquanto no restante do país, 1 em cada 5 crianças ou adolescentes desaparecidas jamais é encontrada, no Paraná essa taxa não chega a 1%. O Sicride trabalha em casos de crianças com até 12 anos – os demais ficam a cargo da Delegacia de Vigilância e Capturas. Dos 1.176 casos envolvendo crianças registrados desde a criação do órgão, em 1995, 10 não foram solucionados.

O segredo da alta taxa de resolução de casos está no trabalho de inteligência. O órgão centraliza as informações de todos os desaparecimentos no estado. O trabalho de campo é realizado por equipes especializadas em encontrar crianças, lotadas em Curitiba e que se deslocam para os municípios do interior. Uma parceria com a Universidade de São Paulo (USP) viabiliza a manutenção de um banco de DNA de todos os pais que tiveram filhos desaparecidos, para a verificação de paternidade das crianças encontradas.

"Nossos investigadores são treinados para encontrar a criança. No caso de sequestro sem extorsão ou subtração de incapaz, levamos a investigação até o final. Caso constatemos que houve abuso sexual ou homicídio, deixamos a cargo dos policiais competentes", detalha a delegada Márcia Tavares dos Santos, que foi delegada titular da unidade até o ano passado e esteve ontem com os membros da comissão.

Para os deputados da CPI, a criação de delegaciais especializadas em desaparecimentos de crianças e adolescentes deve ter o caso paranaense como modelo. "É necessária a diferenciação entre crianças, adolescentes e adultos. O desaparecimento de cada um deles tem diferentes motivações e efeitos, o que influi na forma de investigar", observa a relatora da comissão, deputada Andréa Zito (PSDB-RJ). A CPI está em fase de apuração e os deputados ainda vão analisar como tornar obrigatória a formação de unidades nesses moldes.

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