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Parentes de Cláudia Silva Ferreira e moradores do morro da Congonha ficaram revoltados nesta quinta-feira (3) durante a reconstituição da morte da auxiliar de serviços gerais, que foi baleada durante uma operação policial, em março, e arrastada por um carro da Polícia Militar.

As reclamações se deviam ao fato que os dois policiais militares presos sob acusação de envolvimento com a morte, não estavam algemados.

Eles vestiam roupas esporte e caminhavam pela favela, enquanto que um morador ferido durante ação policial, na mesma ocasião, e preso sob acusação de envolvimento com o tráfico, foi levado para a reconstituição algemado, sob escolta policial e com o uniforme da Seap (Secretaria Estadual de Administração Penitenciária).

A reconstituição, que durou cinco horas, foi feita na rua em que Cláudia foi baleada, em 16 de março. Para levá-la ao hospital, PMs a colocaram no porta-malas de um carro policial, mas a porta abriu e Cláudia foi arrastada por cerca de 250 metros.

A diferença de tratamento entre os PMs presos e Ronald Felipe Soares, 19, o morador preso sob acusação de envolvimento com tráfico, incomodou o viúvo de Cláudia, Alexandre Fernandes.

"Antes de começar a reconstituição, eu acreditava que seria séria. Agora que vejo o tenente sorrindo, comprando guaraná, caminhando para lá e para cá, cumprimentando os investigadores e ouvidos votos de boa sorte no julgamento, perdi a confiança na Justiça. Estou indignado", disse.

Indagado pela reportagem sobre o motivo de os policiais estarem sem algemas, um dos advogados do tenente Rodrigo Medeiros Boaventura, que não quis se identificar, disse que "é a prerrogativa de qualquer um que não tenha sido condenado. Ele não tem interesse em fugir, quer provar sua inocência. Já o Ronald tem passagem pela polícia".

A mulher de Ronald Soares, Rafaela Santos, tentava mostrar o filho de 2 anos para o marido, mas foi impedida por policiais. "Ele não estava com o tráfico. Voltava de um baile e trabalhava vendendo bala em um sinal de trânsito. Há quatro anos foi detido por tráfico, ficou três meses detido, foi solto e não quis mais se envolver com o crime. Ele foi preso porque correu ao ver os PMs e quando checaram que ele tinha antecedentes, o prenderam", afirmou.

Na reconstituição, Soares disse que viu três traficantes armados com duas pistolas e que correu ao ouvir os tiros, mas foi detido.

Segundo o tenente Boaventura, um matagal que margeia a rua onde teria ocorrido a troca de tiros no dia em que a mulher foi atingida, impediu que ele e o sargento Zaqueu Bueno vissem Cláudia descendo pela rua.

Ele disse ainda que os policiais perceberam a presença de cerca de 15 homens armados com pistolas e fuzis em uma escadaria do lado oposto ao matagal. A partir desse momento, começou a troca de tiros.

Além de Cláudia, um menor, identificado como Willian Possidônio, também morreu baleado naquela operação policial. A polícia afirma que ele tinha envolvimento com o tráfico.

Mais um preso

Durante a reconstituição, uma moradora do morro disse que seu filho, Cristian Silva, também foi atingido na operação policial. Segundo a dona de casa Débora Ribeiro da Silva, seu filho foi atingido na barriga e foi levado por ela para um hospital. Lá, PMs que participavam de operação policial em outro local disseram que eles o tinham atingido e o prenderam.

"Ele não é traficante, é usuário de drogas. Mas agora está preso em uma cadeia acusado de participar de uma troca de tiros quando nem estava naquele morro. Vou falar com o delegado para ver o que posso fazer", relatou.

Participaram da reconstituição os oito policiais militares que estavam na operação. Entre eles, dois que participaram diretamente da troca de tiros estão presos, e outros três são testemunhas. Já os outros três respondem a um processo administrativo por terem socorrido Cláudia no porta-malas.

Ainda na reconstituição, os policiais que a socorreram voltaram a afirmar que a colocaram no porta-malas porque vários moradores estavam na rua impedindo a abertura das portas traseiras. Além disso, o banco traseiro da viatura estava ocupado por coletes e armas.

O principal objetivo da reconstituição, segundo o delegado responsável pela investigação, Carlos Machado, é determinar de onde partiu o disparo que matou Cláudia. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) foi inconclusivo em relação ao tipo de projétil que a matou.

Por isso, o advogado da família, João Tancredo, irá contratar um perito particular para tentar determinar se a lesão foi ocasionada por um tiro de fuzil, arma usada pelos policias militares.

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