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Crianças sofrem com efeitos da desocupação

Diego Ribeiro

Enquanto os moradores do Ginásio de Esportes Rio Verde, em Colombo, esperavam a decisão da mesa de negociações com o município, o dano mais profundo já havia ocorrido. Desde a última terça-feira, devido à desocupação, crianças deixaram de ir à escola, ficaram desamparadas, sem banho e até sem comida.

Foram três dias até o começo da tarde de ontem dentro do ginásio quente e abafado, quando a chuva amenizou o calor. "Minha bebê ficou sem tomar banho, chegou a ficar assada. Está muito quente aqui", conta a mãe, de 16 anos. O trauma para as crianças tem sido foco de preocupação dos pais. Assim como a bebê, várias outras passaram pela recente desocupação e encaram uma rotina estafante no ginásio.

O dia a dia deles se resume a acompanhar os pais ou parentes em reuniões, filas por um prato de comida e para tentar tomar banho no único chuveiro elétrico do ginásio. Alguns arriscam jogar uma bola de futebol na cesta de basquete para se distrair.

Os moradores relatam que, até quinta-feira, quem saísse do ginásio, mesmo que para ir ao supermercado, não poderia mais entrar no local. Em nota, a prefeitura de Colombo informou que 34 famílias permaneciam alojadas ontem no ginásio e tinham livre acesso ao local.

Três dias depois da reintegração de posse de um terreno público às margens do Rio Palmital, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, as 46 famílias alojadas no Ginásio de Esportes Rio Verde entraram ontem em acordo com a prefeitura. Elas devem deixar progressivamente o local, auxiliadas pelo poder público, com a garantia de serem contempladas no próximo programa habitacional do município, ainda sem prazo previsto.

VÍDEO: confira a situação das famílias alojadas

A reunião entre um grupo de moradores e representantes da prefeitura foi mediada pelo promotor Paulo Conforto, do Centro de Apoio dos Direitos Humanos de Colombo. Segundo ele, assistentes sociais da prefeitura entrevistarão cada uma das famílias – trabalho que começou a ser feito ontem – para investigar quem realmente precisa de um imóvel. De imediato, serão oferecidas soluções pontuais para que todos deixem o ginásio o mais rápido possível. "Uma senhora morava na casa da sogra, que era muito apertada e só tinha um banheiro. Se a prefeitura se comprometer a construir outro, ela volta. Outra pessoa tem um terreno, se derem a madeira para construir um cômodo, ela sai", exemplifica Conforto.

Em último caso, pessoas que não tenham para onde ir entrarão em um programa de aluguel social, em que a prefeitura arca com as despesas por um tempo determinado. Segundo o promotor, a medida depende da aprovação de uma lei municipal, o que torna o processo mais demorado. "Com esse acordo, umas 20 famílias devem sair de imediato. A orientação do Ministério Público foi que, se não fizessem o acordo, a prefeitura poderia entrar com pedido de reintegração de posse do ginásio."

Alternativa

A ideia de "furar a fila" da Cohab não agradou a todos os moradores, que preferem a ideia de serem contemplados com terrenos em um loteamento, com prestações de R$ 100 a R$ 200. A possibilidade foi levantada pelo Ministério Público como alternativa a residências de programas habitacionais, mais burocráticos e de prazo de execução incerto, sobretudo em ano eleitoral.

"Pelo menos estaríamos pagando o que é nosso, poderíamos construir. Essa ideia do aluguel não resolve porque a prefeitura pagaria por três meses. Vai que a pessoa não se adapta ao serviço que arrumar depois?", questiona Alan da Silva, 21 anos. Para Carla Laiana Alcântara, 20 anos, que morava de favor antes da ocupação, o acordo foi positivo. "Vou permanecer aqui [no ginásio] até a assistência social me ajudar a encontrar um lugar."

Retrato da invasão

Os semblantes das famílias são de desespero e cansaço, impaciência de quem estava em casa há poucos dias e não acredita estar sem um teto agora. No ginásio, crianças, pais, mães e avós se amontoam entre colchões no chão e lençóis, que tentam dividir os espaços, assim como demarcavam os terrenos onde moravam na antiga invasão no terreno do município, na Rua Campo do Tenente, no Jardim Guaraituba. "Antes de ontem [na quarta-feira], minha filha de 3 anos teve que dormir em um saco de lixo. Não tinha colchão. Ela não tem mamadeira e está sem comer", conta a desempregada Carla Dantas, 34 anos.

Desabrigados seguem acampados em ginásio de Colombo

Quase 50 famílias aguardam em abrigo improvisado, no ginásio da cidade, por um acordo com a Prefeitura. Só depois de três dias da desapropriação de um terreno público, onde o grupo estava, é que começou o cadastramento social para ajudar quem precisa.

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