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Não fossem os poços artesianos perfurados pela iniciativa privada, o sistema de abastecimento da Sanepar provavelmente já teria entrado em colapso. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas) no Paraná, Everton Luiz da Costa Souza, a região de Curitiba tem mais de mil poços artesianos, com uma vazão de 1,5 metro cúbico de água por segundo. Já a demanda atendida na capital pela Sanepar é de 7,2 metros cúbicos por segundo. "Ou seja, se hoje os poços deixassem de existir, a Sanepar teria de ser capaz de aumentar sua distribuição em cerca de 20% para atender a todos", diz Souza.

Com a estiagem que atualmente assola o Paraná, a procura pelos poços artesianos tem aumentado, já que as águas subterrâneas demoram mais para serem afetadas pela seca. A Abas calcula que, nas zonas rurais do interior do estado, o crescimento no número de perfurações em decorrência da seca seja de 20%. Na capital, entretanto, alguns empresários ainda não verificam esse aumento. "Em Curitiba, aumentou o número de consultas, mas como ainda não começou a faltar água nas torneiras, os contratos não vêm sendo fechados", diz Carlos Eduardo Vieira, diretor da Hidropel, empresa que, em 18 anos de atividade já perfurou 1,5 mil poços no Paraná. Outra empresa, a Kupersul, informa já verificar um crescimento de 30% nos pedidos de perfuração na região metropolitana. "Estamos fazendo dois poços na RMC neste exato momento", diz Idanir Salomé, propritária da empresa.

Quem procura os poços artesianos geralmente são condomínios e empresas que precisam de muita água. Até porque não se paga pelo volume de água retirada, mas apenas pela perfuração e pela outorga do poder público. O Hospital Vita de Curitiba, por exemplo, retira de poços artesianos quase toda a água que consome. Dos mais de 4 mil metros cúbicos de água utilizados mensalmente na unidade do hospital no Bairro Alto, 97% vêm dos poços.

Mas o o principal usuário de águas subterrâneas do estado, segundo a Abas, é a própria Sanepar – são cerca de 100 milhões de metros cúbicos por ano. O presidente da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) do estado, Darcy Deitos, estima que, de toda a água captada no estado, cerca de 42% seja proveniente de reservas subterrâneas.

Esses números poderiam ser maiores, inclusive na região de Curitiba. "Sobretudo a região norte da capital, onde fica o Aqüífero Karst, apresenta um potencial bom para novas perfurações", analisa Souza, apresentando estudos que indicam que, de toda a água doce existente no planeta, apenas 4% estariam na superfície. "Em alguns países, como Alemanha e Áustria, quase todo o abastecimento é feito com águas subterrâneas", diz. Para ele, no entanto, apesar desse tipo de captação estar ganhando força, é difícil alterar o modelo histórico. "Na região de Curitiba, por exemplo, a Sanepar sempre se utilizou dos recursos hídricos superficiais. Mudar isso é complicado."

De acordo com o artigo 26 da Constituição Federal, as águas subterrâneas são bens dos estados. Portanto, para um particular utilizá-la é necessária uma outorga do poder público estadual. No Paraná, essa outorga é dada pela Suderhsa, após uma análise prévia das viabilidades ambiental, social e econômica da captação de água. A outorga custa cerca R$ 107. "Qualquer paranaense pode se dirigir à Suderhsa para ter um poço artesiano", afirma Deitos. O serviço de perfuração de um poço com vazão de 5 metros cúbicos por hora – o suficiente para abastecer quase 200 casas – custa entre R$ 15 e R$ 35 mil.

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