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Brasília (AE) – O Conselho de Ética da Câmara, na fase final dos processos dos deputados envolvidos no valerioduto, entrou em um clima de conflito inédito em sete meses de investigação. A ação direta de líderes partidários na tentativa de interferir na votação dos pareceres dos relatores provocou a revolta de alguns conselheiros, discussões em público e pedidos de calma em conversas reservadas.

"Pretendem fazer um vale-tudo, mas haverá resistência", resume o deputado Nelson Trad (PMDB-MS), que esteve no centro da polêmica por ser o relator que recomendou a cassação do mandato de Roberto Brant (PFL-MG), condenado no conselho pelo apertado placar de 8 a 7, obrigando o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), a desempatar em favor da condenação.

Outro conselheiro procurou Izar, na última quinta-feira, pedindo providências para que não se repita no conselho a manobra feita pelo PSDB, que indicou o deputado Jutahy Júnior (BA) como conselheiro apenas para votar em favor de Brant. Uma hora depois, Jutahy abriu mão da vaga, que será destinada a outro tucano. O conselheiro pediu que Izar buscasse no regimento do conselho alguma regra que impedisse o troca-troca. Ouviu como resposta: "Não vamos mexer com isso.

O temor do presidente é que o confronto se acirre ainda mais, já que novas votações ocorrerão a partir de amanhã, quando o Conselho de Ética decidirá o destino do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE). A recomendação do relator Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi pela cassação do mandato.

"Espero que votações futuras não permitam que a opinião pública ache que os grandes partidos estão interferindo no conselho", afirma o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Nos dois dias em que se discutiu e votou o parecer pela cassação de Brant, três líderes acompanharam as sessões: o do PFL, Rodrigo Maia (RJ); o do PSDB, Alberto Goldman (SP) e o da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA). Companheiro de partido de Chico Alencar, o deputado Orlando Fantazzini viu na dobradinha do PSDB com o PFL em favor de Brant "o desenho de um acordão".

Embora não tenha sido visto no conselho, o deputado Pedro Corrêa também agiu para tentar interferir na votação de Brant, segundo relatou o deputado Pedro Canedo (PP-GO). Apesar de garantir que não foi pressionado, Canedo contou que, no primeiro dia marcado para a votação, quarta-feira, foi orientado por Corrêa a esperar uma decisão da bancada do PP antes de ir para a sessão do conselho. Canedo diz que ouviu "de interlocutores" sugestões "para votar de outra forma", mas manteve a decisão de votar a favor da cassação.

A semana de tanta animosidade terminou com um desabafo do deputado Cézar Schirmer (PMDB-RS), relator de um dos processos mais difíceis, por causa do papel de destaque do processado, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). "Minha boa fé terminou", protestou. O motivo da revolta de Schirmer é a demora na entrega de documentos pedidos por ele, por meio de requerimento à CPI dos Correios, no dia 16 de novembro.

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), nega qualquer ação deliberada para atrasar o processo de João Paulo ou de qualquer outro processado. "Nunca houve nenhuma manobra na CPI para esconder nada", garante o senador, que se prontificou a se reunir com Schimer para "avaliar com ele o que está faltando".

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