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Déborah e Eduardo: jogo no computador com moderação | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Déborah e Eduardo: jogo no computador com moderação| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Jogos trazem diversão e prejuízos

Em contraponto à série de benefícios que um jogo pode trazer, como agilidade mental e desenvolvimento de estratégias, o vício e prejuízos à saúde podem se tornar um problema para quem se envolve com esse tipo de entretenimento. "Alerto meus amigos que querem começar a jogar o Colheita Feliz: cuidado que vicia muito", conta Ana Cláu­­dia Schleder, 12 anos.

Segundo o educador Tiago Go­­­­mes, o perigo do vício existe porque o jogo traz um reconhecimento muito rápido dentro do grupo de amigos. "Quanto mais ativo for o jogador, mais ele vai estar sob a influência do jogo, se­­ja em bons ou maus aspectos", adverte. No caso do Colheita Fe­­liz, quanto mais jogar, melhor será a classificação do jogador no ranking formado entre os amigos.

A psicopedagoga Márcia Lígia de Oliveira, assessora da Univer­sidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), alerta que os jogos – sejam em computador ou consoles de videogame – também podem trazer prejuízos ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Os pais devem estar atentos a sinais que podem estar relacionados aos efeitos provocados pelos jogos – excesso de fadiga, perda de apetite, mudança de comportamento, sono agitado, distração e baixo desempenho na escola. "Não é to­­do mundo que joga que vai ficar doente", afirma Márcia. "São pessoas que já têm uma predisposição genética, alguma característica que antecede a isso. O jogo pode funcionar como um desencadeante."

É importante que os pais se interessem pelo que os filhos fa­­zem na frente do computador. "O acompanhamento é essencial para saber o que a criança está fazendo", aconselha Gomes. "O filho está aberto em um mundo novo que o pai não sabe o que é." Márcia orienta que os pais prestem atenção ao tipo, ao conteúdo, à dinâmica, à faixa etária e às entrelinhas do jogo. "A questão da supervisão é muito importante: os pais devem ser companheiros e orientadores", ensina. "Tem de haver um tipo de diálogo e entendimento com os filhos. É interessante que os pais jo­­guem junto para acompanhar de perto."

A especialista aconselha que os pais moderem o tempo que as crianças passam jogando e intercalem a brincadeira com outras atividades. É o que faz Déborah Correia Lima Figueiroa, mãe de Eduardo, de 13 anos. "Pode jogar, desde que tenha moderação", diz. "Volta e meia vejo o que ele está fazendo. Ele é bem cobrado e tem de saber controlar e dividir o tempo. No banco dos réus, eu não sentenciaria os jogos eletrônicos como culpados ou inocentes."

A nova febre de redes sociais da internet são as fazendas virtuais. Cuidar de animais, colher frutos e manter a propriedade protegida de invasores têm levado muita gente a passar horas conectada. Não são apenas crianças e jovens que ficam envolvidos pela dinâmica do jogo – tem muito adulto preocupado em ordenhar vaca e colher berinjelas eletrônicas por aí. São quase 10 milhões de usuários do Colheita Feliz no Orkut (a principal rede social no Brasil) e pouco mais de 73 milhões de participantes do FarmVille no Facebook (mais popular em outros países) – uma população total equivalente a da Alemanha. Entretanto, diante da brincadeira, o vício pode se tornar um problema entre os jogadores.A lógica dos jogos é basicamente a mesma: plantar frutos e criar animais para vender a produção e crescer no jogo – seja em experiência, popularidade ou riqueza. Para isso, a estratégia de cada um é o que conta, nem que seja necessário invadir a propriedade dos amigos para se beneficiar de alguns frutos ou ovos, ajudar a regar as plantações ou empesteá-las. O jogador escolhe se quer ser vilão, mocinho ou as duas coisas.Para dar início a uma criação de animais ou a um novo plantio, é preciso ir às compras gastando dinheiro virtual. Contudo, os reais também podem ser investidos – ou torrados –, já que alguns bens cibernéticos só podem ser adquiridos com um outro tipo de moeda eletrônica que precisa ser cambiada (R$ 10 equivalem a 100 "moedas verdes" no Colheita Feliz, o mais popular entre os brasileiros). "Não sei até quando vou conseguir ficar sem comprar Moedas Verdes. Quero comprar um cachorro e mais terras" conta a costureira Telma Maciel de Souza, de 47 anos. Ela não resistiu ao ver os sobrinhos jogarem e entrou na onda.

Para o educador Tiago Go­­mes, especialista em tecnologia educativa, esse tipo de jogo pode trazer benefícios para o desenvolvimento da criança. "É um jogo de administração de recursos. A criança pode aprender a controlar gastos, administrar tempo e dinheiro", comenta. Entretanto, Gomes também aponta o benefício social do jogo como a principal vantagem. "Nesses jogos você depende do seu grupo social para jogar. Se não tem amigos, não consegue realizar as atividades", acrescenta. São jogos que se popularizaram a partir do ano 2000, com o aumento das redes sociais e a propagação da banda larga.

Há três meses, a professora Bárbara Karolyne Morais, de 24 anos, montou sua fazenda no Colheita Feliz. Ela acredita que o jogo é um bom começo para que as crianças da cidade tenham um primeiro contato e se interessem pelo maio rural. "Eles pedem para ter seu próprio plantio. Querem passar a experiência do virtual para a realidade e já têm noção de que demora para uma planta crescer", comenta Bárbara, que deseja comprar um pavão em breve para lucrar com a venda das penas. "Você aprende com o jogo a cuidar de uma plantação. Se você não tem muito contato com isso, você aprende", avalia Eduardo Figueiroa, de 13 anos, jogador do Colheita Feliz desde o começo deste mês.

A dinâmica do jogo faz com que o participante acesse sua fazenda e as dos outros várias vezes ao dia. Para que outros não roubem o leite da vaca, por exemplo, o dono deve estar pronto para recolher o balde 7h30 depois de ter alimentado o bicho. "É uma coisa que envolve. Eu acordo a qualquer hora para roubar dos outros", revela Telma. A costureira diz que joga sete vezes por dia durante períodos de até 45 minutos – cerca de cinco horas por dia.

"Eu acordava 6 horas e ligava o computador antes de ir para a escola para não correr o risco que me roubassem", conta Ana Cláudia Schleder, 12 anos. Ela lembra que chegou a ter um caderno para anotar o horário que precisava invadir a propriedade dos amigos para roubar parte da produção de cada um. "Eu colocava despertador para lembrar o que eu precisava fazer", diz. Ana reduziu o número de acessos depois que os pais começaram a interferir e acharam um meio de deixá-la incomodada. "Passaram a me provocar, me chamando de Menina da Colheita", conta.

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Interatividade

Os jogos eletrônicos trazem mais benefícios ou prejuízos às crianças e adolescentes?

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