Detentos e religiosos acompanham culto na Colônia Penal Agrícola de Piraquara, na região metropolitana| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Paraná tem 464 religiosos trabalhando nos presídios

Ao todo, o Paraná tem 464 religiosos de 44 denominações cristãs trabalhando nos presídios. A Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju) cadastra os líderes e os instrui para o trabalho. Segundo a ouvidora do sistema penal Cineiva Tono, uma resolução (315/2014) regulamenta o trabalho de assistência religiosa nos presídios. Ela foi criada para a padronização do plano de trabalho e assistência para os detentos.

Todos os líderes passam por um curso, com carga horária de 24 horas, dentro da secretaria. Além disso, os padres e pastores participam de círculos de diálogos bimestrais para orientações quanto aos trabalhos nas penitenciárias. "São orientações quanto a proximidade e relacionamento com os presos, que roupa usar, recomendações de não enviar ou levar recados", explica.

Um dos objetivos da resolução, segundo Cineiva, além da padronização do trabalho, foi a proteção dos direitos humanos para os detentos. A assistência religiosa é uma das metas citada pelo Estado na Lei de Execução Penal para a prevenção ao crime e retorno do interno ao convívio social. O artigo 10 da Lei ainda cita assistências material, à saúde, jurídica, educacional e social.

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A reunião ocorre no ginásio de esportes da Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara. Os líderes religiosos se revezam para fazer orações pelos detentos, que vão ao culto ecumênico em busca de conforto e acolhimento, algo que não encontram em grande parte da sociedade. No culto, além de ouvirem a palavra de Deus, os presos são tratados com o que esperam: seres humanos em busca de recuperação e reinserção social.

O evento religioso dentro da CPA é um exemplo do que ocorre em todas as casas de custódia e penitenciárias do Paraná. Pastores, padres e outros líderes, vão aos presídios participar do acolhimento aos detentos. A assistência religiosa é considerada um dos pilares da ressocialização da população carcerária.

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A pregação dos religiosos não se limita a ensinamentos bíblicos. Eles alertam aos presos para que perseverem na recuperação e não resistam às possíveis recaídas. "O que plantamos, colhemos. Não percam de vista o caminho de vocês", diz um pastor durante culto realizado em um dos pátios da Casa de Custódia de São José dos Pinhais.

Recuperação

O evangelista Gilmar Pereira de Paula, 39 anos, membro de uma das igrejas que participa dos cultos, diz ser uma prova viva de que é possível a recuperação. Cinco anos depois de cumprir pena na CPA por envolvimento em assaltos, ele trabalha como porteiro e agora volta à colônia com um novo propósito: ajudar a retirar da criminalidade quem ainda cumpre pena. "Se você cai em um lugar desses (presídio), onde não conhece ninguém, não tem nada, só não se recupera se não quer".

Quem ainda está na prisão busca o mesmo caminho. Jefferson da Silva, 24, foi preso por tráfico de drogas em novembro e agora cumpre pena de cinco anos. Cansado do crime, decidiu se converter e se recuperar. "Aquilo não era vida. Eles (religiosos) nos confortam muito. Todos nos recebem bem, sem preconceito, de braços abertos. Sem eles, acho que seria difícil eu me recuperar", diz o jovem, que pretende estudar teologia e voltar ao trabalho de auxiliar administrativo quando sair da prisão.

A família de M. R. A, 34, tem sido de grande valor para que ele frequente os cultos e busque a recuperação. Preso por assalto, ele pretende voltar a trabalhar como motorista de caminhão e oferecer melhor futuro ao filho de 7 anos. "Se não tivéssemos isso (apoio dos religiosos) quem sabe o que poderíamos estar fazendo", diz ele, que aguarda o próximo mutirão carcerário, em fevereiro de 2015, para conseguir a progressão ao regime aberto.

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Missão

Em São José dos Pinhais, diretor de penitenciária também é pastor

Na Casa de Custódia de São José dos Pinhais, o diretor da unidade, Jeferson Walkiu, também é pastor e tenta incentivar os presos a participarem de cultos. "Hoje entendemos que nesse processo da ressocialização, o trabalho religioso resgata valores e princípios. Precisamos lembrar que em alguns casos é uma socialização, porque alguns desses detentos nunca tiveram isso", diz.

Os cultos na unidade são realizados no pavilhão dos evangélicos. Os detentos se reúnem nas manhãs de terça e quarta-feira, entre às 9h30 e 10h30, onde encontram os líderes religiosos de diversas denominações cristãs. "As pessoas que nos auxiliam já vêm com o propósito de ajudar. Nunca tivemos nenhum tipo de ameaça ou conflito", diz Walkiu, sobre a relação entre presos e religiosos.

O diretor também faz questão de rebater críticas de parte da sociedade, que crê em frases como ‘bandido bom é bandido morto’. "É um discurso que, na prática, não funciona. O preso vai voltar, mais cedo ou mais tarde, para a sociedade. Esse preso precisa voltar melhor".

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