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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Febre também entre crianças e adolescentes, o Pokémon Go adicionou um tempero a mais a um questionamento recorrente de algumas escolas com o celular: a dispersão de atenção. O jogo foi lançado na terça-feira (3) em todo o país e em poucos dias já altera a rotina das instituições, principalmente das escolas particulares. Na rede pública municipal, ainda não há muitos relatos de mudança no comportamento em relação ao jogo.

Ester Cristina Pereira, psicopedagoga da Escola Atuação, no Santa Quitéria, e vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe-PR), conta que planeja inclusive enviar um memorando aos pais alertando sobre os riscos do Pokémon Go. “Nós temos informações preocupantes sobre o jogo. Os professores relataram que os alunos chegaram com muita sonolência às aulas. Eles também ouviram relatos de parcerias entre pais e filhos que vararam a noite jogando. O pai dirigia o carro pela cidade e o filho cuidava dos dois celulares e dos dois jogos”, relata. Segundo a psicopedagoga, outros professores reportaram problemas da vizinhança: algumas crianças teriam “invadido” uma oficina mecânica por causa de um pokémon.

“Além de todos esses fatores, existe outra preocupação. Já temos relatos de ‘passeadores de crianças’, que reúnem grupos de sete ou oito e andam com elas pela cidade atrás dos pokémons. Isso nos causa uma preocupação muito grande”, completa. Segundo Ester, outros relatos dos professores dão conta de xingamentos, disputas e até mesmo incidentes mais graves por conta do jogo.

A Escola Atuação não permite celular em nenhuma dependência da instituição há oito anos. Os alunos sofrem sanções disciplinares se forem flagrados conectados – e os pais estão de acordo com essa política. “Qual é a demanda do uso pessoal do celular durante o período escolar nessa idade? Nenhuma. Em cima dessa proposta, nós limitamos seu uso. Pais e filhos precisam combinar com antecedência em relação às caronas. É uma sistemática diferente e muito bem aceita. O celular tira a atenção da parte pedagógica. É um divisor de águas na educação. Independente desse jogo, as escolas já vinham enfrentando problemas com os celulares”, completa.

Enquanto vice-presidente do Sinepe, a psicopedagoga também orienta as escolas particulares de maneira geral. “Cada escola tem sua maneira de lidar com essa situação. Se você permite o celular, às vezes as crianças se escondem no banheiro para poder jogar. Agora, o Pokémon Go gerou uma situação ainda mais atípica para a educação”, explica. Ela pondera que as crianças precisam saber dosar a hora do jogo e a hora do estudo.

Antecedência

O colégio Positivo se antecipou ao lançamento e conversou com os alunos antes do game chegar ao país. Segundo João Carlos Kimiechik, professor de Filosofia e Sociologia, a preocupação dos professores surgiu quando a febre tomou conta do mundo. “Nós orientamos os alunos. Eles jogam nas dependências da escola, mas precisam ter limites. Nós também explicamos para eles os perigos do celular na rua e tudo mais, mas não tivemos incidentes em relação a excessos”, conta. “Ao mesmo tempo, ainda estamos tentando lidar com o fenômeno. Ele tirou as crianças do conforto da cadeira e promove a interação social. Isso pode ser usado na sala de aula”.

Outro lado

A Secretaria de Educação de Curitiba ainda não registrou reclamações em relação ao jogo. Pelo contrário. Segundo Letícia Mara de Meira, diretora do Departamento de Ensino Fundamental, o Pokémon Go veio acompanhado de uma polêmica um pouco vazia.

Ela explica que os profissionais da rede estão acompanhando a movimentação dos jovens e tentando entender a lógica e efeitos do jogo. E pondera a respeito dos efeitos da tecnologia na educação. “Já se disse que a educação sofreria muito com a televisão, com o computador, com os tablets, smartphones. Nenhuma tecnologia provocou o ocaso da educação. Obviamente o interesse no primeiro dia é muito grande, mas isso se dilui. Se a educação fosse impactada dessa maneira por uma tecnologia nova, ela seria muito frágil”, afirma.

Segundo ela, o jogo precisa ser esclarecido pelas professoras a partir do momento em que ele impacta na sala de aula, mas pode inclusive ser utilizado pedagogicamente. “Ele tem duas questões relacionadas ao processo de aprendizagem: localização, que é trabalhada na geografia; e mobilidade, no incentivo ao deslocamento. Isso pode ser explorado”.

A rede pública municipal não proíbe os celulares nas dependências das escolas. “Nossa perspectiva em relação a esses recursos é de adaptação. Já debatemos: proibimos ou não? ‘Sequestramos os aparelhos’ ou não? Entendo isso como parte da realidade, do contexto sociocultural que vivemos. O jogo, nesse contexto, não pode ser excluídos do cenário”, conclui.

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