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O assunto foi bem destacado pela mídia. Em sua primeira entrevista como técnico da seleção brasileira, Felipão mandou esta paulada: "Se não tiver pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil. Senta lá no escritório e não faz nada". Obviamente, estabeleceu-se um mal-estar e o "comandante" se retratou. Disse que tudo não passou de uma má colocação (ele queria dizer outra coisa) e lembrou que é cliente do BB há mais de 30 anos.

Seu ato falho fez emergir um discurso bastante comum em nosso país sobre os servidores públicos (trabalham pouco, são uns folgados) e consequentemente sobre o serviço público brasileiro (ineficiente). O técnico citou o Banco do Brasil porque provavelmente instituições bancárias são sua referência predileta. João e Maria citariam o INSS, pois a perícia de que tanto precisam para se aposentar foi marcada para agosto de 2013. Com a possibilidade, é claro, de ser remarcada para 2040.

Entretanto, Felipão não representa o que podemos chamar de "os brasileiros que obrigatoriamente precisam recorrer aos serviços públicos". Milionário e famoso, certamente não sabe o que é enfrentar uma fila de banco, tentar uma perícia no INSS, marcar uma consulta para o filhinho asmático. Famosos e milionários nunca tiveram e nunca terão esses dissabores. Estamos no Brasil, onde quem tem muito dinheiro é acariciado tanto pelo serviço público quanto pelo privado.

Em sua vertente mais radical, explícita e sem ser resultado de atos falhos, esse discurso se traduz na apologia da privatização como forma de melhorar diversos setores do país. Questão que foge dos limites desta coluna.

Mas seria interpretar demais a fala de Felipão como uma vertente privatista. Sabiamente, ele fez o caminho fácil da retratação, uma espécie de gênero discursivo em que afirmamos nossa inocência mesmo quando flagrados degolando a vítima.

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