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Bastava uma olhada nos visitantes do 2.º Hana Matsuri, criado para celebrar o Natal Budista, para dar a impressão de que a maioria não tinha raízes japonesas, não era budista ou não comia peixe cru. Sinal dos tempos e da influência da comunidade nipônica. O evento, organizado pela Nikkei – Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba, terminou ontem à noite, depois de pelo menos 20 apresentações de música e dança ao longo de 20 horas de festa, iniciada no meio-dia de sábado.

Organizadores estimam que pelo menos 60 mil pessoas visitaram o Centro de Exposições da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), onde foram montados 104 estandes que tratavam da cultura japonesa – o que inclui a culinária. No ano passado, foram 40 mil. Jorge Yamawaki, presidente da Nikkei, conta que a associação estava preocupada em ocupar um espaço grande como o da Fiep, mas o público superou as expectativas.

"Somos 1% da sociedade e temos consciência de como a integração é importante", diz Yamawaki, que não escondeu o entusiasmo de ver muitos jovens presentes – atraídos sobretudo pelas bandas de música japonesa contemporânea. Entre as atrações do Hana Matsuri ("Festival das Flores" em tradução literal), o destaque foi o grupo de tambores japoneses (utikomi taiko) que anunciam o nascimento de Buda.

Saúde e sorte

Sobre o interesse suscitado pelo Natal budista, Yamawaki entende que o povo brasileiro é "muito espiritual" e capaz de crer mesmo sem conhecer detalhes da religião. Essa espiritualidade explica a fila de pessoas dispostas a pedir saúde e sorte para o Buda. A estátua, de mais ou menos dois palmos de altura, estava em um altar – o hanamido – ornado de flores que representam o jardim de Lumbini, local onde nasceu Sidarta Gautama, o primeiro Buda.

De acordo com a lenda, uma chuva de néctar e uma música celestial – ouvida em todo o universo – acompanharam o nascimento. Diante do altar, as pessoas deveriam unir as mãos como se fossem fazer uma prece e reverenciar Buda. Em seguida, usar uma concha para banhar a estátua três vezes com o amachá, um chá doce que representa a chuva de néctar. Esse ato é chamado de kanbutsue.

Em tom de brincadeira, o monge Eduardo Sasaki, da comunidade budista Jodoshu Nippakuji, diz que o interesse dos ocidentais no Budismo "é um mistério", mas tenta explicá-lo ao afirmar que, ao contrário de religiões que se sustentam somente na fé, o Budismo prega a ação. Buda significa "desperto", mas desperto de quê? "De todas as causas que condicionam o sofrimento existencial", diz o monge. Entre as causas citadas por ele estão o envelhecimento e a morte.

Treinar a mente

Segundo o monge, as religiões orientais passam por um processo comum no mundo globalizado, em que algo "exótico" vira alvo de "curiosidade" para depois ser "apreciado" e, por último, "aplicado". O interesse do professor Bruno Davanzo, integrante do Centro de Estudos Budistas Bodisatva Paramita, na religião surgiu pela possibilidade de "treinar a mente". Sobre o Hana Matsuri, destacou o fato de a Nikkei resgatar a conotação religiosa da festa. Antes de falar com a reportagem, ele estava em pé ao lado do hanamido entoando mantras em auxílio às pessoas que pediam graça.

A primeira coisa que Clara Yoshizawa fez quando chegou à Fiep com a mãe, Francisca, foi o kanbutsue. "Eu aprendi a pedir paz", disse Clara. Já Francisca estava feliz com a festa "muito bonita". Tudo em nome de Buda.

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