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Quem mora nas imediações da Arena da Baixada (o estádio do Atlético), em Curitiba, já se acostumou com as longas filas para comprar ingressos – normalmente para as partidas do clube. Mas jamais viu tamanha concentração de adolescentes, quase exclusivamente meninas, que desde sexta-feira transformaram as calçadas da Rua Buenos Aires em um "assentamento", com pelo menos 20 barracas. A razão de todo o furor chama-se Rebelde (ou RBD para os íntimos), a banda teen mexicana que se materializou a partir da novela homônima, exibida pelo SBT, e que se apresenta amanhã à noite em Curitiba.

As primeiras fãs começaram a chegar na sexta-feira passada. "Falaram que a partir de sábado iam começar a chegar caravanas, então resolvemos vir na sexta para garantir um bom lugar", explica Janaína Pereira, 16 anos, uma das 53 pessoas que ocupam a primeira barraca. "Estamos aqui desde sexta-feira às 7 horas da manhã, mas vale a pena", completa Vanessa Portela Nascimento, 18 anos. E deve valer mesmo: elas (ou melhor, os pais) pagaram entre R$ 125 e R$ 133,50 pela meia entrada.

Janaína e Vanessa sintetizam o perfil de quem tenta garantir um lugar no gargarejo: meninas, entre 13 e 18 anos, e devotas da banda mexicana. Mas as garotas esclarecem que não ficam o tempo todo na rua – e que continuam indo à escola. "Fazemos um revezamento: quem estuda à tarde guarda o lugar para quem estuda de manhã", explica Janaína. É o revezamento que permite que elas tomem banho e comam alguma coisa em casa.

Para as meninas, o pior é o tédio e a alimentação. "Comemos só porcaria: salgadinhos, bolachas, balas, chicletes, refrigerantes, chocolates...", relata Janaína. Frio e chuva? "Passamos um pouco de frio num dos dias, mas o pior foi a chuva no fim de semana", contou outra fã, que não quis se identificar. O medo de ficar na rua de madrugada também foi superado. "Deu um pouco de medo na sexta e no sábado, mas agora que tem essa galera toda tá tranqüilo", conta Vanessa. "E também tem o módulo (da PM), sempre tem algum policial por perto."

A explicação para tanta paixão é a mesma que move os adolescentes desde os Beatles: identificação. "Tanto na banda como na novela eles falam das coisas do nosso dia-a-dia, como os pais que querem mandar muito, gravidez na adolescência, a realidade na escola", enumera Janaína.

Por pouco o sacrifício não foi por água abaixo ontem. Antônio Carlos Machado, agente de proteção da 1.ª Vara da Infância e da Juventude, esteve no local levantando os dados das adolescentes, para conferir se elas tinham autorização de pais ou responsáveis para ficar na rua. "Pegamos os dados, que serviram de base a um relatório entregue à juíza Lídia Munhoz Mattos Guedes, que vai dar o seu parecer", disse. "Mas, se eles têm autorização dos pais, não há muito a fazer." A reportagem tentou entrar em contato com a juíza, mas até o fim da tarde ela não foi localizada.

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