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“As verbas disponíveis para a pesquisa aumentaram de alguns anos para cá. Elas ainda não são suficientes, mas é uma mudança de parâmetro.”Samuel Goldenberg, doutor em Biologia Molecular e pesquisador titular do Instituto Carlos Chagas | Priscila Forone/Gazeta do Povo
“As verbas disponíveis para a pesquisa aumentaram de alguns anos para cá. Elas ainda não são suficientes, mas é uma mudança de parâmetro.”Samuel Goldenberg, doutor em Biologia Molecular e pesquisador titular do Instituto Carlos Chagas| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Pesquisa quer conter gastos no diagnóstico

Além dos investimentos em células-tronco, os Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia financiam outra pesquisa coordenada pelo Instituto Carlos Chagas, em parceria com Instituto de Biologia Molecular do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O projeto promete diminuir os gastos com os reativos para o diagnóstico de doenças no sangue. Em qualquer doação ou transfusão, são realizados sete testes para garantir que o sangue não apresenta doenças contagiosas – doença de chagas, sífilis, HIV e hepatites B e C, entre outras. A pretensão é fazer todas as confirmações de uma só vez.

Com base em uma tecnologia nova – chamada de microarranjos líquidos –, a ideia é que, no máximo em cinco anos, a técnica esteja implantada no país, incluindo o desenvolvimento de insumos e dos equipamentos necessários para a realização das análises. "Em um primeiro momento, pode-se usar a tecnologia de fora, mas, aos poucos, ela será trocada pela nacional", afirma Samuel Goldenberg, doutor em Biologia Molecular e pesquisador titular do Instituto Carlos Chagas.

De acordo com Goldenberg, o desenvolvimento da tecnologia pode diminuir os custos do Ministério da Saúde em R$ 262 milhões por ano. O valor total da pesquisa é de R$ 4,5 milhões. E o repasse da verba ocorre, geralmente, por transferência do valor para uma fundação ou por contrato direto com o pesquisador, com o valor do investimento sendo depositado em uma conta aberta pelo responsável. O cronograma de desembolso depende da disponibilidade financeira do governo.

Goldenberg explica que os vários setores da pesquisa são beneficiários do projeto. "Por ser uma pesquisa multidisciplinar, contando com estudos em física e química, outras áreas podem avançar", afirma. (VB)

Depois da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2008, liberando a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias, o governo federal decidiu, em dezembro, financiar esse tipo de estudo. Quarenta e nove propostas foram escolhidas no país e uma delas será realizada no Paraná. A parceria entre o Instituto Carlos Chagas (ICC) – ligado à Fundação Oswaldo Cruz – e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) irá estudar o uso de células-tronco no resgate do ritmo cardíaco do coração que sofreu enfarte, através de uma técnica inédita.

Na primeira quinzena de dezembro, os projetos foram selecionados pelo Ministério da Saúde para receber um investimento total de R$ 10 milhões em pesquisas com células-tronco embrionárias e adultas, derivadas da medula óssea, do cordão umbilical e de outros tecidos. O comitê responsável examinou 150 propostas.

De acordo com o professor de Medicina da PUC-PR e coordenador do Laboratório de Terapia Celular, Paulo Brofman, os estudos escolhidos englobam áreas variadas em diferentes estágios de pesquisa: da básica, passando pela pré-clínica (que inclui o estudo com animais), chegando à clínica. O projeto paranaense encarrega-se de estudar o uso de células-tronco adultas do cordão umbilical e da medula óssea objetivando a recuperação da força do coração que sofreu enfarte. O financiamento recebido do Ministério da Saúde será de R$ 500 mil por dois anos.

Com a utilização desse tipo de célula, Brofman explica que é possível resgatar o ritmo cardíaco de duas maneiras: "Pela criação de novos vasos sanguíneos e pela transformação das células-tronco em tecido muscular cardíaco. As provenientes do cordão umbilical tendem a formar a parede muscular, enquanto as da medula óssea tendem a originar novos vasos", diz. "A pretensão é que, com a pesquisa, seja possível que ambas atuem das duas formas."

Quando o coração sofre enfarte, o paciente pode desenvolver insuficiência cardíaca. Cerca de 240 mil novos casos da doença são registrados por ano no Brasil. E a forma atual mais eficaz para a cura é o transplante de coração. No entanto, apenas 200 procedimentos cirúrgicos desse porte ocorrem no país a cada ano. "A pesquisa vai trazer uma repercussão muito grande. É uma técnica inédita que pode ser responsável pela melhoria de vida de muitas pessoas", afirma.

Mentalidade

O Ministério da Saúde pretende criar rede de pesquisas em células-tronco em todo o país. Por esse motivo, oito Centros Regionais de Terapia Celular serão instalados para que os estudos estejam espalhados em território nacional. Um desses laboratórios será construído no Paraná, com investimentos superiores a R$ 2 milhões. "Contando com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), essa unidade servirá à pesquisa e à produção", diz o doutor em Biologia Molecular e pesquisador titular do Instituto Carlos Chagas, Samuel Goldenberg.

O financiamento inédito de pesquisas com células-tronco e outros investimentos em tecnologia mostram a mudança da mentalidade brasileira no tema ciência. A construção dessa rede é uma prova do novo conceito. "As verbas disponíveis para a pesquisa aumentaram de alguns anos para cá. Elas ainda não são suficientes, mas é uma mudança de parâmetro", afirma Goldenberg. Para ele, iniciativas dirigidas ao desenvolvimento de áreas e de pesquisas estratégicas para o país passaram a ser incentivadas. "Isso está ocorrendo em paralelo com a pesquisa básica, que é o correto."

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