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Flow Podcast sem perdão no YouTube: rígidas penalizações permanecem mesmo após mudanças
Igor Coelho, fundador do Flow Podcast: “Estamos sendo punidos sem parar de uma maneira absolutamente desproporcional e injusta”| Foto: Reprodução

Considerado o expoente da “explosão” de podcasts no Brasil, o Flow Podcast sofre há quase dois meses com penalizações aplicadas pelo YouTube, plataforma na qual soma 3,7 milhões de seguidores e quase meio bilhão de visualizações. As punições – desmonetização e redução do alcance – tiveram início no dia 18 de fevereiro e estão relacionadas a falas do ex-apresentador do programa Bruno Aiub, conhecido como Monark. Em episódio apresentado no dia 7 de fevereiro, ele fez comentários considerados por alguns como apologia ao nazismo.

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Um grande número de pessoas, insatisfeitas com os comentários, passaram a pressionar patrocinadores do Flow Podcast, e a empresa decidiu pelo desligamento de Monark de seu quadro societário. Mesmo após a demissão do apresentador, de ter tomado medidas para demonstrar que assumia a responsabilidade pelo ocorrido e ainda deixar claro que estava tentando contornar a situação, a empresa foi notificada pelo YouTube sobre a retirada da monetização do canal e recebeu prazo de 24 horas para se defender. A defesa foi apresentada dentro desse tempo, mas as punições foram efetivadas.

Após 30 dias do início das sanções, o Flow poderia entrar com um pedido de revisão das medidas aplicadas. No dia 21 de março venceu esse período. A empresa apresentou pedido de reconsideração, mas até o momento – quase dois meses depois do episódio que gerou a crise – não houve retorno e o canal permanece sob penalização.

Desmonetização, punição a sete canais e proibição de criar novas contas

Além do Flow Podcast, outros seis canais vinculados ao negócio, que não estavam relacionados ao caso que gerou a crise, sofreram as mesmas punições – a medida, segundo gestores da empresa, impactou financeiramente dezenas de pessoas. Além disso, a plataforma de vídeos proibiu a criação de novos canais por parte dos donos das contas penalizadas.

“Optamos por um caminho apaziguador, de responsabilidades. Mas não adiantou, já que o YouTube nos puniu do mesmo jeito, de forma totalmente desproporcional. Não digo da punição ao Flow, punição que discordo, mas entendo. Mas eles puniram outros canais que não tem nada a ver com o caso”, disse Igor Coelho, sócio-fundador e apresentador do Flow Podcast. “Parece que estão nos asfixiando. Quando cortam a monetização, cortam o alcance, param de impulsionar o conteúdo. Acho muito desproporcional e injusto”, afirmou.

Para não desligar nenhum dos cerca de 150 colaboradores diretos ou indiretos, os gestores da empresa chegaram a reduzir seus salários em até 90%. Diante das sanções, representantes do podcast fizeram tentativas diversas de contato com a representação do YouTube no Brasil. No dia 22 de fevereiro, houve uma reunião na qual ficou determinado que a plataforma de vídeos aplicaria treinamentos e mentorias aos colaboradores do Flow Podcast sobre “boas práticas de criação de conteúdo”. “Nessa reunião eles falaram que, de fato, tinham pesado a mão ao punir canais que não tinham nada a ver com a história. Admitiram que erraram a mão, mas mantiveram as punições”, critica Coelho.

O treinamento só ocorreu no dia 31 de março. Na ocasião, os gestores do Flow foram informados que a avaliação do caso está nas mãos de um departamento interno do YouTube, isolado dos criadores de conteúdo, ao qual os representantes do podcast não podem ter acesso.

Posicionamento do YouTube

A reportagem fez questionamentos específicos ao YouTube a respeito do caso, das políticas da plataforma relacionadas à imposição de punições e da revisão dessas punições. Em resposta, a assessoria do YouTube informou que o caso em questão está sob análise e que a suspensão da monetização tem prazo indeterminado. Veja abaixo a nota na íntegra:

"Nossas Políticas de Monetização de Canais e o Código de Responsabilidade dos Criadores estabelecem que não é permitido comportamento ofensivo que coloque em risco a segurança e o bem-estar da comunidade do YouTube, formada por espectadores, criadores e anunciantes. A violação dessas políticas pode fazer com que o canal seja suspenso do Programa de Parcerias do YouTube e, consequentemente, ser desmonetizado. 

A suspensão da monetização vale por prazo indeterminado. O usuário que for suspenso do Programa de Parcerias do YouTube, no entanto, poderá solicitar nova inclusão para voltar a ter acesso a todas as ferramentas de monetização e o pedido será analisado pela plataforma.

 O caso em questão está sob análise".

“Alternativa à cultura de cancelamento”

As penalizações impostas ao Flow Podcast também foram aplicadas a Monark no dia 17 de fevereiro, quando o produtor de conteúdo se preparava para lançar um novo podcast em que apenas ele seria o apresentador. Na ocasião, Monark disse, em suas redes sociais, que estava sofrendo perseguição política da plataforma de vídeos.

“Recebi um e-mail hoje do YouTube dizendo que estou suspenso e não posso mais criar ou monetizar canais por causa dos meus comentários que foram infelizes, sim, mas de maneira alguma foram mal intencionados ou defenderam qualquer ideologia extremista. E eu sofri as consequências. Eu perdi o Flow, eu saí da empresa, eu pedi desculpas várias vezes, mas não acabam as retaliações”, disse o influenciador em vídeo. “Errar eu errei, mas as consequências estão muito fora de proporção”.

Diante das negativas por parte da plataforma de reconsiderar a medida, Monark decidiu criar um novo podcast no Rumble, plataforma de vídeos que rivaliza com o Youtube com proposta de livre discurso e baixa moderação de conteúdo. A empresa, lançada em 2013 pelo canadense Chris Pavlovski, fez um anúncio no dia 2 de março dizendo que o Brasil seria sua “próxima parada”.

Globalmente no segmento político, o Rumble conta tanto com grandes nomes da direita, como o ex-presidente Donald Trump e o estrategista-chefe da Casa Branca Steve Bannon, quanto da esquerda, como o jornalista Glenn Greenwald, que é um crítico do excesso de moderação por parte das Big Techs. No Brasil, até o momento, os dois principais influenciadores que passaram a produzir conteúdo no Rumble são o Monark e o escritor Reginaldo Ferreira da Silva, conhecido como Ferréz, que deixou o YouTube há um mês para abraçar um projeto de “liberdade total” no novo site de vídeos.

"Eu estava insatisfeito. A gente fala uma palavra que eles [no YouTube] não gostam e já limitam o alcance dos nossos vídeos. Não pode citar a palavra pedofilia, por exemplo. Não pode falar a palavra chacina. Meu programa era ao vivo, não tinha editor. Os assuntos da periferia são pesados. Tinha problema o tempo todo. Fui desanimando", disse Ferréz à Folha de S. Paulo.

Já o ex-apresentador do Flow Podcast, que iniciou seu programa no Rumble nesta segunda-feira (4), disse em suas redes sociais que a plataforma é uma alternativa à cultura de cancelamento e de censura das Big Techs. “Eu fui completamente censurado e desmonetizado [do YouTube] de forma desproporcional", disse Monark. “Desafio a todos os lacradores de internet me cancelarem lá no Rumble. Boa sorte! Tentem fazer eles me cancelarem”, afirmou.

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