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O conquistador espanhol Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, sobrevivente de muitas lutas e naufrágios, estava longe de ser um homem que se impressionasse facilmente. Mas no dia 31 de janeiro de 1542, teve razões de sobra para se espantar com o que viu, quando descia o Rio Iguaçu de canoa à procura de uma rota para Assunção, no Paraguai. À frente da expedição que partira da Ilha de Santa Catarina, Cabeza de Vaca precisou de toda a sua sorte e habilidade de navegador para escapar de uma armadilha terrível, anunciada pela correnteza cada vez mais forte e pelo barulho de água desabando de grande altura. A cilada era as Cataratas do Iguaçu, que logo depois provocaria seu comentário apaixonado: "Santa Maria, que beleza!". Cabeza de Vaca foi o primeiro homem branco a conhecer o mais espetacular conjunto de quedas d’água do mundo, mas talvez por modéstia de conquistador, deu a elas o singelo nome de Cachoeiras de Santa Maria.

Atualmente, quem visita a cidade de Foz do Iguaçu nem pensa em deixar de conhecer as Cataratas do Parque Nacional do Iguaçu, tombado como patrimônio natural da humanidade. O parque mais antigo do país recebe em média 1 milhão de visitantes por ano, mais da metade composta por turistas estrangeiros. São 185 mil hectares de mata pluvial subtropical, considerado um dos últimos refúgios ambientais do Paraná. Com quase 300 saltos – o número varia conforme a vazão do rio –, as Cataratas do Iguaçu não cabem numa única foto nem podem ser desvendadas numa única manhã. Há quilômetros de passarelas dos dois lados do rio e passeios para todos os gostos e bolsos. O mais concorrido dentro do parque é o Macuco Safári, uma aventura que permite admirar as cachoeiras por um ângulo diferente. Quem topa o desafio de gastar em torno de R$ 140 na temporada, encontra fortes emoções numa ousada navegação pelo rio Iguaçu. Os ligeiros botes infláveis rasgam as corredeiras rio acima em busca de belas paisagens, levando os turistas a poucos metros das quedas d’água, onde é impossível não ficar molhado.

Viajar a Foz de Iguaçu não se limita apenas em conhecer seu principal cartão-postal ou ser ponto de partida para as tradicionais compras em Ciudad del Este, no Paraguai. Foz é um dos destinos mais visitados por estrangeiros no Brasil e, por isso, está procurando diversificar seus atrativos a fim de aumentar o tempo de estada do turista na cidade. "O objetivo é atingir um público mais jovem e aventureiro, investindo em áreas que têm muito a ver com a geografia do município, mas não eram tão exploradas: como o turismo radical e ecoturismo", explica Ana Biesek, assessora da Secretaria de Turismo de Foz. O visitante que vem ao Parque Nacional pode, se quiser, passar o dia todo sem olhar as cataratas nem alimentar os traiçoeiros quatis, que são o símbolo do lugar. Há roteiros que incluem rapel, rafting, tirolesa, escalada, arvorismo, trilha de mountain bike, trekking e até vôo de helicóptero. Grande parte do público ainda não descobriu essas opções, segundo funcionários das empresas que exploram os esportes de aventura na cidade. "Ainda não recebemos muita gente, mas é porque estamos no início de um novo produto", conta Marcelo Sossella, proprietário da Weekend Fly, que faz vôos de trike (aparelho formado basicamente de uma asa delta, motor e triciclo) na região do Lago de Itaipu.

Nem mesmo a Itaipu Binacional escapou de investir na ampliação de suas potencialidades turísticas. A maior usina hidrelétrica em operação no mundo nasceu fruto de um empreendimento desenvolvido em conjunto pelo Brasil e o Paraguai, no Rio Paraná. A potência instalada da usina, cerca de 12.600 megawatts, supre mais de 80% da energia elétrica consumida em todo o Paraguai e cerca de 30% do abastecimento das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Por sua grandeza e pelo interesse que desperta em todo o mundo, Itaipu está entre as principais atrações turísticas de Foz do Iguaçu. Desde que foi aberta à visitação em 1977, já recebeu cerca de 10 milhões de visitantes. Dentro do Complexo Turístico de Itaipu, o turista pode visitar o Ecomuseu, o Refúgio Biológico Bela Vista, o Canal da Piracema e também assistir à Iluminação Monumental da Barragem. O espetáculo ocorre duas vezes por semana e tem curta duração, pois a energia gasta com a apresentação seria suficiente para iluminar uma cidade de 15 mil habitantes. Recentemente a Itaipu Binacional inaugurou o Canal de Águas Bravas, que será a primeira pista de canoagem artificial da América Latina. "O projeto era para ser utilizado durante os Jogos da Natureza, que infelizmente deixaram de existir", explica Wagner Euclides de Souza, guia e coordenador do acervo audiovisual de Itaipu. A intenção agora é que a Seleção Brasileira de Canoagem passe a treinar no local, onde haverá em 2007 a realização de um importante campeonato mundial.

Fronteira da fé

Não é à toa que Foz do Iguaçu transcende a imagem de uma cidade típica de fronteira. Sua urbanidade bem planejada, com ruas e avenidas largas e arborizadas, esconde uma das maiores diversidades culturais do Paraná. Estima-se que existam cerca de 20 colônias estrangeiras no município. A expressão máxima dessa mescla de etnias, crenças e costumes se dá através da religiosidade e dos monumentos erguidos em nome da fé, que se multiplicam pelas vias locais. No centro da cidade, destaca-se a Igreja da Matriz, com sua nave principal dotada de uma majestosa torre. Sobra beleza também para a Mesquita Muçulmana, espaço reservado aos seguidores de Alá, na segunda maior comunidade árabe do Brasil.

Outro cartão-postal de Foz do Iguaçu, mas pouco conhecido, é o Templo Budista, local sagrado detentor de uma arquitetura impressionante. São 2,5 mil metros quadrados, divididos em dois andares. O interior do templo é aberto à visitação somente aos domingos; nos outros dias da semana, os fiéis ficam enclausurados meditando sobre almofadas vermelhas espalhadas pelo chão. No centro do pátio externo, a réplica de concreto do famoso Buda sentado, é imponente. Tem sete metros de altura e ofuscam os olhos de quem o vê com sua superfície dourada. O grande diferencial do templo está em sua alta localização, cuja vista inclui a Ilha Acaray (no meio do Rio Paraná) e a Ponte da Amizade, atrações vigiadas sempre pelo grande Buda. Maravilhas além das Cataratas, onde o turista é agraciado com 112 estátuas idênticas, representando mulheres com as mãos estendidas para frente, num sinal de boas-vindas e energia positiva para quem visita o templo e Foz do Iguaçu.

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