Já sem espaço para comportar 1,6 milhão de carros, as ruas de Curitiba podem um volume de tráfego 73% maior que o atual| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Faixa da carona

A prefeitura de Salvador (BA) implantou nesta semana uma medida para incentivar a carona e diminuir a quantidade de carros nas ruas. Um trecho viário de cinco quilômetros de extensão se tornou de uso exclusivo para quem trafega acompanhado no carro. A ação, batizada de Faixa Solidária, inverte uma das pistas das 6 h às 9 h, oferecendo mais uma alternativa no sentido Centro da cidade.

Estudo feito pela prefeitura constatou que 76% dos veículos que fazem esse percurso diariamente não conduzem mais ninguém além do próprio motorista.

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O trânsito de Curitiba ruma para um beco sem saída. A cidade, que tem na mobilidade um de seus maiores desafios, terá de encontrar um desvio se não quiser chegar ao índice de um carro por habitante nos próximos 25 anos. A capital paranaense, que hoje tem 1,6 milhão de carros, pode galgar ao segundo lugar no pódio das maiores frotas do país, atrás apenas de São Paulo. Até 2040, o aumento da frota deve atingir a marca de 3,4 milhões de carros circulando no mesmo espaço que hoje já beira a saturação.

A projeção foi apresentada ontem no evento "De olho no futuro: como estará Curitiba daqui a 25 anos?", promovido pelo Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), que organiza uma série de eventos em 13 capitais brasileiras para promover o debate do planejamento das grandes cidades nas próximas décadas. A estimativa tem como base o atual ritmo de crescimento da frota e as atuais condições do mercado automobilístico nacional.

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Alerta

Para o engenheiro Carlos Valério da Rocha, presidente do Sinaenco Paraná, os números servem de alerta e mostram que esse aumento está ligado sobretudo à um planejamento que dá preferência ao transporte individual motorizado. "É preciso mudar alguns paradigmas e fazer com que o transporte público seja eficiente a ponto das pessoas poderem largar o carro em casa. Mas para isso é preciso que ele seja pontual, confortável e barato", indica. O engenheiro diz que é preciso apostar na eficiência dos modais investindo, de forma conjunta, no metrô, VLT, táxis e bicicletas com visão de planejamento pensando no futuro. "As soluções de curto prazo acabam atropelando as soluções de longo prazo. As gestões de quatro anos não pensam em uma década", avalia.

Otimismo

Apesar do cenário alarmante, o presidente do Ins­­­­ti­­tuto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Sérgio Pires, se diz tranquilo e acredita na possibilidade de reverter essa situação. "Sou otimista. É um retrato dentro das leis de mercado hoje. Havendo uma mudança na regra do jogo, como uma sobretaxa no mercado automotivo, o impacto também ocorre no sentido contrário", avalia.

Mesmo reconhecendo que a perspectiva é preocupante, ele garante que o Ippuc tem trabalhado para evitar que isso aconteça, ao formular o plano de mobilidade de Curitiba."Para que o planejamento tenha uma vida longa é preciso uma somatória de coisas e o cidadão possa optar dentro de uma cidade que escolheu a multimodalidade. Mas não pode ficar só a cargo do poder público, tem que contar também com a colaboração da sociedade", alerta.

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