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Empunhando armas, índios resistem a deixar o prédio da Funasa em São Paulo, mas se dizem dispostos a dialogar | Maurício Lima/AFP
Empunhando armas, índios resistem a deixar o prédio da Funasa em São Paulo, mas se dizem dispostos a dialogar| Foto: Maurício Lima/AFP

Presidente da fundação minimiza números de relatório

O presidente da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Danilo Forte, criticou ontem um relatório divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que aponta a morte de 68 indígenas por falta de assistência médica em 2008. "Em um universo de 500 mil índios, se tiverem morrido só 68 por falta de assistência, é um número bom. Se você for comparar com as populações... Quantas pessoas morrem por dia em Brasília?’’, disse.

A declaração foi feita durante entrevista sobre a ocupação em São Paulo. Questionado sobre o motivo da falta de assistência, Forte respondeu: "Você acha que não morre ninguém por desassistência aqui no entorno de Brasília?"

Logo depois, o presidente do órgão deu exemplos da dificuldade de atender os povos indígenas em áreas mais afastadas. "Não é uma coisa tão simplória para você dizer: 68 morreram por desassistência, entendeu? Não é bom ninguém morrer. Agora, acho que a gente tem avançado.’’

A coordenadora da pesquisa do Cimi, a antropóloga Lúcia Helena Rangel, rebateu a declaração. "Não tenho autoridade na área de saúde para dizer que 68 mortes é pouco. Mas temos casos de desassistência à saúde que atingiram cerca de 4 mil índios’’, argumentou. Das 68 mortes de índios apontadas pelo Cimi, 37 eram crianças.

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) encaminhou ontem ao Ministério Público pedido para a reintegração de posse do prédio da coordenação regional do órgão em São Paulo. A sede está ocupada por cerca de 100 índios desde terça-feira pela manhã. No fim da noite de ontem, os indígenas deixaram o prédio e passariam a noite na calçada. Eles ameaçam ocupar a sede novamente hoje.

Ao longo do dia, representantes da diretoria da Funasa tentaram negociar com os manifestantes a desocupação, mas não tiveram respostas. Os índios exigem que o coordenador do órgão, Raze Rezek, entregue o cargo.

Cunho político

O presidente da Funasa, Danilo Forte, disse que não discute a saída de Rezek, enquanto grupos indígenas continuarem ocupando o prédio da fundação. "Não queremos violência, mas as condições de trabalho precisam ser resguardadas", diz. Para o diretor, a ocupação tem apenas cunho político.

A reivindicação da saída de Rezek já havia sido aceita pelo próprio coordenador, que, por fax, enviou um pedido de demissão para Forte. "Raze está chocado", justificou o presidente da Funasa. "Ele está transtornado, não tem experiência de conviver com movimentos sociais, sobretudo o indígena, que é bastante politizado."

Não é a primeira vez que o coordenador pede afastamento. Em dezembro, quando houve manifestação semelhante, o coordenador pôs o cargo à disposição. "Na época, as queixas sobre a demora nas obras eram procedentes. Tomamos as medidas necessárias, mas é preciso um tempo para que elas aconteçam", justificou Forte. Ele se disse surpreso com a ocupação e a atribuiu ao "afogueamento" do movimento, fruto da movimentação do "Abril Indígena".

O esforço em afirmar que o coordenador deve permanecer no cargo ocorre mesmo depois de Rezek afirmar que as queixas das lideranças são procedentes. Na avaliação do presidente da Funasa, a situação no prédio de São Paulo já estava controlada: Rezek e outros funcionários já haviam sido liberados e o delegado Flávio Trivella, da Polícia Federal, em nenhum momento teria ficado como refém. "Você já viu um delegado ficar preso?"

No fim da manhã, Forte enviou um funcionário de Brasília para negociar com os líderes indígenas. "Ofereci também negociar com uma comissão, que poderia vir até Brasília", completou o presidente. "Mas não é com manifestação política que eles vão conseguir sucesso. Isso só traz mais obstáculos."

Pressão

Rezek está sendo pressionado a deixar o cargo por um grupo de integrantes de 36 comunidades – representando cerca de 6 mil índios – que protestam na sede da Funasa. Os líderes indígenas que estão no local reivindicam uma atuação mais eficiente da Funasa no estado e afirmam que a gestão de Rezek é considerada insatisfatória.

Para os índios, a permanência de Rezek é insustentável. Eles afirmam que desde sua posse, em agosto de 2007, o atendimento às populações indígenas só piorou. "Não há ambulâncias para transportar os doentes. Em muitos lugares o esgoto corre a céu aberto e não há fornecimento de água tratada. As crianças estão ficando doentes", assegurou um dos porta-vozes do grupo, o cacique Guaraci Uwewidjú, da região litorânea de São Paulo.

Os índios controlam a entrada e saída de pessoas da sede da Funasa. Durante todo o dia foram acompanhados por Trivella. Ele chegou com Rezek, levou-o para almoçar numa picape da PF, mas voltou sozinho. O número de índios no prédio gira em torno de 50. A alimentação está sendo fornecida pela própria Funasa.

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