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O Uberaba, bairro da zona leste de Curitiba, virou campo de batalha de grupos de jovens, mas que contêm até crianças nas suas fileiras. A região mistura zonas de favelas com outras onde predominam casas de classe média e condomínios fechados de alto luxo. A disputa por território de tráfico, por prestígio ou simplesmente a rivalidade infundada de grupos que não se bicam levaram o bairro a uma rotina de violência que assusta e prejudica os moradores.

Há 12 dias ocorreu um dos casos mais graves. Três jovens foram executados na Vila Icaraí. A Polícia Civil ainda investiga o caso, mas a hipótese mais provável é acerto de contas entre os dois grupos rivais – a da Vila Icaraí e a do Jardim União. "Foi uma disputa de espaço para traficar drogas", afirma o delegado Cassiano Aufiero. Naquele mesmo dia, um comerciante foi morto em um assalto. Assaltos, por sinal, ocorrem à luz do dia, relatam os lojistas locais. Além disso, as arruaças promovidas pelas galeras é grande. A Polícia Militar recebe pelo menos um chamado por dias por conta da algazarra. "Em um domingo à tarde, escutamos tiros depois que dois grupos se encontraram", relata uma aposentada, que mora há seis anos no local e preferiu não se identificar. Há pelo menos seis grupos identificados atuando na região. Seus integrantes têm entre 10 e 25 anos.

Terra

A situação mais crítica está nas áreas de invasão, na divisa com São José dos Pinhais. Há trânsito intenso de pessoas. Muitas ruas são de saibro e não têm iluminação. Os casebres ficam praticamente amontoados uns nos outros. O vice-presidente do Conselho de Segurança do bairro, Jaime Piloni, explica que isso é resultado de um inchaço desgovernado que vem acontecendo nos últimos 12 anos no Uberaba.

Neste terreno inóspito, rapazes e moças se encontram em esquinas e praças no fim do dia. A reunião costuma ser regada a "tubão" (uma mistura de refrigerante e cachaça, feita em garrafa pet de 2 litros). O consumo de drogas é freqüente.

Cenas assim, no entanto, não são exclusivas da parte pobre do Uberaba. Também há turmas em regiões mais nobres, como relatam Uiliam, de 15 anos, e Andrei, 17 anos, (nomes fictícios). "Temos rixa com a galera da Vila São Paulo. É uma coisa que vem de tempo. Eles acham que só porque eles têm melhores condições podem nos chamar de favelados", contam os garotos, que há quatro anos participam do grupo da Vila Macedo.

Para marcar território, os grupos picham suas iniciais em muros e postes. "De vez em quando a gente passa na Vila São Paulo. Na maioria das vezes dá briga. Lá tem umas minas... elas gostam disso." A dupla de amigos diz que sua galera mantém bom relacionamento com os moradores da região e que eles já "estão acostumados" com a presença da turma por ali.

Os moradores não pensam exatamente assim. Mas o medo de represália impõe a lei do silêncio a quem não quer ver seus problemas aumentarem. As reclamações (sigilosas) são muitas: ameaças de violência, assaltos, som alto, gritaria e bagunça. "Se passa alguém sozinho e eles não conhecem, já partem para cima", diz um motorista. "Aqui as pessoas têm de cuidar das casas um das outras [por causa dos assaltos]", conta uma dona de casa. "A missa teve de ser adiantada uma hora para não andarmos tarde nas ruas", lembra outra moradora.

Os vizinhos contam que boa parte dos jovens é viciada em drogas. Muitos começam a furtar dentro de casa para manter o vício – o passo seguinte é assaltar fora de casa. Mangueiras, torneiras e até bueiros são levados e revendidos. Neste ano, uma farmácia da Avenida Salgado Filho já foi assaltada quatro vezes – na última semana, perdeu dois hidrômetros. "Eles chegam armados e a ação é rápida. Dizem que se chamarmos a polícia, voltam", conta o gerente da farmácia.

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