• Carregando...
O valor da gasolina em Curitiba aumentou menos de 4% nos últimos três anos contra uma alta de 18% na passagem de ônibus no mesmo período | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
O valor da gasolina em Curitiba aumentou menos de 4% nos últimos três anos contra uma alta de 18% na passagem de ônibus no mesmo período| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Custo por quilômetro

Metodologia de cálculo encarece a tarifa de ônibus, diz economista

Apesar de ser menor do que o valor da tarifa técnica, o preço cobrado do passageiro de ônibus em Curitiba é caro. Essa é a opinião do economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). "É caro porque os deslocamentos são pequenos. A metodologia utilizada para o cálculo encarece a tarifa", afirma. O cálculo da tarifa técnica é feito a partir da divisão do "custo por quilômetro" pelo "IPK" (Índice de Passageiros Pagantes Equivalentes, resultado da divisão entre a média de passageiros/mês pela quilometragem média mensal percorrida).

Assim como a conta final, as variáveis que definem o custo por quilômetro também são complexas. Esse indicador leva em consideração gastos com combustíveis e lubrificantes (15,92%), pessoal (45,29%), administração (4,73%), amortização (7,14%), rentabilidade (10,21%) e impostos (8,94%).

Segundo Silva, a adoção da integração temporal seria uma forma de baratear a tarifa em Curitiba. "A integração só no terminal faz com que as pessoas façam trajetos maiores para pagar menos", critica. (RM)

139.074 motocicletas e motonetas

estavam registradas em Curitiba em agosto de 2012 – uma alta de 39% em relação a janeiro de 2009, quando a frota não passava de 99 mil. Segundo o mestre em Engenharia de Transportes pela Uni­­ver­­sidade de São Paulo, Sérgio Ejzenberg, os passageiros de ôni­bus também têm migrado para o transporte sobre duas rodas. "A moto consome pouco combustível", diz. Para ele, o preço da ga­­solina é importante, "mas o que faz o passageiro migrar [para o transporte individual] é a qualidade de serviço e o tempo de deslocamento".

Pense bem

O que é necessário para você trocar o carro pelo transporte coletivo?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Mobilidade, conforto, status e privacidade são os principais argumentos utilizados por quem prefere circular pela cidade de carro em vez de andar de ônibus. O preço do combustível, porém, também já pode entrar no rol dos vilões do transporte público. Entre janeiro de 2009 e setembro deste ano, a política de preços do governo federal praticamente congelou o valor da gasolina e do diesel no país. Em Curitiba, a gasolina aumentou menos de 4%, enquanto o diesel ficou até mais barato. Já a tarifa de ônibus na capital cresceu 18% no período.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), descontando as flutuações do período, o preço médio da gasolina em Curitiba aumentou apenas R$ 0,10 nos últimos três anos. Já a tarifa de ônibus saltou de R$ 2,20, em janeiro de 2009, para os atuais R$ 2,60. Segundo especialistas, o resultado dessa equação é uma das causas do crescimento ínfimo na quantidade de passageiros nesse período.

No ano passado, por exem­­­plo, a Rede Integrada de Transporte transportou 310,3 milhões de passageiros pagantes – quantidade in­­ferior aos 323,5 milhões de 2008, ano no qual a população da Região Metropolitana de Curitiba era 4% menor do que a atual (3,261 milhões de habitantes). Uma das variáveis utilizadas no cálculo da tarifa de ônibus é a quantidade de pessoas transportadas: quanto menos passageiros, maior o valor cobrado nas catracas.

Peso na decisão

De acordo com economistas e especialistas em gestão urbana, o preço do combustível não é o principal atrativo de quem opta pelo automóvel particular, mas pode pesar na decisão. "O preço da gasolina deve ser a quarta variável em uma escala liderada por conforto, mobilidade e privacidade. Mas é claro que, em longo prazo, a política de priorizar o transporte individual está equivocada", diz Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos.

O economista Sandro Sil­va, do Departamento Inter­sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), diz que há um erro na política de transporte urbano do Brasil, na qual o transporte individual é privilegiado em detrimento do coletivo. "O governo reduz o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para os carros, congela o preço do combustível e tudo isso tem um custo social muito grande."

Enquanto menos pessoas optam pelo ônibus, cresce vertiginosamente a quantidade de carros particulares em Curitiba. Entre janeiro de 2009 e agosto de 2012, a frota de automóveis (excluindo motos, caminhões e ônibus) na capital subiu 14% – passando de 790.623 para 903.797.

Sérgio Ejzenberg, mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), porém, vê uma luz no fim do túnel dos crescentes congestionamentos curitibanos. "A cidade era um sucesso internacional, com uma política brilhante de mobilidade, mas o sistema de ônibus não dá conta de macrometrópoles, aquelas com mais de dois milhões de habitantes. Por isso, precisa investir em metrô, que é o transporte de massa mais viável."

Curitiba já tem um projeto de metrô que ligará o extremo sul da cidade ao centro, mas a obra só deve ficar pronta após a Copa de 2014.

Furo nas contas da Urbs passa de R$ 17 milhões

A frota circulante de ônibus cresceu em Curitiba e região – 50 ônibus a mais circulando nas ruas desde 2009 –, mas a baixa atração de novos passageiros vem pesando no bolso da Urbs, empresa que administra a Rede Integrada de Transporte (RIT). De acordo com dados da própria Urbs, o rombo no orçamento é de mais de R$ 17 milhões nos últimos 21 meses.

No total, entre setembro de 2010 – data na qual passou a vigorar o contrato de concessão do transporte coletivo – e junho deste ano, a empresa teve receitas de R$ 1,330 bilhão ante uma despesa de R$ 1,347 bilhão. A diferença se deve ao desequilíbrio entre a tarifa cobrada do passageiro (R$ 2,60) e a tarifa técnica (R$ 2,78) – valor atual repassado pela empresa às concessionárias de ônibus.

Por causa dessas diferenças, o governo do estado celebrou um convênio com a prefeitura para subsidiar o sistema de transporte coletivo da RIT. De acordo com o documento, vigente desde o último mês de maio, a previsão é de que sejam repassados R$ 64 milhões em um ano ao Fundo de Urbanização, instrumento gerido pela Urbs, sob o argumento de que o sistema integrado metropolitano é deficitário. O dinheiro já começou a ser depositado. Entre maio e junho foram R$ 8,2 milhões – média de R$ 4,1 milhões por mês, abaixo dos R$ 5,3 milhões mensais previstos pelo convênio.

O estímulo estadual ao transporte ocorre principalmente em razão do impacto da diminuição do total de passageiros (-4%, entre 2008 e 2011) na tarifa cobrada.

Valor congelado mantém inflação sob controle

Congelado há cerca de três anos, o preço da gasolina cobrado nos postos brasileiros poderia ser menor não fosse a alta carga de impostos. Do valor total do combustível, 37% se referem à cobrança de tributos como ICMS, PIS/Pasep e Cofins. O valor cobrado pelo litro da gasolina também inclui o custo de distribuição e revenda (16%), do etanol misturado (9%) e da refinaria (38%), no caso a Petrobras.

O preço da gasolina vem sendo usado pelo governo federal como forma de segurar a inflação. Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, essa política tem mais efeitos nocivos do que positivos. "Segura artificialmente a inflação, mas privilegia o transporte individual, causando mais poluição e congestionamentos, e o setor do etanol, que é um programa brasileiro", critica.

Até o primeiro trimestre deste ano, o Executivo mexia no porcentual da Con­tribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) que recai sobre os combustíveis para não repassar ao consumidor final os ajustes nas refinarias. Esse imposto, porém, foi zerado no último mês de abril. "Agora, ou o preço da refinaria será repassado ao consumidor ou governo deve fazer como fez com os bancos públicos, obrigando a Petrobras a reduzir a margem dela para que outras distribuidoras sigam o mesmo valor", explica.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]