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Um dos instrumentos para driblar a ausência de dados sobre a contribuição das igrejas aos programas sociais é recorrer à pesquisa Religião e Sociedade em Capitais Brasileiras, publicada no primeiro semestre deste ano. O mapa informa que 71,1% dos curitibanos são católicos; 13% são evangélicos pentecostais e 4,6% evangélicos de missão (batistas, adventistas e luteranos). Em maior ou menor grau, essas confissões têm a tradição de recolher e distribuir alimentos.

Tomando como base a Ação Social dos católicos e suas 200 toneladas por mês, pode-se deduzir que os 30% aproximados que ficam com as outras religiões somam no mínimo 100 toneladas a essa conta. Somente os espíritas, em 2005, atenderam cerca de 27,5 mil necessitados, segundo a Federação Espírita do Paraná. A equação é naturalmente imperfeita, já que o protestantismo tem como marca a independência de uma confissão em relação a outra, o que torna o cálculo mais arriscado. Mas não impossível. Pode-se, por exemplo, usar como referência as igrejas mais ativas e tentar uma projeção.

Um bom estudo de caso é a Igreja Batista Shalon, no Xaxim. Uma terça-feira por mês, os pastores lotam os 2,5 mil metros quadrados do barracão onde um dia funcionou uma fábrica de cadeiras. Lota de gente e de sacolas com alimentos. "É um dia de vitória", diz o pastor Joel Frederico, 47 anos. Os donativos beiram as 5 toneladas.

Carregá-los até o Xaxim é moleza. Nem é preciso caminhão. A comunidade formou 330 células arrecadadoras – semelhantes àquelas que vendem tupperware – com no máximo dez pessoas. É dali que sai a comida que alimenta o principal projeto da comunidade – uma creche para 130 crianças de zero a 6 anos – e a centena de cestas básicas distribuídas por mês.

Tudo começou em 2002, quando o pastor Odilon Vergara, 48 anos, comprou uma nova sede para a igreja e viu uma mulher penando para puxar um carrinho de papel. Ele perguntou à carrinheira quantos quilos carregava, se tinha almoçado e onde morava. Foi como soube que se tratava de uma vizinha da Vila Bromélia, logo ali, onde havia pelo menos 250 carrinheiros. O exercício de lógica virou projeto social.

Aos poucos, a igreja virou creche e ponto de encontro. Os carrinheiros tomam café da manhã, quando deixam os filhos, dando início a uma movimentação que termina só no final da tarde. Até lá, são consumidos 130 pães e feitas 535 refeições, um banquete diário sustentado pelas sacolinhas que chegam na terça-feira e 20 voluntários.

Tudo se encaixa como em uma fábrica – em especial quando os 10 quilos de arroz, 12 quilos de macarrão e 5 quilos de feijão diários ganham panelas gigantescas. Do muro da Shalom para fora a ação é quase invisível. Os moradores do bairro costumam reclamar da fila, da sujeira trazida pelos papeleiros e de um ou outro que improvisa um mictório tendo o céu por testemunha. Paciência – do muro para dentro, como diz o pastor Joel, administrador de formação, as igrejas ajudam na conta de menos da pobreza. Ponto para elas. (JCF)

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