• Carregando...

A internet já deixou há tempo de ser um ingênuo instrumento de pesquisa e de troca de mensagens e vem sendo utilizada, de maneira crescente, como suporte para práticas criminosas. Especialistas estimam que pelo menos duas vítimas caem em golpes virtuais diariamente em Curitiba, embora nem todas denunciem o problema.

Neste ano, o Núcleo de Combate aos Cibercrimes da Polícia Civil (NuCiber) já recebeu 31 denúncias – 22 em janeiro e 9 neste mês. Já a empresa de segurança digital E-net Security registrou 38 casos em 2006 (32 em janeiro). "Mas muitas pessoas não nos procuram, nem sabem que existe uma delegacia especializada e se sentem envergonhadas", afirma o especialista Wanderson Castilho, da E-net. "Os bancos ressarcem os clientes envolvidos em golpes, mas não trazem o caso à polícia", conta o delegado Demetrius Gonzaga de Oliveira, titular do NuCiber.

A lista de crimes cometidos pela internet não é pequena. Situações que antes aconteciam em discussões, na rua e dentro de casa, agora estão presentes com várias facetas no mundo digital. São casos de calúnia, difamação, ameaça, divulgação de segredo, estelionato, adultério, falsa identidade, preconceito, pedofilia. "As penas para crimes cometidos na internet são as mesmas que estão no Código Penal", diz o delegado Oliveira.

Golpes financeiros conhecidos como contos do bilhete premiado ou do diamante, que pareciam ultrapassados, continuam a ser praticados virtualmente, chegando por e-mails atrativos. "A maioria das pessoas acaba sendo vítima pela ganância", explica Castilho.

Para o especialista, a internet acaba sendo um meio propício para a ação dos piratas cibernéticos. Cerca de 200 milhões de pessoas estão logadas ao mesmo tempo em todo o mundo. Um cracker pode enviar uma mensagem que permita a invasão do computador para 1 milhão de pessoas em uma única vez. "Assim começam as fraudes de bancos. Se 1% desse total cai no golpe, são 10 mil pessoas que acabam fornecendo seus dados", avalia Castilho.

Golpes comuns

Empresas são as vítimas preferenciais dos bandidos virtuais – 54,83% dos casos do NuCiber são crimes contra o patrimônio. Neste ano, uma indústria de plástico e um hospital perderam R$ 24 mil em dois golpes cometidos pela internet.

Em 2005, R$ 10 mil foram retirados da conta da Associação dos Fruticultores do Paraná (Frutipar). "Um dia digitei todas as informações em uma página falsa do banco. Só percebi depois", relata a administradora Karyn Martins. "No mesmo dia já foi feita a transferência." As senhas pessoais de Karyn também foram roubadas. Todo o dinheiro foi ressarcido pelo banco.

Casos de ameaça e difamação são crimes que também têm se tornado comuns no mundo digital – 32,25% das denúncias do NuCiber. A universitária Daniela Silva, 28 anos, enfrenta esse problema desde outubro do ano passado. Ela recebeu mensagens de uma pessoa identificando-se como Anselmo, um admirador. Daniela tentou finalizar o contato, o que desencadeou uma série de ameaças. "Ele continuou insistindo e dizia que acabaria com a minha vida", relata.

Depois, a estudante começou a receber mensagens de Suzan, que teria contratado o serviço de Anselmo. "Ela diz ter raiva de mim porque eu teria dado em cima do marido dela. Mas é uma história cheia de falhas, mal-montada e sem nomes." O último e-mail recebido, em 22 de dezembro, dizia que os contatos da estudante receberiam mensagens difamando-a. "Me ligaram perguntando se eu tinha aids", conta. "Amigos também me informaram que receberam mensagens dizendo que eu fazia programas no Rio de Janeiro."

Para se defender, Daniela mandou e-mail para todos os seus contatos explicando a situação e dizendo que a polícia já estava investigando o caso. "Me armei dessa forma. Meus amigos já sabiam antes de receber qualquer mensagem." A estudante teve de mudar sua rotina. "Minha vida continua um inferno! Tudo me dá medo. Mudei de casa, telefone e carro. Uma pessoa que faz isso é capaz de qualquer coisa", desabafa. "Se eu pudesse, viveria sem internet. Gostaria de abrir mão disso!", conclui.

Serviço: NuCirb – Rua José Loureiro, 376, 1.º andar – telefone: (41) 3323-9448.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]