• Carregando...
Segundo o Ministério da Saúde, discussão sobre vacina atrasou aplicação do oseltamivir | Antônio Scorza/ AFP
Segundo o Ministério da Saúde, discussão sobre vacina atrasou aplicação do oseltamivir| Foto: Antônio Scorza/ AFP

Especificidade

Pico do vírus H1N1 difere nas regiões do Brasil

As variáveis regionais, como temperatura e umidade, também devem ser levadas em conta para o calendário da vacina contra o vírus da gripe A, diz a pesquisa de José Cerbino, coordenador de Programas e Projetos da Fundação Oswaldo Cruz em Brasília.

Enquanto no Sul e Sudeste a mortalidade foi mais alta nos meses de inverno de 2009 e 2010, nas Regiões Norte e Nordeste o pico da doença ocorreu em janeiro e fevereiro.

Porém, em todo o Brasil, a vacina começou a ser fornecida nos postos de saúde em maio, para crianças de até 2 anos, idosos, grávidas e portadores de doenças crônicas. "Nas zonas tropical e subtropical, como Norte e Nordeste, os dados de notificação mostram que o pico ocorre no início do ano. Entretanto, as pessoas são vacinadas em maio, depois do pico", diz.

A proposta esbarra ainda em um problema técnico, diz Jarbas Barbosa, do Ministério da Saúde. A vacina é feita para uso imediato, mas a variedade do vírus é divulgada em setembro, a vacina começa a ser produzida em outubro e ela começa a chegar ao país só em março ou abril.

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou que o Brasil errou na política de combate à gripe A (H1N1). "Em vez de usarmos uma estratégia que já se mostrava eficaz [o uso do antiviral oseltamivir], ficamos discutindo quem vacinar, se vamos vacinar jovens ou não", afirmou ele, assinalando que o país travou um "debate enviesado" em relação à importância da vacina.

O secretário comparou a estratégia adotada pelo governo brasileiro, centrada na vacinação, com a utilizada pelo Chile em 2009, quando houve uma epidemia da doença. "O Chile, que possui um inverno muito mais forte, teve um terço das mortes das regiões Sul e Sudeste do Brasil – a taxa de mortalidade no Chile ficou em 0,8 por 100 mil habitantes e aqui, em 3,2 por 100 mil habitantes. A diferença básica é que lá o oseltamivir foi usado em larga escala: o Chile perdeu uma grávida; o Brasil, 200", afirmou.

Revisão feita pelo Mi­nis­tério da Saúde nos prontuários das pessoas que morreram em decorrência da gripe A em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul mostra que a grande maioria das vítimas "ou não teve acesso ou teve acesso atrasado" ao antiviral oseltamivir, disse Barbosa.

Gripe sem remédios

Segundo o ministério, a causa do problema é a pouca tradição do brasileiro de tratar gripe com remédios. É comum os pacientes chegarem tarde aos serviços de saúde porque tentaram driblar os sintomas da gripe com chás e receitas caseiras. Essa cultura afeta os médicos, que não prescrevem o oseltamivir, conhecido pela marca Tamiflu.

Antes da chegada do inverno, o ministério emitiu alerta aos médicos sobre as doenças respiratórias e distribuiu um material com orientações – principalmente para os estados do Sul, além de São Paulo e Minas Gerais – sobre o período adequado para a medicação e a dosagem.

Neste ano, até o dia 20 de agosto, o país registrou 2.398 casos da doença e 307 mortes. Desse total, 1.786 pessoas adoeceram e 177 morreram na Região Sul (36 óbitos apenas no Paraná).

Equívoco

O Ministério da Saúde recomenda que não se espere pelo resultado de exame que aponta a existência ou não do vírus H1N1 para iniciar o tratamento. Qualquer paciente com síndrome gripal – tosse ou dor de garganta, com febre de 38°C – deve ter acesso ao remédio.

"O ministério distribuiu 1 milhão de tratamentos, 10 milhões de cápsulas. E orientou a descentralizar a medicação em postos, Unidades de Pronto-Atendimento, nas secretarias municipais. Se o paciente tiver receita médica, mesmo que da rede privada, o remédio tem de ser entregue", afirmou Barbosa.

Para o coordenador de Programas e Projetos da Fun­­­dação Oswaldo Cruz, em Brasília, José Cerbino, o acesso ao oseltamivir "é fundamental". Ele defendeu a tese Pandemia de Influenza no Brasil: Epi­demiologia, Tratamento e Pre­venção da Influenza A, no Pro­grama de Pós-Graduação em Epi­demiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública. A pesquisa identificou a eficácia do oseltamivir no tratamento da gripe A. "Nos pacientes internados no Rio, o medicamento reduziu em até 60% as mortes, mesmo quando utilizado até o quarto dia.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]