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Funcionários protestaram no prédio da Reitoria no início da manhã | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Funcionários protestaram no prédio da Reitoria no início da manhã| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Funcionários do Hospital de Clínicas (HC), de Curitiba, contratados pela Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) entraram em greve na manhã desta segunda-feira (9). A paralisação é por tempo indeterminado, segundo os trabalhadores. Cerca de 300 manifestantes se reuniram em frente ao hospital nas primeiras horas do dia e em seguida rumaram para a Reitoria para protestar.

Com a greve, o atendimento no maior hospital público do Paraná está sendo prejudicado em vários setores, como agendamento de consultas, ambulatório, radiologia, realização de exames e internação. Quatro das oito salas cirúrgicas estão sem atendimento. Dois leitos da UTI Geral, de um total de 14, também estão inativos. Para piorar, 40% do setor de distribuição de material está paralisado.

Negociação vai acontecer independente de qual seja o sindicato, diz reitoria

Em entrevista coletiva, o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, e o advogado que representa a Funpar, Luiz Antonio Abagge, afirmaram que estão de mãos atadas para negociar a reposição salarial dos trabalhadores da fundação. “Não interessa qual seja o sindicato. Nós vamos negociar. Mas precisamos de uma definição de qual sindicato irá sentar à mesa para podermos abrir a negociação”, afima Akel.

Abagge diz que é preciso primeiro definir isso para poder avançar no acordo coletivo. “Como tem a decisão judicial que aponta que é o Senalba que representa a categoria e terá o dissídio temos que aguardar o que vai acontecer para continuar a negociar”, relata.

Segundo o gerente de Atenção à Saúde do Hospital de Clínicas, Adonis Nasr, a tendência é de que o atendimento fique ainda mais comprometido. “O setor de distribuição comprometido deve fazer com que não se vença a produção hospitalar”, afirma. O setor de necrópsia e de coleta de sangue também não estão funcionando. “O atendimento ambulatorial e de agendamento está bem moroso”, ressalta Nasr.

A orientação do hospital é de que o agendamento de exames e consultas priorize pessoas de fora de Curitiba. Com isso, a estimativa da direção do HC é de que mil pessoas fiquem sem o serviço nesta segunda-feira.

Conforme o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público do Paraná (Sinditest-PR), 851 dos 3.132 trabalhadores que atuam no hospital são contratados pela Funpar e atuam em todos os setores da instituição. Segundo uma das coordenadoras do sindicato, Carla Cobalchini, 70% dos funcionários Funpar que atuam no HC são filiados ao Sinditest. Segundo ela, praticamente 100% dos funcionários da Funpar que atuam no turno da manhã tinham aderido à paralisação. No entanto, a direção do HC informa que apenas 95 dos 395 trabalhadores da fundação tinham paralisado os serviços.

Pacientes reclamam da falta de atendimento

O atendimento comprometido no HC gera reclamações e revolta nos pacientes que aguardam atendimento. Maria Silvino, de 68 anos, tinha exame de endoscopia agendado e foi informada que por morar em Curitiba deverá retornar outro dia – já que com a greve o hospital está priorizando pessoas que residem fora da capital do estado. “É um desaforo. Não me importa se demora o atendimento, só quero ser atendida. Isso me revolta”, indigna-se.

Mesmo quem é de fora da cidade e deve ser atendido, reclama da demora. Cenilde Albino e a filha Jéssica, de 15 anos, vieram de Marechal Cândido Rondon, no Oeste paranaense, para fazer um acompanhamento médico com um endocrinologista. “Não sei se serei atendida. A demora em nos informar e fazer o encaminhamento está muito grande”, diz.

Motivos e dissídio

A paralisação dos funcionários tem dois motivos: as dificuldades em negociar a reposição salarial e uma disputa judicial de qual sindicato representa a categoria. O Sinditest-PR alega que a administração da Funpar se recusa a negociar com a diretoria do sindicato o acordo coletivo dos trabalhadores. A data-base dos funcionários da Funpar é 1.º de maio. A fundação, por outro lado, contesta a legitimidade do Sinditest em representar a categoria.

A recusa se dá pelo fato de o Tribunal Superior do Trabalho (TST) ter decidido no mês passado, por unanimidade, que “os funcionários do Complexo Hospital de Clínicas/Funpar devem ser representados pelo Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativa, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Paraná (Senalba)”. Diante do impasse, o acordo coletivo fica comprometido.

Para tentar solucionar o problema está agendado para às 14 horas desta terça-feira (10) um dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que foi solicitado pelo Ministério Público do Trabalho. Neste dissídio, que contará com representantes do Senalba, do Sinditest, da Reitoria e da Funpar, será debatido qual sindicato representa a categoria e os passos para a realização de um acordo coletivo.

“A gente não queria que fosse para o Judiciário intermediar. Mas o dissídio é uma alternativa para solucionar isso”, afirma Carla. O advogado do Sinditest, Avanílson Araújo, acredita que o dissídio possa ser favorável ao sindicato. “Historicamente é o Sinditest que representa a categoria”, diz.

Ponto de interrogação

O Sinditest alega que a decisão do TST só pode valer para funcionários da Maternidade Victor Ferreira do Amaral e não do Hospital de Clínicas. Isso porque a ação foi proposta inicialmente focada apenas nos trabalhadores da maternidade. “Não era do HC”, ressalta o advogado.

No entanto, no entendimento do Abagge a decisão judicial vale para todos os trabalhadores da Funpar. “Mesmo porque o Sinditest representa apenas servidores públicos. Esse ponto de interrogação deve ser debatido no dissídio”, afirma.

Em entrevista concedida na última sexta-feira (6), o vice-presidente do Senalba, Marcelo dos Santos, disse que todos os demais funcionários que atuam na Funpar são representados pelo sindicato. “Até a decisão judicial, apenas os trabalhadores do HC faziam parte do Sinditest. A partir de agora, eles estão enquadrados no Senalba”, afirmou.

Protesto

Durante o protesto dos funcionários da Funpar, os manifestantes bloquearam a entrada do prédio da Reitoria da UFPR e gritaram palavras de ordem, como “mentiroso” e “vendido”, contra o advogado da Funpar, Luiz Antonio Abagge, que atendia a imprensa. Os manifestantes ainda levaram microfones e faixas para protestar.

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