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Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora | LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO
Manifestantes deitaram de mãos dadas no calçadão por cerca de meia hora| Foto: LUISA DE PAOLA/ AFP PHOTO

Golpe quebra maxiliar de sargento

Um único golpe de cassetete foi suficiente para quebrar ao meio o maxilar do sargento que teria entrado de gaiato na briga entre guardas municipais e militares do Exército. Ele pretendia desligar o som do carro quando foi atingido pelo golpe no queixo. "O médico disse que 10 centímetros acima pegaria a têmpora (osso lateral do crânio) e seria morte certa", diz o sargento. Ele diz ter perdido sete quilos desde a agressão, há um mês, por causa das limitações para se alimentar.

O sargento teve de fazer cirurgia para corrigir o desvio do maxilar. Teve de implantar duas placas de platina, oito parafusos e dois pinos na boca. É incômodo, dolorido e caro. Cada pino custa R$ 600. A alimentação passou de líquida para pastosa, mais ele ainda terá de esperar pelo menos mais duas semanas para voltar a fazer movimentos de tração com os dentes. Sargento de carreira do Exército, terá de ficar pelo menos 45 dias afastado das atividades normais. Ele questiona a abordagem dos guardas municipais.

"Mesmo se eles precisassem agredir, não poderiam ter batido em áreas vitais, deveriam bater nos braços e nas pernas, eventualmente nas costas", diz. Além dele, mais três militares foram golpeados na cabeça. O secretário municipal de Defesa Social, coronel Itamar dos Santos, relativiza os motivos da agressão. "Depende da agressão que estou sofrendo", compara. Para ele, foi preciso usar a força porque os militares resistiram à prisão. "Eles (guardas municipais) estavam com armas e poderiam tê-las usado se sentissem que corriam risco (de morte), mas não usaram", diz o coronel.

Um infeliz gracejo a uma jovem que passava pela Avenida Cândido Hartmann, no Bigorrilho, na altura do Parque Barigüi, desencadeou uma briga física e judicial entre guardas municipais de Curitiba e militares do Exército. Dois sargentos e cinco soldados foram parar no hospital, com fraturas no nariz, no maxilar e escoriações generalizadas. Eles acusam os guardas de abuso de autoridade, por tê-los torturado enquanto estavam algemados. Os guardas envolvidos no caso alegam resistência e desobediência dos militares. O confronto, ocorrido há um mês, estava em sigilo pelo comando das duas corporações. Os nomes não serão divulgados por motivo de segurança.

Era 17h30 de sexta-feira, 2 de março, quando de dentro do carro um soldado do Exército chamou de "bonitinha e gostosinha" a adolescente que passava pela rua. Ela respondeu com um gesto obceno. Ele revidou com palavrões. O bate-boca prosseguiu por alguns metros, com o veículo em marcha lenta. Logo em frente, alguém acompanhava tudo da porta do módulo da Guarda Municipal. A menina era enteada de um guarda. Em poucos segundos o militar seria abordado por homens uniformizados. Ele diz que foi arrancado do carro e levado para dentro do módulo, onde teria sido espancado por cerca de 15 minutos.

O militar conta que o jogaram num banhado e pisaram com o coturno na cabeça. Ele vertia sangue pelo nariz e um dos agressores teria aberto uma mangueira em pressão máxima contra seu rosto, quase tirando-lhe o fôlego. A versão dos guardas é que ele tentou fugir e caiu no banhado. Contudo, além do nariz quebrado ele apresentou escoriações nos dois lados do rosto e marcas de chutes nas costas. A pretexto de buscar os documentos do acusado, os guardas o colocaram na Parati e foram até a churrasqueira do parque onde ele participava com amigos de uma festa de despedida dos soldados que estavam dando baixa do quartel.

Vendo-o algemado e sangrando, um sargento avisou que ele só poderia ser preso pela Polícia do Exército (PE). Os guardas teria interpretado como uma reação. O sargento acabou levando um golpe de cassetete na cabeça. Nesse momento começaram as prisões em seqüência. Três soldados que estavam perto do sargento também entraram na roda, levando socos e chutes. Outro teria sido queimado com cigarro e levado chutes na boca só porque perguntou se a PE já havia sido acionada. "Eles chutavam e perguntavam: ‘quem manda aqui?’", relata.

Outro sargento disse ter passado ao lado da briga para desligar o som do seu carro, por achar que este era o motivo da confusão (à tarde, os guardas já haviam mandado eles baixarem o volume). Foi quando sentiu um baque no maxilar. Perdeu a consciência. Só lembra do momento em que já estava no carro em direção ao hospital. Para a Guarda Municipal, ele nem estava ali naquela ocorrência. Os outros seis militares foram levados pelos guardas ao 8.º Distrito da Polícia Civil para lavrar um termo circunstanciado, mas o sargento não. Ficou ali, ensangüentado, à espera da PE. Acabou sendo socorrido por pessoas que acompanhavam a operação.

Já no 8.º DP, o delegado não aceitou os militares sem antes passarem por atendimento médico. O grupo foi levado algemado para o hospital. Depois, assinaram o termo circunstanciado e foram liberados. Segundo o advogado do grupo, Reginaldo Antonio Koga, testemunhas civis presenciaram os atos arbitrários dos guardas municipais. Eles teriam, inclusive, retirado as faixas com seus nomes dos uniformes para dificultar a identificação. Eles chegaram ao local em várias motos e viaturas, e com cassetete na mão.

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