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Diplomacia

Brasil foi o único país da América Latina a tomar posição

A posição diplomática do Brasil naufragou junto com o navio mercante da frota "Paraná", bombardeado pelos alemães em abril de 1917. Dias depois, outro navio foi atacado e o país uniu-se definitivamente aos aliados. "Embora a perda dos navios tenha sido um fator culminante para a declaração de guerra, estudiosos revelam que a entrada dos Estados Unidos (ao lado dos Aliados) no conflito, no dia 6 de abril de 1917, também foi um fator significativo e de forte influência para a decisão da diplomacia brasileira", salienta Pâmela Fabris.

Diferentemente do que ocorreria na Segunda Guerra Mundial, no primeiro conflito o Brasil não enviou à Europa um efetivo número de combatentes: apenas uma missão com 92 médicos foi enviada para auxiliar os feridos em combate. Além disso, o país ajudou os aliados enviando matéria-prima e alimentos. "É importante lembrar que o Brasil foi o único país da América Latina a se envolver diretamente no conflito", salienta a historiadora.

O estopim

O historiador Wilson Maske explica que a política imperialista promovida pelas grandes potências exerceu papel fundamental para a eclosão da Primeira Guerra Mundial. A rivalidade política internacional piorou com o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, no dia 28 de junho de 1914, na Sérvia. Em julho, aconteceu a declaração de guerra da Áustria à Sérvia. Entre 1914 e 1916 muita movimentação dos exércitos antecedeu a chamada fase das trincheiras da batalha. "A população achava que estava indo para uma festa. Não tinha noção do drama de uma guerra", ressalta Maske.

      Socos, invasões e tiros para o alto se espalharam pelo Paraná durante a Primeira Guerra Mundial. Enquanto o conflito, iniciado há 100 anos, deixava um total de 9 milhões de mortos pela Europa, os brasileiros conviviam com incertezas e com um imenso mal-estar provocado pelos confrontos que aconteciam a milhares de quilômetros de distância.

      Após o corte de relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha, cidades como Santos, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba presenciaram dezenas de conflitos que tinham como alvo casas comerciais, residências, fábricas e instituições pertencentes a pessoas de origem germânica. "Na capital paranaense, as multidões nas ruas gritavam ‘Morra Alemanha’, ‘Morra os alemães’. A sede do jornal católico alemão Der Kompass foi apedrejada, invadida e parcialmente queimada", relata a historiadora Pâmela Fabris.

      Até 1917, o Brasil estava neutro no conflito, mas a situação mudou em abril daquele ano. No dia 5, submarinos alemães torpedearam o navio mercante da frota brasileira "Paraná" (não há registros de que o navio tenha ligação com o estado), que estava próximo da costa francesa. "No dia 11 de abril, o governo brasileiro decretou o rompimento das relações com a Alemanha e, no dia 26 de outubro, depois de perder outro navio, o país aliou-se ao grupo dos Aliados declarando guerra à Alemanha", relata Pâmela.

      Os aliados eram formados por Rússia, Grã-Bretanha e França, e que ao longo do conflito contaram com o apoio da Itália, Estados Unidos e Brasil. Do outro lado, o bloco era formado pelas chamadas Potências Centrais, que contava com a Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária.

      Curitiba viu colégios e associações como o Thalia, a Sociedade dos Operários Alemães e a Sociedade Teuto-Brasileira serem apedrejadas e terem itens ligados à Alemanha, como bandeiras, saqueados. "Tais objetos foram entulhados na Rua XV, onde uma imensa fogueira queimava os símbolos do país", revela a historiadora. A guerra atingiu em cheio o cotidiano das pessoas: nas padarias, nas ruas, na igreja, nas escolas, nos bailes e bares o conflito mundial se tornou assunto comum e motivo de desavenças.

      No dia 30 de abril de 1917, o jornal Diário da Tarde noticiou que em uma padaria da capital um descendente germânico e um ‘brasileiro’ trocaram socos motivados pela Primeira Guerra. No dia 16, o mesmo jornal publicou que "dois alemães, nas proximidades da Penitenciária do Ahú, davam tiros para o ar, armados de carabina, dando ‘morras’ ao Brasil e ‘vivas’ à Alemanha".

      "Escolas, jornais e associações foram fechados. Os alemães e seus descendentes que habitavam a cidade foram obrigados a procurar as autoridades para se registrarem e só poderiam deixar o estado depois de concedido um pedido de salvo-conduto", afirma Pâmela. Falar alemão em público se tornou perigoso. Corriam boatos de que espiões andavam por terras paranaenses. "De modo geral, as marcas da Primeira Guerra Mundial não se restringiram ao continente europeu", finaliza a historiadora.

      Confronto levou à falta de produtos no Brasil

      Economicamente, a guerra trouxe significativos impactos ao Brasil. A queda de arrecadações e o desabastecimento do mercado interno foram fatores cruciais para o despontamento de uma crise que assolou o país. "Ao mesmo tempo, a incipiente indústria brasileira ganhou forças devido à necessidade de suprir os produtos antes importados", relata a pesquisadora Pâmela Fabris.

      O historiador Wilson Maske também conta que o Brasil teve de apostar em indústrias locais. "A crise mundial impedia produtos de chegarem ao país e, consequentemente, ao Paraná. Também se investiu mais em infraestrutura, como ferrovias".

      No Paraná, a crise foi acentuada, com as classes populares, principalmente, sofrendo efeitos diretos. Houve aumento de preços de diversos insumos. "Não por acaso, em 1917, no terceiro ano da guerra, o Brasil experimentou sua primeira Greve Geral, na indústria e no comércio".

      Encontros

      Não só na capital, mas também em Paranaguá, Lapa, Morretes, Castro e Ponta Grossa, as multidões ocuparam os espaço públicos. "Em Curitiba, as manifestações ocorreram principalmente em abril de 1917, depois da declaração de guerra à Alemanha", revela a pesquisadora Pâmela Fabris. A Praça Tiradentes era o ponto de partida das manifestações. Lá, estudantes, políticos, jornalistas e populares discursavam a respeito da situação do Brasil na guerra. "Foi, por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial que se intensificou o debate acerca da necessidade de intensificar o ensino do Português nas escolas estrangeiras", completa.

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