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Cientistas se reuniram, no último dia 23, com evangélicos para debater evidências de uma mente inteligente por trás da criação do universo.
Cientistas se reuniram, no último dia 23, com evangélicos para debater evidências de uma mente inteligente por trás da criação do universo.| Foto: Wellington Junior, Consciência Cristã

A teoria da evolução está em "crise" e propostas como a de que há um "designer inteligente" por trás da criação do universo merecem, mais do que nunca, ganhar espaço nos debates da sociedade. É o que defendem cientistas adeptos à Teoria do Design Inteligente (TDI) que se reuniram, no último dia 23, com um grupo de evangélicos para discutir as evidências a favor de Deus na bioquímica.

O encontro foi promovido pelo Consciência Cristã, um dos maiores eventos cristãos da América Latina, realizado em Campina Grande, na Paraíba. Embora muitos dos adeptos à tese associem a figura do projetista inteligente ao Deus judaico-cristão, essa não representa, necessariamente, a opinião do grupo como um todo. Há agnósticos entre os defensores da proposta, por exemplo.

"Uma nova onda está varrendo o planeta, e esse tsunami se chama Design Inteligente", afirmou o cientista, ex-professor da Universidade de Campinas (Unicamp) e atual docente na Universidade Presbiteriana Mackenzie Marcos Eberlin. "Estamos fazendo a contra revolução científica".

Contraponto

Um dos principais argumentos levantados pela TDI é o de que a natureza possui uma "complexidade irredutível" que não poderia ser explicada pela teoria da evolução de Charles Darwin. Os pesquisadores do tema se debruçam, principalmente, no estudo de estruturas biológicas de base molecular, como as células.

E, ainda que muitas vezes associada ao movimento criacionista, o grupo não se propõe a comprovar empiricamente a existência de um Deus criador do universo. À luz dos achados científicos da bioquímica, a tese, no máximo, aponta falhas da teoria evolucionista, tida como consenso universal nas academias.

"A visão darwinista precisa ser revista, é necessário um contraponto. Pode até ser que [a resposta] não seja o Design Inteligente, mas, dentro de tudo o que temos, é difícil [que a teoria da evolução consiga] se sustentar da forma como está sendo posta", defende a professora e cientista Mariana Sá, da Sociedade do Design Inteligente no Brasil (SDI).

Ela afirma que há um establishment na Biologia e que contestar em qualquer nível a teoria da evolução acaba sendo considerada uma atitude "herege". "Pode ser que não seja? Sim. Mas há evidências de que talvez seja, e por que não discutir e colocar o tema sobre a mesa? Por que impedir e taxar isso de religião, de defesa do criacionismo? As pessoas que mais nos escutam são cristãs, mas dentro da academia nós não levantamos o nome de Deus, essa não é premissa do Design Inteligente".

A recente chegada de Benedito Aguiar, ex-presidente da Universidade Mackenzie, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), motivou controvérsia nas academias. Aguiar, que se diz adepto à tese do Design Inteligente, afirmou à Gazeta do Povo que defende o fomento "à pluralidade de pensamento na universidade". "Por que não abrir a discussão para participação daqueles que pensam diferente quanto à origem da vida? Que utilizam argumentos científicos no contexto do design inteligente?", disse.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie é a primeira do país a criar um núcleo de pesquisas sobre "Fé, ciência e sociedade", que estuda a teoria do Design Inteligente.

Mente genial e antevidência

O movimento pela TDI ganhou força, sobretudo, após Michael Behe, cientista e professor de Biologia na Universidade de Lehigh, reunir os achados de suas pesquisas em "A Caixa Preta de Darwin", publicado em 1996. O livro acabou se estabelecendo como um dos textos básicos e fundamentais da proposta.

"Na própria base da vida, onde as moléculas e células fazem o espetáculo, descobrimos máquinas, literalmente máquinas moleculares. Ao observarmos estas máquinas, perguntamo-nos 'de onde vieram?'. A resposta da evolução darwiniana, a meu ver, é muito inadequada", questiona Behe.

O cientista admite que a tese de Darwin explica muitas questões de nível macroscópico na natureza, não descartando de todo as propostas da evolução. No entanto, afirma que elas falham em dar luz à base molecular da vida e, na literatura científica, paira um "silêncio" total e "misterioso" sobre esse tema.

Diante de processos bioquímicos como a coagulação do sangue ou o "nado" de uma célula através de uma estrutura chamada cílio, o autor aponta para um sistema perfeitamente integrado e único, de uma complexidade irredutível, "composto de várias partes que interagem e contribuem para a função básica e no qual a remoção de qualquer uma dessas partes fará que o sistema deixe de funcionar eficientemente".

Como seria possível, então, que estruturas como essas viessem à existência de forma aleatória ou por meio da seleção natural? Segundo Behe, a explicação plausível para isso seria a interferência de um projetista, pois a evolução não é capaz de explicar diversas etapas da transformação dos seres vivos a partir de primitivos compostos orgânicos.

Sabe-se que o processo da coagulação do sangue, por exemplo, é um sistema ultracomplexo, com elementos que dependem uns dos outros, e que, quando isolados, não têm utilidade. Em sua obra, Behe compara esse processo ao efeito cascata que acontece nas máquinas de Rude Goldberg, com reações em cadeia. Só funcionam de forma útil se estiverem juntos.

''É como pegar ao acaso uma dezena de frases de uma enciclopédia e ter a vã esperança de com elas montar um parágrafo coerente", diz. "A seleção natural, o motor da evolução de Darwin, só funciona se há algo para selecionar - algo que seja útil exatamente agora, e não no futuro. [...] A evolução impediria a formação de sistemas de complexidade irredutível, como a cascata da coagulação do sangue", diz. "Mesmo que a vida tenha evoluído por meio da ação da seleção natural sobre a variação, como teria surgido, no princípio, a vida?", questiona.

Há ainda um mais recente argumento a favor do Design Inteligente, a antevidência. Segundo Marcos Eberlin, por exemplo, o universo revela que existem soluções antecipadas para possíveis problemas. Isso seria resultado de um planejamento, ele afirma. "A vida é baseada em códigos, e isso apenas emana de mentes inteligentes. A vida tem sinais claros de uma antevidência genial", diz.

Além de outros exemplos, ele cita o fato de a Terra ter uma fonte de calor como o Sol tão próxima; do contrário, viver poderia ser impossível, pois tudo congelaria. A proteção à radiação solar nociva, além disso, teria sido pensada de antemão por uma mente genial, afirma Eberlin. Seria por essa razão que o planeta possui sistemas de defesa e escudos naturais contra perigos como esse.

O pesquisador acaba de lançar o livro "Antevidência", no qual argumenta sobre o tema. Os membros da SDI devem se reunir, em maio, para discutir novos achados científicos a favor do Design Inteligente.

Críticas

Há, por outro lado, pesquisadores que contestam os argumentos levantados pelo ID, sobretudo, pelo fato de que qualquer figura divina está fora do escopo da ciência, não podendo ser testada empiricamente.

Da mesma forma, teorias como a da evolução também não poderiam provar que não há uma figura transcendente por trás do próprio processo de evolução de tudo o que existe.

"O movimento, ao meu ver, não reconhece que o DI é uma crença, que eu, particularmente, como cristão, tenho. Acredito que o universo exibe características de que foi planejado, mas vejo isso porque vejo a evidência da natureza com o 'óculos da fé cristã'. Como eu tenho uma cosmovisão cristã, eu olho para a natureza e vejo sinais de design", explica  o Dr. Tiago Garros, pesquisador em ciência e religião e coordenador do projeto THEOLAB, uma iniciativa cristã evangélica que promove eventos para discutir assuntos dessa natureza. "O problema é que os teóricos do DI dizem que é possível detectar a ação de Deus, e isso não é possível, porque é um artigo de fé, não é passível de prova científica".

Cristão, Garros é adepto ao movimento chamado de "evolução teísta" ou “criacionismo evolutivo”, que afirma que Deus criou as leis da natureza e agiu através delas na criação do mundo e dos seres vivos. "Não é porque damos uma explicação como a seleção natural que Deus fica 'desempregado'", diz. "Deus está agindo através das causas naturais que a ciência estuda. Mas eu também não tenho como provar isso, é um artigo de fé".

Segundo o pesquisador, além disso, o argumento da complexidade irredutível apresentado por Behe já teria sido refutado pelos achados atuais da ciência. "Os pontos que ele [Behe] apontou como irredutivelmente complexos, a ciência já demonstrou sua história evolutiva. A gente conhece os mecanismos e estágios pelos quais as estruturas que eles colocam como irredutivelmente complexas evoluíram", afirma. "Mas isso não quer dizer que a ciência já resolveu todos os mistérios de como as coisas surgiram".

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