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Haddad: Cespe, pertencente à Universidade de Brasília, pode assumir a responsabilidade pelo exame | Wilson Dias/ABr
Haddad: Cespe, pertencente à Universidade de Brasília, pode assumir a responsabilidade pelo exame| Foto: Wilson Dias/ABr

Entrevista com Fernando Haddad, ministro da Educação.

Brasília

"Às vezes acho que sonhei isso tu­­do", diz o ministro da Educação, Fer­­nando Haddad, aparentemente mais magro. "E o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não foi adiado." Há exatamente um mês, a prova tida como promessa para acabar com os vestibulares no Bra­sil foi cancelada depois que o jornal O Estado de S. Paulo avisou do va­­zamento das questões.

Um mês depois, qual é a sua análise sobre o vazamento do Enem?

Na minha opinião, o modelo de contratação exigido pelos órgãos de controle é inapropriado. Se tomarmos a experiência internacional, vemos isso. Na Fran­­­ça, que tem o BAC, e nos EUA, que têm o SAT (exames para ingresso nas universidades), não há licitação, são organismos ou entidades públicas ou semipúblicas que assumiram a responsabilidade pela prova.

No Brasil é necessário licitação.

É uma orientação e a lei de licitação prevê excepcionalidades. Mas os órgãos de controle insistem nesse modelo. Qual é a universidade que licita seu vestibular? Não conheço. O maior vestibular do Brasil, o da USP, tem uma fundação, a Fuvest, que há mais de 30 anos aplica o vestibular. Quando o Enem era apenas um exame avaliativo, essa questão não era tão premente. De­­pois, em 2004, passou a ser o critério de distribuição das bolsas do ProUni. Em 2006 passou a ter os resultados por escola e agora está sendo considerado como processo seletivo de universidades. Toda nossa preocupação vai para que te­­nhamos uma espécie de Fuvest dos exames do MEC.

Seria criada uma instituição?

Seria o Cespe, uma entidade pública que pertence à UnB. Já existe uma entidade pública, que assumiria uma responsabilidade de longo prazo. Teria tudo para se transformar numa espécie de braço operacional do Inep para a execução dos exames nacionais, como Prova Brasil, Enem e Enade. Esse é o modelo que nós vamos reapresentar ao Tribunal de Contas para que seja reanalisado. Temos talvez o mais robusto sistema de avaliação do mundo. E temos um calcanhar de Aquiles.

O episódio prejudica a adesão de mais universidades ao Enem?

Não creio que prejudique. Estáva­mos prevendo três anos para mi­­grar do vestibular tradicional para o novo modelo. A questão da contratação é crucial. Se nós mantivermos o modelo, temo que as pessoas possam desconfiar da segurança da prova. E como só se sabe disso depois que se aderiu ao Enem, fica difícil tomar a decisão sem saber quem vai aplicar a prova.

O senhor não tinha a percepção de que o sistema era frágil?

A partir do momento que havia só um participante da licitação, a técnica do Inep fez uma avaliação e concluiu que as empresas teriam condições de realizar. Nós temos órgãos do MEC que promovem centenas de licitações por ano. Há confiança na máquina pública. No Enem, as 12 edições foram feitas pela Cespe e Cesgranrio.

E elas não participaram da licitação dessa vez. Por quê?

Não saberia responder pela Ces­granrio porque ela retirou a proposta. Mas soube que houve uma preocupação de recursos administrativos que poderiam comprometer o cronograma da prova.

O vazamento leva à perda de confiança nas avaliações?

O vazamento se resolve com a realização da nova prova. A prova não foi realizada graças ao bom jornalismo que temos no Brasil.

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