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Louis mostra a mão sem os dedos esmagados na máquina. Ele diz não ter sido treinado para operá-la. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Louis mostra a mão sem os dedos esmagados na máquina. Ele diz não ter sido treinado para operá-la.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

O haitiano Rima Pierre Louis anda sempre com a mão esquerda metida no bolso da calça. Sente vergonha de mostrar os dedos depois de perder dois deles em um acidente na metalúrgica em que trabalha, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Na semana passada, Louis enfrentou outra situação difícil na empresa.

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Chumbinho nas pernas

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo confirmou na segunda-feira (10) que os seis haitianos feridos no centro da capital paulista no dia 1º foram alvo de balas de chumbinho. Eles foram atingidos nas pernas e não correm riscos. Uma das suspeitas é de que eles tenham sido alvos de xenofobia. Dois deles terão de passar por cirurgias para extrair estilhaços das balas. A Secretaria Estadual de Segurança informou que a Polícia Civil investiga o caso. Segundo a pasta, detalhes do caso não serão revelados para não comprometer a investigação. As informações são do Estadão Conteúdo.

O trabalhador afirma ter sido chamado de “macaco da Amazônia” por um amigo do dono da metalúrgica, que ainda o teria ameaçado de morte. O caso é investigado pela Polícia Civil como injúria racial qualificada, em concurso material com crime de ameaça. “Está sendo muito difícil pra mim. Isso não é maneira de tratar um ser humano. Eu sinto que posso ser vítima de qualquer coisa”, diz o haitiano.

Louis foi admitido na metalúrgica Aramesul/Aramital em março de 2014. Ele alega que foi posto na linha de produção sem qualquer treinamento. Logo na primeira semana de trabalho, ele operava uma máquina de trefilação, que diminui a espessura do arame, quando a luva da mão esquerda ficou presa. O haitiano sentiu um puxão e, em seguida, desmaiou de dor. O maquinário mastigou o mindinho e o anular. Louis pensou que iria morrer.

“De onde eu venho cortam os dedos de quem rouba. Então, eu tenho muita vergonha. Eu não posso voltar para lá, porque vão pensar que sou ladrão. Eu não sou mais a mesma pessoa. Minha vida acabou”, desabafa.

Depois do acidente, o Ministério do Trabalho fez uma vistoria na metalúrgica e aplicou duas multas: uma em razão de a máquina não atender às normas de segurança do trabalho e outra por falta de treinamento dos funcionários. Assim que voltou ao emprego, Louis foi colocado para operar outro equipamento, mas com a mão mutilada não conseguia realizar o serviço. Foi deslocado, então, para a limpeza.

Ameaça

Louis ingressou na Justiça do Trabalho com uma ação por causa do acidente sofrido. Só em abril, após a primeira audiência, a empresa se dispôs a deslocá-lo para trabalhar como porteiro. Foi ali, cumprindo ordens, que ele conta ter sofrido as injúrias raciais. Na tarde de 27 de julho, um amigo do dono da metalúrgica se irritou com o fato de o haitiano não ter liberado imediatamente a entrada na empresa para ele. Como de praxe, Louis interfonava ao chefe, quando percebeu que o homem havia ligado ao proprietário da empresa. Segundo o boletim de ocorrência, entre palavrões impublicáveis, o visitante teria chamado Louis de “macaco da Amazônia” e esbravejado que “iria dar um tiro na cara dele”.

No sindicato

As injúrias raciais sofridas por Rima Pierre Louis foram denunciadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC). Na última semana, a entidade promoveu uma manifestação em frente à Aramesul/Aramital. O haitiano chegou a participar do protesto e a discursar. Louis continua trabalhando na empresa. Desde a semana passada, a reportagem tenta ouvir a versão da Aramesul/Aramital, mas os funcionários que atenderam as ligações informaram que o dono da metalúrgica não se encontrava ou não podia atender. Apesar dos pedidos, ele não retornou os telefonemas.

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