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O haitiano Fetiere Sterlin, 33, que morava em Navegantes (a 78 km de Florianópolis), morreu após ser atacado por cerca de dez rapazes na noite do último sábado (17). Sterlin foi espancado com pedaços de ferro e levou dezenas de facadas no peito.

Antes das agressões, Sterlin foi chamado por alguns garotos de “macici” - homossexual em crioulo, língua nativa dos haitianos. O grupo ainda levou o celular da vítima.

Para a Associação de Haitianos de Navegantes, trata-se de um crime de ódio. “Macici é a única palavra que eles [jovens brasileiros] aprendem e começam a xingá-los”, diz João Edson Fagundes, diretor da associação. Fagundes afirma que o grupo que atacou Sterlin era composto por jovens entre 16 e 19 anos, moradores do bairro Nossa Senhora das Graças, conhecido por ser um reduto de tráfico de drogas.

Sonho Haitiano

Confira as reportagens do especial Sonho Haitiano, da Gazeta do Povo.

“Quando não tem formação humana acontece isso, tiram muito sarro. Passam pelos haitianos falando ‘e aí, macici?’ também chamam de ‘macici black’“, relata o diretor.

O Corpo de Bombeiros foi acionado por um morador que presenciou as agressões, mas, segundo o comandante Ricardo Luís da Silva, Sterlin não resistiu aos ferimentos.

O haitiano chegou em Navegantes há cerca de dois anos. A pequena cidade do litoral catarinense tem 73 mil habitantes e atrai imigrantes para o trabalho na construção naval e civil. Sterlin era isolador em uma dessas empresas. Fagundes conta que o chefe do haitiano diz ter “perdido o melhor funcionário, pontual e ético”.

Crime e preconceito

Sterlin estava com a sua companheira, a brasileira Vanessa Nery Pantoja, em uma confraternização de haitianos. A festa, segundo Fagundes, foi interrompida pela polícia por falta de alvará.

Sterlin e Vanessa voltaram ao local depois das 23h, na esperança que o evento tivesse sido retomado. Foi quando os rapazes passaram de bicicleta pelo local e passaram a ofendê-lo. “Macici são vocês”, teria respondido Sterlin. Os rapazes buscaram reforços e voltaram armados com facas e ferramentas para agredir o casal.

O haitiano morreu na ambulância dos bombeiros a caminho do hospital. No mesmo local, um dos envolvidos, um garoto de 16 anos, foi buscar atendimento e acabou detido, segundo o comandante dos bombeiros.

A reportagem não conseguiu contato com o delegado responsável pelo caso.

O diretor da associação conta que o preconceito é comum, mas casos de violência são mais raros. “Falam muito que os haitianos vieram tirar os empregos dos brasileiros, mas não é verdade. Eles preenchem vagas com salários de R$ 800 a R$ 1.200, que os brasileiros não aceitam. Com a crise, a situação piorou”, explica Fagundes.

De acordo com ele, em julho do ano passado a cidade tinha ao menos 600 haitianos. Atualmente o número caiu para 250. Os imigrantes voltaram ao Haiti ou foram para outras cidades em busca de oportunidades.

O comandante dos bombeiros lembra que, em 2014, um haitiano levou cinco tiros a mando de um traficante, mas sobreviveu e abandonou a cidade.

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