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Nos anos 80, ele ficou conhecido como herói após ter resgatado do mar 30 pessoas, que estavam no Bateau Mouche, barco que afundou em pleno réveillon, na Baía de Guanabara, a caminho da Praia de Copacabana. Passaram-se 24 anos desde a noite de 31 de dezembro de 1988. E, de novo, o pescador Jorge Souza Viana, hoje com 52 anos, se vê às voltas com uma história que lembra, e muito, o passado. Só que, desta vez, ele é a vítima. Há um mês, o barco de Jorge bateu nas pedras, em Piratininga, Niterói, com mais de dez pessoas a bordo. Todos foram salvos pela solidariedade da tripulação de outras embarcações que navegavam nas proximidades.

"Era madrugada e tivemos problemas com o motor. Tentamos tudo, mas os ventos jogaram o barco contra as pedras. Lamento muito a perda do meu barco. É com ele que sustento a minha família com a pesca", disse o pescador, que vem usando um barco emprestado para continuar seu trabalho no mar.

Todos se salvaram no naufrágio do barco de pesca, ao contrário do que aconteceu durante a tragédia do Bateu Mouche. Apesar dos esforços de Jorge e outros que ajudaram a resgatar vítimas, 55 pessoas morreram, entre elas, a atriz Yara Amaral. Jorge foi o primeiro a perceber o que acontecia com o Bateau. Ele vinha de Jurujuba, com a família, para assistir ao espetáculo de fogos, na traineira Evelyn & Maurício. Para ele, aquele final de ano é difícil de esquecer.

"Quando eu vi aquilo, eu só pensava nas pessoas que podia salvar. Algumas estavam nervosas, outras em pânico. Muita gente pedia para subir no meu barco. Eram pessoas, na água, procurando outras", conta ele, emocionado, lembrando que, ao final dos resgates, mal se aguentava em pé.

Só depois Jorge soube que aquelas pessoas que havia salvado estavam numa festa no mar para 150 convidados. O barco, superlotado, acabou virando.

"Mesmo sendo pescador, é muito difícil ficar no mar quando seu barco afunda. Foi o que eu senti quando as pedras acabaram com o meu barco. Foi uma noite difícil em Piratininga, mas, no meu caso, todos se salvaram."

Sem barco, o pescador, que tem mulher e dois filhos, passa por grande dificuldade. "O barco que peguei emprestado tem muitos problemas. Tive um prejuízo de quase R$ 600 mil. Tenho contado com o apoio dos meus amigos aqui em Jurujuba, onde vivo desde os 6 meses de idade", diz Jorge, reconhecendo que ainda precisa de toda ajuda possível para dar a volta por cima.

Jorge, que esteve ao de Ubiraci Ramos, então um jovem de 15 anos, na operação em que foram salvos os náufragos do Bateau, é modesto, afirma que fez o que qualquer um faria em seu lugar. Além de tudo, observa, faz parte da índole dos pescadores: "Qualquer pessoa teria a mesma atitude. Se você vê uma pessoa caída, vai lá para ajudar a levantar. É gratificante ouvir depois de outras pessoas que você fez alguma coisa boa."

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